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Lá atrás

Entre as 12 maiores economias, a brasileira é apenas a 10ª em eficiência energética, segundo ranking do Conselho Americano para uma Economia Eficiente em Energia. O país obteve 41 pontos, de 100 possíveis.

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Mais preocupado em construir grandes usinas e linhas de transmissão, o Brasil tem deixado em segundo plano um instrumento muito eficaz para assegurar o abastecimento de eletricidade no longo prazo: a eficiência energética.

Veja o infográfico sobre o consumo de energia

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Os programas oficiais contribuem para uma economia que não chega a 2% do consumo anual. Mas dá para fazer bem mais: estimativas indicam que há espaço para alcançar algo entre 10% e 15%.

Os benefícios da eficiência são consideráveis. Ao aproveitar melhor a energia disponível, a sociedade diminui a necessidade de novas usinas e linhões, evitando impactos sociais e ambientais e, claro, poupando dinheiro.

Se reduzir o consumo em 10%, por exemplo, o país poderá dispensar ou postergar a implantação de quase 11 mil megawatts (MW) em centrais geradoras – praticamente uma usina de Belo Monte. Assim, adiaria investimentos da ordem de R$ 37 bilhões. Caso a queda na demanda chegue a 15%, ficariam para depois 16 mil MW em usinas e um desembolso estimado em R$ 55 bilhões, valor equivalente ao PIB de Curitiba (veja mais em quadro nesta página).

Timidez

"A lógica é simples. É mais barato trocar equipamentos ineficientes por outros mais econômicos do que construir usinas para atender a um consumo ineficiente", diz Jayme Buarque de Hollanda, diretor do Instituto Nacional de Eficiência Energética (Inee).

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Aparentemente, o governo federal não pensa assim. O combate ao desperdício exige amplas campanhas de conscientização e uma política robusta de financiamento e estímulo à troca de equipamentos, em especial na indústria. Mas as poucas iniciativas existentes são muito tímidas, avaliam especialistas. E propostas mais ambiciosas – como as do Plano Nacional de Eficiência Energética (Pnef), em gestação há alguns anos no Ministério de Minas e Energia – demoram a ser implantadas.

"Talvez exista, em Brasília, a impressão de que falar em eficiência fará as pessoas pensarem em racionamento", avalia Luiz Augusto Horta, do Centro de Excelência em Eficiência Energética da Universidade Federal de Itajubá (Excen/Uni­fei). O governo, lembra ele, estabeleceu a meta de alcançar em 2030 uma economia equivalente a 10% do consumo – 5% com "progresso induzido" e 5% com evolução tecnológica. "Não chegaremos a isso se continuarmos inertes", diz.

OBSTÁCULOSem mudança cultural, queda na tarifa tende a incentivar desperdício

Como dispõe de fontes de energia variadas e abundantes, o Brasil se acostumou a desperdiçar eletricidade. Sem uma mudança cultural, induzida por campanhas duradouras e abrangentes, a recente redução das tarifas tende a ser mais um incentivo ao esbanjamento.

"Se você baixa o preço sem promover o uso eficiente, está estimulando o desperdício", afirma José Starosta, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco).

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Os custos de obtenção da energia – econômicos, ambientais e sociais – precisam ficar claros para o consumidor, avalia Renato Creppe, professor de Engenharia Elétrica da Unesp: "Sem educação, não há eficiência. A sociedade tem de saber que a energia é um bem obtido a muito custo".

Retrocesso

O Brasil já abrigou um grande e bem-sucedido processo de eficiência energética: o racionamento de 2001, que obrigou as famílias a buscar aparelhos mais eficientes e mudar hábitos. "A mudança de comportamento do consumidor ajudou a adiar investimentos de uns R$ 20 bilhões em geração", lembra Jayme Buarque de Hollanda, diretor do Inee.

A lástima, diz Hollanda, é que o esforço se esvaiu nos anos seguintes: "Além de abandonar a promoção do uso racional, o governo puniu o consumidor. Reajustou tarifas para compensar a queda das receitas das companhias elétricas, ignorando que elas tiveram ganhos ao adiar investimentos".

Desvirtuado, programa oficial poupa só 0,2%

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Instituído em 1998, o Pro­­grama de Eficiência Ener­­gética (PEE) ganhou nos últimos anos contornos de política social, o que limita seu alcance.

Coordenado pela Aneel, reguladora do setor elétrico, o PEE obriga as distribuidoras a investir 0,5% de sua receita operacional líquida na promoção da eficiência energética. Há várias formas de fazer isso: com programas de educação, troca de lâmpadas, substituição de equipamentos obsoletos na indústria, e por aí vai.

Mas, por determinação do governo, desde 2010 pelo menos 60% dos recursos têm de ser direcionados à população de baixa renda, que responde por menos de 4% do consumo nacional de eletricidade.

O resultado não surpreende: embora o PEE tenha recebido R$ 3,4 bilhões nos últimos cinco anos, sua contribuição para a economia de energia não chega a 0,2% da demanda. Com orçamento bem mais modesto (R$ 96 milhões em 2011), o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel) ajuda a poupar 1,5% do consumo anual.

Novo sistema reduz conta de luz em até 10%

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Ter em casa um sistema "inteligente" de tomadas e medidor de consumo pode ajudar uma família economizar entre 8% e 10% na conta de luz. A tecnologia está sendo testada por algumas concessionárias.

Dois centros de pesquisa do Paraná, o Tecpar e o Lac­­tec, participam de iniciativas do gênero. O Tecpar colabora com um projeto-piloto que a Copel vai implantar na Grande Curitiba. E o Lactec ajudou a desenvolver o sistema que a Light testa desde 2012 no Rio de Janeiro.

Segundo o pesquisador Alexandre Aoki, do Lactec, uma das vantagens do medidor inteligente é o fato de que, ao informar o consumo em tempo real, permite ao cliente controlar o gasto e evitar desperdícios. E, com as tomadas inteligentes, o consumidor autoriza a concessionária a cortar o fornecimento de energia de alguns aparelhos em determinados horários – em especial entre 18 e 21 horas.

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