Impulsionada por uma corrida das operadoras de telefonia para aumentar a cobertura e também pela disponibilidade em celulares mais baratos, a conexão 4G tem se tornado cada dia mais comum entre os brasileiros – de maio de 2015 até o mesmo mês deste ano, o número de linhas com a tecnologia aumentou mais de 200%, chegando a 37 milhões de acessos. O que não significa, por outro lado, que todos os usuários estejam de fato garantindo uma melhor experiência na hora de navegar na internet: estudo recém-divulgado da consultoria Open Signal mostra que o 4G no Brasil só fica disponível, em média, metade do tempo.
A pesquisa da empresa traz à tona os entraves para o real aproveitamento da rede de alta velocidade no país, que ainda usa a frequência de 2,5 GHz, de alcance mais curto e mais suscetível a ser bloqueada por obstáculos no caminho, como prédios. Conforme o levantamento, feito durante fevereiro e abril deste ano, os usuários brasileiros que detém planos e celulares habilitados para a tecnologia se conectam de fato ao 4G em apenas 53% do tempo. O que não quer dizer que ficam sem acesso à internet – nestas situações, a conexão é “rebaixada” para uma rede inferior, como o 3G.
A cobertura deficitária acaba comprometendo justamente o maior apelo do 4G, que é a velocidade de navegação. O mesmo estudo da Open Signal mostra que velocidade média da internet móvel no país, que no 4G varia de 18.57 Mbps a 8 Mbps dependendo da operadora (veja infográfico), cai para algo entre 2.43 Mbps e 1.11 Mbps no caso do 3G.
“Se as operadoras brasileiras estão expandindo suas redes, estão fazendo isso no seu próprio tempo. O 4G não é novidade no país – a primeira rede com a tecnologia surgiu em 2012, pela Claro –, mas está posicionado bem abaixo em termos de disponibilidade em comparações com outros países da América do Sul e do mundo”, afirma o relatório da Open Signal.
Atraso na transição
Por outro lado, culpar somente as operadoras pode ser injusto. No último ano, o número de municípios com cobertura 4G triplicou, passando de 172 para 560. O que mostra que os problemas de disponibilidade estão mesmo mais relacionados à infraestrutura deficitária e à frequência utilizada. A faixa de 700 MHz, com alcance mais amplo e utilizada nos Estados Unidos, por exemplo, ainda não começou a ser usada por aqui devido aos atrasos na transição para o sinal digital de TV – a faixa foi leiloada para as operadoras ainda em 2014, mas segue sendo ocupada pelas emissoras para a transmissão do sinal analógico.
Em Curitiba, a previsão inicial era que a faixa de 700 MHz fosse desocupada em junho de 2017, mas o prazo passou para janeiro de 2018. A frequência só poderá ser utilizada para o 4G meses depois, já que é preciso haver um período de transição. “Até a frequência de 700 MHz estar totalmente liberada, em 2019, é possível que o 5G já esteja aí. As operadoras estão correndo um risco muito grande de fazer investimentos que não serão tão aproveitados por questão de tempo, por conta dessa curva tecnológica que é cada vez mais estreita”, afirma o diretor de operações da consultoria C&M, Leandro Motta.