As ações ON da Visanet estrearam bem ontem na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). A empresa fez, na sexta-feira, a maior oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês usada no mercado) já realizada no país, levantando ao todo R$ 8,39 bilhões. Em seu primeiro pregão, os papéis valorizaram-se em 11,8% desempenho bem melhor do que o do índice Ibovespa, que subiu 1,27%. A operação foi acompanhada de perto por todos os investidores. Mesmo quem não estava interessado nos papéis da empresa queria saber o que aconteceria, porque o lançamento é tido como um termômetro para a retomada da bolsa. Os resultados foram satisfatórios, mas os observadores são cautelosos em apontar uma tendência firme de recuperação.
"Não se pode confundir o bom desempenho dos papéis da Visanet com a movimentação da bolsa em geral", diz Leonardo Boguszeski, analista de ações do Paraná Banco. Para ele, este é um movimento à parte do restante do mercado, provocado em grande parte pela forte demanda dos estrangeiros. De fato, o IPO da Visanet foi o maior que aconteceu este ano em todo o mundo. O fato de o mercado de cartões de crédito no Brasil continuar crescendo, mesmo sob crise, foi um atrativo que chamou a atenção de investidores internacionais.
Além disso, a conjuntura internacional favorece o Brasil. "Houve um movimento de melhora no curto prazo, provocado pela volta de investimentos externos à bolsa brasileira e de outros países emergentes", opina Domingos Rodrigues Pandeló Junior, professor da Fundação Getúlio Vargas. A continuidade desse movimento depende de fatores que estão fora da bolsa muitos deles dependem do governo federal. "Não sei se veio para ficar porque ainda há muitos problemas no médio prazo", diz. "Houve um aumento muito grande nos custos públicos. Muitos recursos foram aplicados para conter a crise. Isso foi importante, mas tem um preço e ele vai ser cobrado." Pandeló Junior acredita que, pelo menos até 2010, vamos passar por um período de ajustes. É possível, por exemplo, que os países mais ricos aumentem suas taxas de juros, por conta dos sinais inflacionários. Isso tornaria os títulos públicos norte-americanos mais atraentes, tirando recursos da bolsa não só lá como aqui.
Concorrência
O valor da emissão da Visanet atingiu o teto da estimativa feita pela empresa, e o montante de ações ofertado pela VisaNet inclui o exercício parcial de um lote adicional. Nem mesmo a exclusão de 19 corretoras no último dia de reserva das ações, na semana passada, conteve o apetite do pequeno investidor pelos papéis da maior administradora de cartões do país. Inicialmente, profissionais do mercado avaliaram que o incidente teria deixado grande parte do varejo fora da oferta, apesar de o período de reserva dos papéis ter sido estendido por mais um dia. Como a oferta pública inicial é secundária, todo o dinheiro levantado será destinado aos acionistas vendedores, entre eles Bradesco, Banco do Brasil, Santander e Visa International.
Já a ação ON da Redecard principal concorrente da Visanet no mercado nacional de cartões amarga a maior perda dentro do Ibovespa, recuando 3,24%, para R$ 31,35. O economista Felipe Casotti, da Máxima Asset Management, acredita que o papel da Visanet influencia o da Redecard por se tratar de concorrentes diretos. Mas ele destaca que o ativo da Redecard acumulou alta de cerca de 10% nos últimos três pregões e, portanto, parte da desvalorização de ontem deve-se a um ajuste natural de preço. Casotti afirma que o valor de R$ 15,00 fixado para o papel da Visanet no IPO estava abaixo do potencial da ação, considerando o valor de mercado da empresa. "O grande porte da VisaNet garante muita liquidez para o papel, o que atrai o investidor estrangeiro", acrescenta.