As boas condições financeiras de Vale e Usiminas garantem a viabilidade financeira dos maiores projetos previstos por elas para os próximos anos. No entanto, mudanças nas perspectivas macroeconômicas podem alterar o cronograma dos investimentos. A avaliação é de especialistas consultados pela Agência Estado, e executivos das duas companhias já começam a sinalizar com possíveis adiamentos.
O projeto mais ambicioso da mineradora, em termos de volume de recursos, é a conclusão, até o primeiro semestre de 2012, do projeto de Carajás Serra Sul, no Estado do Pará. Além do investimento na mina, serão realizados relevantes aportes em logística, como a construção de um ramal ferroviário e um píer no Terminal Marítimo de Ponta da Madeira. No caso da Usiminas, o maior projeto refere-se à nova usina de placas da companhia em Santana do Paraíso (MG), que terá capacidade de produção de 5 milhões de toneladas por ano.
Se a situação financeira das empresas não compromete a viabilidade desses investimentos, conforme destacam analistas, uma possível desaceleração no crescimento econômico dos países desenvolvidos pode retardar o cronograma previsto inicialmente para os projetos. "Existe a possibilidade das companhias tentarem melhorar a agenda dos investimentos, frente à nova conjuntura econômica", afirma o analista de mineração e siderurgia da Modal Asset, Wellington Senter.
Nesta manhã, em teleconferência com analistas, o presidente da Vale, Roger Agnelli, admitiu que "em 2010 os investimentos podem cair significativamente". Segundo ele, a entrada em operação de Serra Sul poderá ser adiada para daqui a cinco ou seis anos. A meta anterior era iniciar a produção em três a quatro anos. Já o diretor de finanças e Relações com Investidores da Usiminas, Paulo Penido Marques, também reconheceu que, que caso haja necessidade, a empresa poderá adiar algum projeto específico. Hoje, porém, a companhia não pensa em rever os seus investimentos.
Por enquanto, especialistas avaliam que os reflexos da crise na economia real não são suficientes para provocar adiamentos. "Mesmo com a crise, a perspectiva é de alto consumo de aço e minério por parte dos emergentes, que têm necessidades no setor de infra-estrutura que precisarão ser supridas", afirma o analista de mineração da Geração Futuro, Carlos Kochenborger.
"Um modesto crescimento nos emergentes já viabiliza a conclusão desses investimentos", completa Senter, lembrando o cenário de oferta e demanda apertado dos últimos anos no Brasil, influenciado pelo boom do setor automobilístico e de construção civil, além do forte crescimento da China.
A queda no preço das commodities metálicas, na esteira da crise financeira, é outro ponto de atenção das mineradoras e siderúrgicas. "A queda de preço é uma preocupação, mas é menor para as empresas brasileiras, em comparação aos seus pares em outras partes do mundo. O custo de produção, aqui, é um dos menores do mundo", afirma Senter.
Na mesma linha, Kochenborger, da Geração Futuro, lembra que a nova unidade da Usiminas será construída em uma área contígua à usina de Ipatinga já operada pela companhia e que tem um dos menores custos de produção do mundo. "Pela sua competitividade, o projeto não deve ser cancelado", diz.
Segundo ele, se os contratos de venda de minério da Vale ficarem em torno de US$ 50 a tonelada no próximo ano, com uma queda significativa em comparação aos preços praticados em 2008, seria suficiente para garantir a rentabilidade dos projetos. Hoje, o preço do minério previsto nos contratos da Vale está entre US$ 80 e US$ 85 a tonelada.
Preparo
Apesar das incertezas em relação ao futuro, a avaliação geral do mercado é de que Vale e Usiminas entram na crise bem preparadas. Após consecutivos trimestres de resultados recorde e de altas inéditas no preço das commodities, as empresas estão capitalizadas para levar adiante os seus principais planos. Além disso, elas se aproveitaram das boas condições de mercado, antes do agravamento da crise financeira, para levantar recursos.
A Vale captou US$ 12 bilhões em uma oferta global de ações realizada em julho. A Usiminas, por sua vez, já tem garantidos aproximadamente US$ 4 bilhões, captados este ano por meio de emissão de eurobônus, debêntures, pré-pagamento de exportação e empréstimos com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e com um pool de bancos japoneses, entre eles o Japan Bank for International Cooperation (JBIC).
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