A Vale projeta que em 2015 terá menos da metade da participação nas vendas de minério de ferro do Brasil que tinha em 2004, afirmou nesta quinta-feira o diretor de Marketing, Vendas e Estratégia da mineradora, José Carlos Martins.
A projeção leva em conta o fato de que cada vez mais as siderúrgicas nacionais vêm investindo em produção própria de minério, levando a Vale a perder market share das vendas locais da commodity.
Martins disse que em 2004 a Vale tinha cerca de 70 por cento das vendas de minério de ferro no mercado brasileiro, e hoje tem menos de 50 por cento. Em 2015 terá, segundo ele, 30 por cento.
"A Vale tem que considerar perda de market share no Brasil. Para participar desse mercado, você tem que produzir aço", afirmou ele em apresentação no Congresso Brasileiro do Aço.
O executivo indicou também que os projetos siderúrgicos da Vale, por outro lado, permitirão que a empresa estanque essa perda de market share. Em 2018, as vendas adicionais de minério de ferro e pelotas da Vale para seus projetos siderúrgicos somarão 30 milhões de toneladas ao ano.
"Em algum momento, você tem que fazer apostas para criar mercado (de aço) no Brasil. O país já pagou caro no passado porque o mercado não apareceu. E é natural, agora, que o setor seja precavido para evitar uma situação como aquela."
A Vale tem participação na siderúrgica CSA, no Rio de Janeiro, onde a capacidade de produção é de 5 milhões de toneladas de placas de aço ao ano.
A mineradora tem outros projetos para começar a produzir aço nos próximos anos, entre eles o da CSU, em Anchieta (ES), ainda em desenvolvimento, que pode entrar em operação em 2015, com capacidade anual de 5 milhões de placas de aço.
Questionado sobre parcerias no Espírito Santo, Martins afirmou a jornalistas, após a palestra, que a empresa está aberta a discutir com eventuais parceiros.
Já sobre o projeto da CSP em Pecém (CE), com estimativa de início a partir de 2015, Martins disse que o Conselho da Vale deverá aprová-lo em breve. A CSP terá capacidade para produzir, na primeira fase, 3 milhões de toneladas de placas de aço.
Também em processo de implantação está a Alpa, em Marabá (PA), com entrada em operação esperada para 2014 e capacidade de 2,5 milhões de toneladas de aço.
Mais importações?
Entre aço e produtos de aço, o Brasil teve importações recordes em 2010, de 10 milhões de toneladas, o equivalente à produção de duas unidades da Usiminas, de Cubatão (SP) e Ipatinga (MG), afirmou o presidente da siderúrgica Wilson Brumer, durante o evento.
Isso aconteceu, segundo Brumer, devido à competitividade do aço importado frente ao brasileiro por uma série de razões.
"Defendemos isonomia competitiva, temos que acabar com a guerra fiscal, queremos ações de investigação de dumping mais aceleradas", disse Brumer, durante a sua palestra.
Tais questões deveriam ser resolvidas, afirmaram palestrantes no evento, para que o setor siderúrgico do Brasil possa, com produção própria e mais investimentos, atender a crescente demanda interna.
"Acredito que a demanda de aço no Brasil está crescendo forte, e que se os investimentos não forem feitos, vai haver a necessidade de importar mais aço", disse Martins, da Vale.
Embora a mineradora tenha grandes projetos siderúrgicos, Martins afirmou que o setor de aço não tem feito "os investimentos no porte necessário".
Isso talvez se explique, de acordo com o presidente da Usiminas, porque investir no Brasil é "caro", e o custo é quase quatro vezes maior do que o existente para a construção de uma siderúrgica na China.
Potencial da indústria
Por outro lado, considerando um cenário apresentado pelo diretor da Vale de aumento de competitividade do aço nacional e de substituição de importações e ampliação de exportações, o Brasil poderia mais que dobrar a sua produção até 2012, para 90 milhões de toneladas.
O mercado interno absorveria mais da metade desse volume, ou 54 milhões de toneladas, previu ele, observando o crescente consumo interno nacional. Atualmente, o mercado doméstico fica com 27 milhões de toneladas.
De acordo com o Instituto Aço Brasil (IABr), a produção brasileira de aço bruto deve atingir 39,4 milhões de toneladas neste ano, alta de 19,8 por cento sobre 2010. A capacidade instalada das usinas siderúrgicas é de 47,4 milhões de toneladas anuais.
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