São Paulo - Desde o lançamento do iPhone, em 2007, as telas sensíveis ao toque viraram mania. Multiplicam-se os celulares e as câmeras touchscreen e computadores que podem ser controlados com a ponta dos dedos. Até os netbooks abraçaram a tendência. No início de março, durante a CeBIT, na Alemanha, a fabricante taiwanesa Asus, pioneira na produção desses portáteis econômicos, mostrou um EeePC 701 adaptado à tecnologia touchscreen.
À avalanche de produtos touchscreen em Hannover que, além do Eee PC, incluiu novos navegadores GPS e e-readers e o smartphone HTC Magic seguiu-se o anúncio do "upgrade" do desktop Dell Studio One. O "all-in-one" ganhou tela sensível ao toque e software com capacidade multitouch.
Desde o ano passado, a HP comercializa no Brasil o desktop HP Touchsmart, testado nesta edição junto com outros lançamentos touchscreen. Na CES (Consumer Electronics Show), em janeiro em Las Vegas, a HP apresentou um notebook sensível ao toque, ainda não disponível no País.
A sensibilidade ao toque também é característica esperada em lançamento que a Apple deverá anunciar nesta semana: especula-se que esteja preparando um netbook multitouch, capaz de reconhecer mais de um toque ao mesmo tempo, tecnologia patenteada pela empresa de Steve Jobs.
"Temos total confiança no futuro das interfaces touchscreen, e a GPU (hardware que promete tornar mais fluida a exibição de imagens nas telas sensíveis) está no coração da mudança", afirmou Ujesh Desai, vice-presidente de Negócios com GPU da Nvidia.
Mas o que fez uma tecnologia nascida nos anos 1960 e já utilizada há décadas no comércio e nos setores bancário e de serviços se tornar algo tão atraente em pleno século 21? Por que só agora o touchscreen está chegando às mãos das pessoas? As telas sensíveis são a revolução definitiva da interface homem-máquina? O futuro está na ponta dos dedos?
A mágica da Microsoft
A resposta pode vir de Redmond, cidade do Estado de Washington escolhida por Bill Gates e outros geeks nos anos 70 para fabricar softwares. Alguns anos antes de aparecerem o iPhone e outros celulares com tela sensível ao toque, televisões para manipular com o dedo e até antes do Windows Vista ser apresentado (cuja evolução é o "tátil" Windows 7), já funcionava nos laboratórios da Microsoft um experimento que até hoje impressiona.
É uma mesa que reconhece nada menos do que toques de 52 dedos ao mesmo tempo, com um potencial de aplicação ainda pouco explorado. A Microsoft Surface (superfície, em português) é o resumo de como a empresa americana enxerga a relação entre máquinas e homens daqui em diante.
A precisão do toque é milimétrica e faz a mesa responder quase imediatamente ao comando. A superfície granulada de acrílico é coberta por cinco câmeras internas que identificam o toque do usuário e orientam o projetor de imagens a reagir ao encostar dos dedos.
Não há sensores na tela, mas câmeras esse é o segredo da tecnologia multitoque da Microsoft, desenvolvida em LED e para espaços grandes (diferente da do iPhone, desenhado em LCD e com tela de vidro). A Surface também é capaz de identificar e ler códigos instalados em qualquer objeto real (moedas, cartões de visita e bancários, copos, etc.) para possibilitar novos tipos de interação.
A ideia original dos pesquisadores Steven Batiche e Andy Wilson data de 2001 e tinha justamente a finalidade de quebrar a noção de que consumir/usar tecnologia é uma atividade solitária. Daí o experimento multitoque, construído em 2003. Quatro anos depois o público poderia ver para que serve uma mesa tecnológica.
Já há 120 parceiros da Microsoft desenvolvendo aplicativos para a mesa, além de dois grandes acordos comerciais: algumas lojas da operadora de celular AT&T e unidades dos hotéis Sheraton usam a Surface para vender itens e diversificar os serviços para clientes. O projeto da Microsoft é liberar a venda para o usuário final em 2010. Hoje, a mesa multitoque custa US$ 12,5 mil (cerca de R$ 28 mil).