O grave acidente nuclear em que o Japão está sumerso trouxe dúvidas quanto à segurança das usinas nucleares em todo o mundo. Protestos foram registrados no país asiático e também em grandes consumidores de energia nuclear no continente europeu, como a Alemanha. Mas, apesar das manifestações, especialistas acreditam que as críticas não farão com que os governos abandonem seus programas nucleares, mas sim revejam os conceitos sobre a manutenção das usinas. Eles estimam ainda que novos mecanismos de segurança poderiam encarecer ainda mais o processo de construção de usinas nucleares, o que faria com que novas matrizes energéticas ganhassem força em vários países.
De imediato, caso as nações revejam seus programas nucleares e decidam pelo fechamento de algumas usinas, as termelétricas a carvão, gás e óleo combustível devem ganhar força o Japão atualmente está importando gás natural da Rússia para suprir sua demanda por energia.
No longo prazo, porém, novas fontes renováveis podem ganhar mercado em todo o mundo, ainda mais com as metas ousadas que vários países desenvolvidos estabeleceram para limpar suas matrizes energéticas. Tanto os Estados Unidos como a Europa têm planos de aumentar a participação da energia renovável em seu consumo, em níveis expressivos, ainda nesta década. Até 2017, a meta dos Estados Unidos é de atingir um consumo anual de 132,5 bilhões de litros de etanol. Na Europa, o objetivo é chegar a 2020 com 20% de sua energia vinda de fontes renováveis.
Transição lenta
Entretanto, especialistas alertam que uma eventual transição para a energia limpa não será radical. "Não vejo alternativas para o Japão, agora, a não ser a queima de petróleo e gás, já que as termelétricas são mais rápidas de se colocar em funcionamento. Mesmo assim, não vejo ainda países como Alemanha, França e Rússia abandonando a energia nuclear", analisa Renato Creppe, engenheiro eletricista e membro da coordenação do curso Eficiência e Qualidade de Energia Elétrica da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Se é que vai ocorrer, a troca das usinas nucleares por outras fontes deve demorar, tendo em vista os ambiciosos projetos de vários países detentores da tecnologia de enriquecimento do urânio. A França, por exemplo, que tem 75% da sua matriz energética baseada nas suas 58 usinas nucleares, espera construir outras três no longo prazo. O Japão possui 55 usinas em todo o país e o programa nuclear inclui outras 14 até 2030 na semana passada, porém, o primeiro-ministro japonês, Naoto Kan, informou que pode rever os planos e abandonar a construção de novas plantas.
São os países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) os grandes protagonistas no aumento da produção de energia nuclear no mundo (veja gráfico nesta página). Até 2030, a China, por exemplo, deve gerar 18 vezes mais eletricidade de fonte nuclear do que hoje. Na Índia, o crescimento é quase tão expressivo quanto o chinês (14 vezes).
Equilíbrio
O desafio é equilibrar o desenvolvimento de energias renováveis com a necessidade de garantir a segurança energética. De acordo com especialistas, as nações precisam usar a maioria das fontes possíveis, de forma a se resguardar de imprevistos.
"Qualquer país precisa ter sua matriz de produção com várias alternativas e por isso é necessário que se invista em todas as tecnologias. O grande problema em relação à energia é o armazenamento", pontua o coordenador do curso de Física da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Edival de Morais. "Petróleo e carvão, por exemplo, se transporta. Energia vinda das hidrelétricas só pode ser levada a países vizinhos. Energia solar e eólica não se estoca. Além disso, elas são paliativas, já que o grosso da energia vem de outras matrizes."