De setembro para cá, o dólar comercial saiu da casa dos R$ 2,20, escalou até chegar perto de R$ 3,30 e, nos últimos dias, foi negociado por pouco menos de R$ 3,10. Mesmo com a recente baixa, uma valorização de quase 40% em sete meses não é de se desprezar. Mas a esperada recuperação das exportações brasileiras pode não ocorrer tão cedo.
A alta do câmbio joga a favor do exportador, pois lhe permite reduzir preços em dólar e ficar mais competitivo lá fora sem sacrificar a rentabilidade. Mas, na maioria dos casos, as vendas não reagem imediatamente. Além disso, a demanda internacional não está tão aquecida, o que dificulta a missão de quem tenta recuperar a clientela perdida nos últimos anos. Por fim, o próprio vaivém do dólar nas últimas semanas atrapalha a assinatura de contratos. Sem mais clareza sobre o patamar em que a cotação vai se estabilizar – se é que vai –, exportadores e importadores resistem em fechar negócio.
“O cenário externo não é de crise radical, mas a demanda de fato não está muito aquecida, especialmente a dos nossos principais clientes, como a China, Estados Unidos e Argentina”, observa o economista Marcelo Curado, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR). “O empresário já está inseguro quanto à demanda, quanto aos preços que o concorrente vai praticar. A instabilidade do câmbio é uma incerteza a mais”, diz.
“A oscilação do dólar é o que mais nos preocupa”, conta Jaqueline Cuerda Monzoni, coordenadora de comércio exterior da fabricante de móveis Moval. A empresa, que tem fábrica em Arapongas (Norte do Paraná), exporta cerca de 10% da produção para países da América do Sul e Central e da África. “Os contratos que fechamos com os bancos são de dois ou três meses, com base em determinada cotação da moeda. Mas os clientes querem fechar negócio conforme o câmbio do dia, e essa não é nossa política”, diz Jaqueline.
Uma evidência de que o dólar mais caro não faz milagre está nas estatísticas de exportação. No primeiro trimestre deste ano, a taxa média de câmbio ficou em R$ 2,87, 21% acima da média dos três primeiros meses de 2014 (R$ 2,37). Ainda assim, nessa mesma comparação as receitas de exportação brasileiras caíram 14% e as paranaenses, 19%.
Prazo longo
“É muito cedo para a desvalorização do real se refletir na balança comercial, porque os contratos são fechados com antecedência. Uma reação mais consistente pode demorar em torno de dois anos”, avalia o economista Francisco de Castro, do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes).
As expectativas do mercado financeiro compiladas pelo Banco Central sugerem que a retomada pode mesmo demorar. Embora apostem em uma taxa de câmbio média de R$ 3,14 neste ano, bancos e consultorias têm rebaixado suas projeções para as exportações. No momento, preveem receitas de US$ 218 bilhões com as vendas ao exterior, 3% menos que em 2014 (US$ 225 bilhões). Em reais, o faturamento cresceria – mas não necessariamente os volumes embarcados.
Independentemente do desempenho geral das exportações, a alta do dólar anima empresários a prospectar negócios lá fora. Waldemir Kürten, proprietário da fabricante de casas pré-fabricadas Kürten, que não exportava desde 2010, esteve na África no início do mês e voltou com contratos no Congo e Botsuana. “São volumes pequenos, mas é um recomeço. Com o dólar acima de R$ 3, nosso produto volta a ser competitivo”, diz.