Vistos de longe, os jardins verdes e os prédios modernos, rodeados por lanchonetes e jovens na faixa dos 25 anos, parecem compor a paisagem de um campus universitário. O que diferencia o cenário de um ambiente acadêmico são as logomarcas de multinacionais que estampam os cantos dos edifícios e dão uma mostra da diversidade de empresas da Zonamerica, a primeira zona franca privada do Uruguai, em operação há 25 anos. O empreendimento, resultado da lei que implantou no final da década de 1980 o regime de isenções totais de impostos no país, está em busca de empresários brasileiros para incrementar sua carteira de clientes, ao mesmo tempo em que prepara o início da construção de um centro em Cali, na Colômbia, país que possui legislação semelhante.
O regime uruguaio de zonas francas, adotado como uma forma de alavancar a economia do país no período pós-ditadura, permite que empresas se instalem em uma área privada e recebam isenção de impostos sobre a renda e patrimônio, além de permanecerem isentas de todos os impostos e taxas aduaneiras e poderem repatriar 100% do capital e dos lucros. O local é administrado por um ente privado, que recebe a concessão mediante análise do poder público e fica responsável pela administração da zona franca e serviços prestados às empresas estas empresas não podem prestar serviços ou vender produtos para o Uruguai.
A Zonamerica, fundada pelo empresário uruguaio Orlando Dovat, ganhou uma concessão de 50 anos, que vale até 2040. O espaço, a 16 quilômetros do centro de Montevidéu, recebe 350 empresas que reúnem cerca de 10 mil funcionários, nos segmentos de logística e distribuição e serviços globais. Cerca de 80% são multinacionais estrangeiras, como Trafigura, PwC, Merck, Citibank, Deloitte e Sabre esta última, que presta serviços de call center para a American Airlines, é a maior empregadora da Zonamerica, com 100 funcionários. Pela legislação uruguaia, as empresas de fora do país podem contratar até 25% de pessoal estrangeiro, isento de contribuições à previdência local.
Aposta no Brasil
O modelo se estendeu pelo Uruguai nos últimos anos. Atualmente, há 12 zonas francas privadas no país, sendo a Zonamerica a maior, com 28 prédios e 92 hectares de área, e a mais antiga, respondendo sozinha por 1,5% do PIB nacional. Apesar da proximidade com o Brasil, não há nenhuma empresa tupiniquim instalada no local o empreendimento tem um representante atuando no país e tem participado de eventos para tentar chamar a atenção de empresários brasileiros. A expectativa é que a vinda de uma primeira empresa brasileira possa fomentar a chegada de outras, no mesmo movimento observado na área financeira, com a chegada da Merrill Lynch em 1998 hoje, 60 empresas do setor financeiro estão instaladas ali.
"Estamos mirando nas empresas brasileiras que têm filiais fora do país e podem centralizar serviços em um único local. E neste processo precisamos comunicar melhor a história do Uruguai e o regime de zona franca", afirma o CEO da Zonamerica, Jaime Miller.
Lei impede que haja mudanças no regime
A segurança jurídica é vista por empresários e administradores das zonas francas como um dos trunfos do regime uruguaio criado há quase 30 anos. A própria lei que implantou o sistema impede que o governo altere regras durante o período de vigência do contrato das empresas. Ocorrendo alguma mudança na lei, os empresários que atuam nas zonas francas precisam ser ressarcidos financeiramente o que geraria um efeito em cascata pesado demais para os cofres públicos.
Desde a implantação do regime de zonas francas, a legislação permanece inalterada, mesmo com o revezamento de partidos políticos no comando do país. "Um dos ativos importantes do Uruguai para atrair empresas é a estabilidade. Ocorrem mudanças, mas em geral elas são poucos relevantes ou anunciadas com antecedência, para que o empresário possa se preparar", reforça o diretor da empresa de auditoria PwC no Uruguai, Eduardo Rodríguez.
Com uma população pequena que manteve-se quase inalterada na última década e que gira hoje em cerca de 3,4 milhões de habitantes, o governo uruguaio tem se esforçado para vender a imagem de um país aberto a estrangeiros e com mão de obra disponível. Uma lei aprovada ano passado permite que pessoas nascidas nos países do Mercosul, além de Chile, Peru, Equador Colômbia e Bolívia, consigam residência permanente no Uruguai em menos de um mês.
A agência de promoção de exportações e investimentos do país, Uruguai 21, também tem uma série de medidas voltadas para facilitar o acesso de multinacionais a pessoal qualificado. O órgão subsidia até 70% dos custos das empresas em qualificação de profissionais, promovendo treinamentos para áreas específicas conforme a necessidade dos empresários. Já foram aplicados cerca de US$ 500 mil no programa, que até o momento atendeu 60 projetos. O Uruguai 21 também criou recentemente uma plataforma online onde qualquer pessoa pode inscrever seu currículo.
"Estamos nos posicionando como um destino de alta qualidade e custo competitivo. O setor de serviços é importante para diversificar nossas exportações e gerar empregos de alto nível, além de ser mais resistente às crises", afirma o gerente do Uruguai 21, Alejandro Ferrari.