Multimídia| Foto: Reprodução/Globo

O Brasil não precisava de tanta energia quando surgiu a idéia de se construir uma gigantesca hidrelétrica no Rio Paraná. A demanda do Paraguai, por sua vez, nunca superou 5% da produção de Itaipu. Mas a intenção da ditadura militar de mostrar ao mundo o gigantismo brasileiro e um pouco conhecido conflito de fronteiras entre os dois países pesaram mais na definição de qual dos possíveis aproveitamentos hidrelétricos do rio seria escolhido.

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"Havia um impasse entre brasileiros e paraguaios em relação às terras do extremo oeste do Paraná e do leste do Paraguai. E a construção de uma hidrelétrica, que alagou quase toda a área em disputa, acabou evitando um conflito diplomático. Como a água é indivisível, a região passou a pertencer aos dois", conta o diretor brasileiro da Itaipu Binacional, Jorge Samek.

Quando Emílio Garrastazu Médici e Alfredo Stroessner, os generais que presidiam o Brasil e o Paraguai, assinaram o Tratado de Itaipu, em 26 de abril de 1973, puseram um ponto final na questão territorial e autorizaram a construção de uma usina sem a qual os brasileiros estariam há muito mais tempo acostumados à idéia de um apagão energético. As assinaturas de ambos, ponto de partida para a construção da maior hidrelétrica do planeta, não apenas transformaram a geografia da região. Mudaram, também, o futuro de centenas de milhares de brasileiros.

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A empresa Itaipu Binacional foi constituída pouco mais de um ano depois, em 17 de maio de 1974, e as obras começaram em janeiro de 1975. Começaram, então, escavações de terra e rocha de volume equivalente a 3,5 morros como o Pão de Açúcar. O leito do Rio Paraná, com 400 metros de largura e 100 metros de profundidade, foi transformado em uma barragem de 7,7 quilômetros de extensão e quase 200 metros de altura. No pico das obras, entre 1978 e 1982, cerca de 40 mil brasileiros e paraguaios trabalharam no local, num ritmo equivalente à construção de um prédio de 20 andares por hora, usando concreto correspondente à de 210 estádios como o Maracanã e uma quantidade de ferro e aço suficiente para erguer 380 torres como a Eiffel.

Reunindo tantos operários ao mesmo tempo, a cidade de Foz do Iguaçu sofreu um impacto social e econômico poucas vezes visto. Em menos de cinco anos, a população saltou de 35 mil para mais de 130 mil habitantes, entre operários, engenheiros, suas famílias e uma multidão que queria aproveitar a esperada onda de desenvolvimento provocada por Itaipu. A hidrelétrica trouxe consigo hospitais, escolas e três vilas para os funcionários, estrutura que passaria a ser conhecida como "República de Itaipu", e boa parte da rede hoteleira da cidade surgiu na esteira da construção da usina – e não tanto devido às Cataratas do Iguaçu, como se costuma pensar.

No entanto, a usina provocou efeitos colaterais. De imediato, se avolumaram os problemas sociais causados pela explosão demográfica de Foz. Na seqüência, a partir de 13 de outubro de 1982, quando a barragem foi fechada e as águas do Paraná começaram a subir, os habitantes do entorno dos 1.350 quilômetros quadrados do lago que estava se formando finalmente começaram a acreditar que boa parte de suas terras ficaria debaixo d’água. Demoraram exatos 14 dias para ser inteiramente convencidos.

Estima-se que algo entre 40 mil e 50 mil pessoas tenham sido desalojadas, a maioria agricultores, muitos dos quais não receberam até hoje a indenização. Como os acertos finais eram feitos individualmente, outros tantos acabaram aceitando menos do que o valor real de suas terras, e quem não adquiriu rapidamente novas áreas viu o dinheiro ser corroído pela inflação.A migração de produtores paranaenses deu impulso considerável à ocupação agrícola da Região Centro-Oeste, onde as terras eram muito mais baratas. Ironicamente, foi por causa da água do lago de Itaipu que surgiram movimentos de agricultores desalojados que dariam origem, em 1984, ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). Nesse mesmo ano, em 5 de maio, a primeira turbina da hidrelétrica começava a funcionar. (FJ)

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