As empresas que têm gastos com frete poderiam fazer uma economia de US$ 70 bilhões (cerca de R$ 135,8 bilhões) no período de 15 anos se o transporte ferroviário e a navegação de cabotagem tivessem participação maior no transporte de cargas. O Consórcio do Corredor Atlântico do Mercosul, no Rio de Janeiro, fez uma simulação em que diminuiria a participação das rodovias em cerca de 29%, duplicaria a participação das ferrovias e triplicaria a da navegação de cabotagem no prazo de dez anos.
O engenheiro civil Paulo Vivacqua, presidente da entidade, aponta outros resultados positivos, como o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em US$ 100 bilhões no período e o incremento na arrecadação de impostos, que seria de US$ 40 bilhões. Além disso, o governo gastaria 30% menos em manutenção das rodovias e a economia de energia seria equivalente ao que gera a Usina de Itaipu no ano, multiplicado por três. "Ainda seriam criados 2,5 mil empregos", completa o engenheiro. Vivacqua participou ontem, em Curitiba, da terceira edição do Ciclo de Debates Cenário Brasil promovido pela Gazeta do Povo, Instituto de Engenharia do Paraná (IEP) e Universidade Federal do Paraná. O tema foi "Aeroportos e Ferrovias O Brasil no ar e fora dos trilhos".
De acordo com o engenheiro, o investimento público necessário, em dez anos, seria de US$ 18 bilhões. Segundo Vivacqua, esta mudança desenvolveria, principalmente, as cidades do interior ele lembra que há 170 milhões de hectares a serem cultivados no interior do Brasil. O único ponto negativo, aponta, é que no momento de avançar para o interior é preciso adotar uma política ambiental eficiente para evitar prejuízos ao meio ambiente.
Favorecimento
Atualmente, 70% do transporte de cargas no Brasil é feito por rodovias, 20% por ferrovias e o restante está dividido entre o transporte hidroviário, além de dutovias e carga aérea. O engenheiro explica que esta situação existe no Brasil há 30 ou 40 anos. "Ela foi produzida por um favorecimento do desenvolvimento do transporte rodoviário que, com o crescimento da indústria automobilística, ganhou grande força econômica e política." O resultado desta situação é que o custo do transporte no Brasil é duas vezes maior que o de países desenvolvidos.
Vivacqua explica que para ampliar a participação das ferrovias no transporte de cargas é preciso completar a ferrovia NorteSul entre Belém, Rio e São Paulo; completar a Ferronorte até o Acre e em direção ao Pacífico via Norte do Peru; recuperar a ferrovia entre Santos e Antofagasta (Chile); conectar Paranaguá a Dourados e Campo Grande (MS); e construir a ligação entre Recife (PE) e Estreito (TO).
Para que esta mudança ocorra, as entidades envolvidas estão "movimentando a agroindústria, que tem peso e sofre com os custos elevados, para que ela se interesse e apadrinhe a causa."