O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que o governo federal está finalizando os estudos que resultarão em uma "redução importante" das despesas. Estão no foco desses ajustes um corte em benefícios como o seguro-desemprego, auxílio-doença e abono salarial, que tiveram crescimento acelerado nos últimos anos. Os cortes também envolverão a redução de subsídios financeiros, se o ciclo de crescimento econômico for retomado.
Segundo o ministro, o BNDES está entre os alvos. "[A redução de despesas] significa dar um subsídio menor nos empréstimos que são feitos, por exemplo, no BNDES", afirmou. O banco estatal tem uma série de programas de financiamento com juros abaixo da taxa Selic, incluindo a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), e vem recebendo injeções de recursos do Tesouro Nacional.
Falando a jornalistas depois de fazer uma apresentação em evento em São Paulo, o ministro disse que o papel dos bancos públicos no crédito é "fundamentalmente" anticíclico e lembrou que na fase mais aguda da crise financeira internacional, o crédito privado secou e foi preciso que os bancos públicos assumissem um protagonismo.
"O papel dos bancos públicos é anticíclico. Quando faltou crédito no Brasil durante 2008 e 2009, os bancos públicos saíram a campo com mais crédito e taxas de juros menores. Depois, em 2009 e 2010, os privados reagiram, recompondo o equilíbrio anterior. Nos últimos anos, voltou a diminuir o crédito. A estratégia não é fazer com que os bancos públicos tenham mais crédito que os privados. Apenas é uma estratégia anticíclica", explicou.
Segundo ele, governo tem que caminhar para um aumento gradual do superávit primário. "A estratégia macroeconômica para iniciarmos esse novo ciclo de expansão é um ajuste tanto da política fiscal quanto da política monetária", disse. "Do ponto de vista da política fiscal temos que caminhar para um aumento gradual do primário, em relação ao resultado de 2014. Para isso nós temos agora que fazer uma redução das despesas, uma redução importante das despesas."
Os comentários do ministro ocorrem em um quadro de profunda deterioração das contas públicas, com déficit primário recorde em setembro. O governo precisa revisar sua meta de superávit primário para este ano e deve fazer o mesmo para 2015.