Quem é o dono da Vale? O governo? A Previ? O Bradesco? A questão está na ordem do dia, devido aos boatos sobre mudanças na diretoria e a uma pressão do presidente Lula para que a empresa reduza as exportações de matérias primas e invista na indústria de transformação. Mesmo assim, as ações da empresa continuam resistindo as PNA (preferenciais, de maior liquidez) já subiram quase 79% este ano. A polêmica, no entanto, prossegue. E traz algumas incertezas aos prognósticos.
Há um desconforto entre analistas na ofensiva do Planalto. Muitos preferem não se identificar ou para evitar polêmica ou por seus bancos terem negócios com a Vale. Mas eles veem uma pressão descabida sobre uma empresa privada. Lembram que a Previ (maior acionista da holding Valepar, que possui 52% das ações da mineradora com direito a voto) é uma entidade privada, dos funcionários do Banco do Brasil, e não uma estatal. De fato, 58% do capital da Vale está pulverizada no mercado. No centro das atenções está o presidente da empresa, Roger Agnelli, indicado pelo acionista Bradespar companhia do banco Bradesco que controla participações em empresas não-financeiras , contra quem parece haver uma campanha instalada em Brasília. Se o executivo fosse tirado agora da presidência da Vale, diz um observador, a atitude "pegaria muito mal" para o governo, pois a ingerência na companhia seria evidente. Mesmo que indiretamente, o governo mantém presença na Vale por meio dos controladores Previ e BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Dentre as queixas do governo estão as demissões e o corte de investimentos após a crise. Outro alvo de críticas é o fato de a empresa não investir pesado na siderurgia. Exportadora de minério bruto, a Vale lucra bem mais ao investir apenas em mineração, cujas margens são melhores do que as da siderurgia, segundo Antonio Emílio Ruiz, analista do Banco do Brasil. "O papel da Vale é e sempre foi o de fomentar a siderurgia. Trazer investidores e ter uma participação minoritária nas usinas. Depois que ela cativa o cliente [a siderúrgica], vende a participação. Esse é o melhor modelo para a Vale. Siderurgia não é o foco, diz Pedro Galdi, analista da SLW.
Influência
A Vale havia sido uma das empresas mais castigadas pela crise detonada em 15 de setembro de 2008, com a quebra do banco de investimentos Lehman Brothers. A alta recente é, para alguns analistas, um sinal de que o mercado tem ignorado completamente as pressões do governo e também a tentativa esquecida, pelo menos por enquanto do empresário Eike Batista de comprar uma fatia da mineradora. "Tudo isso é jogo político", avalia Galdi, da SLW. "O mercado está muito mais atento ao desempenho da Vale, que melhorou muito. A economia reagiu. A China compra volumes recordes de minério. O lucro do terceiro trimestre deve crescer bem. É isso o que importa."
Na visão de Ruiz, do BB, o mercado se pauta muito mais pelos "fundamentos da empresa do que por essa "pressão política.