A Vale vai reduzir sua produção em operações onde o custo seja alto e suspender a compra de minério de ferro de terceiros enquanto a demanda se mostrar retraída devido à crise financeira global, afirmou o presidente da mineradora, Roger Agnelli.
Ele informou que duas operações de níquel, metal cujo preço caiu fortemente nos últimos meses, já tiveram a produção reduzida. A empresa cortou em 20% a produção de níquel na Indonésia, e como consequência vai reduzir para 65% a capacidade de produção de uma processadora em Dalian, na China.
"Estamos desligando os geradores a diesel na Indonésia, onde a gente trabalha a plena capacidade, e vamos trabalhar com hidroeletricidade...em Dalian, na China, o mercado praticamente desapareceu", disse Agnelli em coletiva para comentar o balanço do terceiro trimestre de 2008.
"Não adianta forçar a venda que vai sair a preço de liquidação. O comprador hoje está podendo fazer o preço", complementou.
A empresa, maior produtora de minério de ferro do mundo, matéria-prima do aço, teve recorde de lucro no terceiro trimestre, de 12,4 bilhões de reais, mas já prevê resultados menos elevados nos próximos meses.
"O quarto trimestre não deve ser tão brilhante como o terceiro, mas estamos trabalhando com tranquilidade. O mercado vai passar por um ajuste super severo onde as empresas vão se desfazer dos estoques", explicou.
INVESTIMENTOS
Agnelli admitiu reduzir o ritmo dos investimentos se a crise se agravar, mas qualquer decisão somente será tomada no final de 2009. Por enquanto, "a hora é de arrumar a casa e fechar operações com custo elevado", definiu, "até se ver a magnitude da crise...conseguimos enxergar no máximo 2009".
Ele afirmou no entanto que o Brasil está em "situação bastante positiva" e que seus clientes brasileiros ainda não deram sinal de retração na demanda, com exceção do segmento de ferro-gusa.
Já a China, principal mercado da Vale, e onde a empresa tenta conseguir um ajuste adicional para o preço do minério de ferro de 12 por cento, é mais nítido o impacto da crise mundial.
"Nesse curto prazo o mercado vai sentir o breque na economia chinesa...a retração da China tem vários efeitos e estão acontecendo", afirmou.
Ele garantiu, no entanto, que não haverá problema para executar o plano de investimentos anunciado recentemente, de 14,2 bilhões de dólares em 2009. Os recursos estão contidos dentro de um plano maior, de 59 bilhões de dólares até 2012.
"Já temos linha de crédito assegurada para os nossos projetos no JBIC, Exim, BNDES...estamos entrando na crise praticamente sem dívida e nossos projetos vão começar a ficar prontos no final de 2009, 2010, quando a crise já pode ter amenizado", avaliou.
Ele destacou que projetos do segmento de fertilizantes, por exemplo, seguirão a pleno vapor, "porque todos continuam comendo", e que os projetos de carvão, como o de Moatize, em Moçambique, África, são prioritários, assim como o de minério em Serra Sul, e o de cobre de Salobo, no Brasil.
"Serra Sul tem minério de altíssima qualidade e pode substituir projetos de custo maior", disse Agnelli. "Temos saúde e fôlego para passar essa fase e estar mais fortes no fim", concluiu.
Ele não descartou eventuais aquisições para agregar valor à companhia nesse momento de crise, mas disse que até o momento os projetos para o crescimento orgânico estão mais eficientes do que qualquer ativo disponível no mercado.
"Os ativos ainda não chegaram ao preço de competir com o nosso crescimento orgânico", afirmou, descartando rumores de que estaria novamente interessado na mineradora anglo-suiça Xstrata ou na norte-americana Freeport.
"Isso (os rumores) vem de analistas ou investidores comprados, ou jornalistas que escutam dizer", concluiu.
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast