As exportações de etanol do Brasil deverão cair na temporada 2010/11 (abril/março) para o menor nível desde 2003/04, previu nesta quarta-feira a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), que representa as indústrias do centro-sul.
As exportações de etanol da região centro-sul, que responde por cerca de 90 por cento da produção de cana do Brasil, estão estimadas pela entidade em 1,8 bilhão de litros na nova safra, contra 2,75 bilhões em 2009/10, temporada encerrada oficialmente nesta quarta-feira.
Em 2008/09, as exportações do país somaram mais de 4,5 bilhões de litros, enquanto que em 2003/04 atingiram apenas cerca de 1 bilhão de litros.
Segundo a Unica, a menor projeção dos últimos sete anos para as exportações de etanol foi feita em função de uma paridade desfavorável para vendas externas, em meio a um câmbio que dificulta os negócios.
"O que pode mudar isso é a abertura, uma bolha de mercado nos Estados Unidos, muito mais pelo movimento de preços -- preços melhores nos EUA e menores no Brasil", afirmou o diretor técnico da Unica, Antonio de Pádua Rodrigues, em entrevista a jornalistas.
Mas, por ora, as previsões da associação são pouco otimistas.
A entidade prevê queda nas exportações para os EUA, que em 09/10 importaram pouco mais de 1 bilhão de litros, e redução nas vendas para a Índia, que importou 365 milhões de litros na safra que se encerra nesta quarta-feira.
"A Índia foi um importante mercado para o etanol. Voltando a produzir açúcar na Índia, aumenta a oferta do melaço, e eles voltam a ter produção (de etanol), o que reduz as exportações para a Índia", afirmou Pádua.
Para a União Europeia e Ásia (Japão e Coreia), que importaram juntas mais de 1,3 bilhão de litros em 09/10, a expectativa é de exportações estáveis.
De acordo com o presidente da Unica, Marcos Jank, as vendas para os EUA continuam esbarrando em tarifa de 0,54 dólar por galão, embora a EPA (agência norte-americana de proteção ambiental) tenha considerado o biocombustível brasileiro como avançado.
"Hoje o etanol só entra (nos EUA) pelo Caribe (que conta com isenção tarifária), é muito difícil entrar direto. Se houvesse a queda da tarifa, esse volume poderia crescer", afirmou Jank, acrescentando ainda que um preço mais alto do petróleo também poderia ajudar nas vendas externas do etanol do Brasil.
MERCADO INTERNO
Por outro lado, a Unica prevê um mercado interno forte, e estimou nesta quarta-feira aumento na produção de etanol hidratado (usado nos veículos flex) para 20,1 bilhões de litros em 2010/11, ante 17,46 bilhões registrados na safra anterior.
O volume de etanol anidro (misturado à gasolina) produzido no centro-sul também crescerá, de 6,2 bilhões de litros para 7,2 bilhões de litros.
Segundo a entidade, com a redução da exportação e o aumento na produção , haverá um incremento de 4,5 bilhões de litros de etanol na oferta para o mercado interno, suficiente para atender à demanda doméstica, que cresce fortemente com o aumento da frota flex.
"Em março de 2011, a frota flex deve chegar a 50 por cento", disse Pádua, ressaltando que seria um aumento expressivo em relação aos atuais 41 por cento.
Cerca de 90 por cento dos carros novos vendidos no Brasil são bicombustíveis.
A Unica prevê que o setor terá condições de ofertar 2,13 bilhões de litros ao mês de etanol em 10/11, contra 1,83 bilhão de litros em 09/10.
Mas os executivos da entidade dizem ser muito difícil falar em tendência de preços para 10/11, que após começarem a safra 09/10 em forte baixa dispararam na entressafra, obrigando o governo a reduzir de 25 para 20 por cento a mistura de anidro na gasolina.
A propósito, a Unica defenderá junto ao governo uma antecipação da volta da mistura de 25 por cento, prevista para voltar a vigorar em 1o de maio.
"Se o governo quiser antecipar, existe produto disponível. Se não tivesse oferta, o preço do produto não teria caído", disse Pádua, lembrando que o assunto será discutido no dia 6 de abril, na ANP (Agência Nacional de Petróleo, Biocombustíveis e Gás Natural).