Eventos simultâneos lotam rede hoteleira
Mesmo com uma oferta de leitos que supera a demanda média anual, em alguns períodos Curitiba tem dificuldade em atender à demanda por hotéis. A situação tem como motivos a concentração de eventos em alguns meses do ano, assim como a preferência por hotéis de determinadas faixas de preço.
De acordo com números da consultoria HotelInvest, o segmento econômico (com diárias de até R$ 120) já teria uma ocupação média de cerca de 80% no ano, o que indica que, em épocas de grande demanda, os hotéis dessa categoria lotam facilmente.
Com isso, clientes interessados em tarifas mais baixas têm de se hospedar em hotéis mais caros, que passam a ser mais disputados. Os segmentos midscale (diárias entre R$ 120 e R$ 190) e upscale (acima de R$ 190) têm taxas médias de ocupação em torno de 60%, também sensíveis a épocas de grande demanda.
Essa é a situação desta semana, quando a cidade sedia a 21.ª Conferência Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O evento, que começou no domingo, tem cerca de 7 mil participantes, sendo 3.650 vindos de fora de Curitiba.
A parcela que o setor hoteleiro costuma contabilizar para turistas de eventos é 8,9 mil leitos na Grande Curitiba. Mas, como este mês é um dos mais aquecidos do ano para os eventos, todos os hotéis das bandeiras Íbis, Mercure, Slaviero e mais cinco estabelecimentos próximos ao Centro estão lotados até quinta-feira, data de encerramento da conferência.
O evento é o motivo apresentado por todas as redes para justificar a falta de quartos, que abrange os três segmentos de hotéis. O sindicato que representa o setor, o Sindotel, confirma que a rede hoteleira da cidade está lotada pelos próximos dias.
Saturação momentânea
De acordo com Juliana Vosnika, presidente do Instituto Municipal do Turismo de Curitiba, o caso serve para mostrar que a saturação do setor ocorre apenas em "determinados momentos e segmentos" e não representa uma preocupação para a cidade. "Grupos e redes já estão buscando novas informações sobre a cidade e devem planejar novos hotéis para os próximos anos, quando realmente for necessário", afirma.
Agenda de eventos pode ficar menor e mais cara
Se confirmada a expectativa de aumentos significativos nos próximos anos, Curitiba pode passar a receber um número menor de eventos, mas com um perfil "mais selecionado" com investimentos maiores e voltados a públicos de maior poder aquisitivo, de acordo com o presidente da HotelInvest, Diogo Canteras.
"Com um mercado de hotéis mais consolidado e mais caro, isso pode passar a acontecer e não é negativo para a cidade. Curitiba poderá ter um crescimento menor no número de seus eventos nos próximos anos, mas esses encontros poderão dar resultados tão bons quanto os atuais ou até melhores para a cidade, em termos de rentabilidade", afirma Canteras.
Para Juliana Vosnika, presidente do Insitituto Municipal de Turismo de Curitiba, não é certo que vá ocorrer tal mudança no perfil da cidade. Mas, se for o caso, também não chegaria a preocupar.
Segundo ela, as iniciativas do poder público e da iniciativa privada têm como foco aumentar o número de eventos, mas diversificar suas temáticas e datas. Assim, eventos culturais e esportivos poderiam ter espaço maior e trazer turistas, por exemplo, nos primeiros meses do ano quando a demanda é tradicionalmente menor.
"Para a cidade, o ideal é uma combinação entre alto número de turistas, um bom tempo de permanência e um gasto médio interessante. Nosso trabalho tem de ser o de equilibrar tudo isso durante o ano", afirma Juliana.
As diárias de hotéis em Curitiba, que tiveram reajustes significativos nos últimos anos, devem continuar subindo acima da inflação nos próximos anos, podendo alcançar um aumento real de pelo menos 77% até 2016.
O movimento é resultado de fatores como a limitação da oferta de quartos em segmentos econômicos e também da falta de expectativas em torno de novos empreendimentos pelos próximos anos. Além disso, momentos que concentram a vinda de muitos visitantes à cidade caso da Conferência Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que ocorre nesta semana e ajudou a lotar os hotéis da cidade também influenciam.
Enquanto em um primeiro momento o cenário se mostra positivo para a indústria hoteleira, a alta das tarifas pode ter desdobramentos como a diminuição no volume de eventos realizados na cidade, que vinha sendo cercado de boas expectativas pelo setor.
Na comparação entre 2009 e 2010, as diárias tiveram um aumento real de 5,3%, já descontada a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA. Para os próximos períodos, os reajustes acima da inflação podem ser ainda maiores, variando entre 10% e 20% por ano, segundo estimativas da HotelInvest, consultoria especializada no setor.
"O movimento comum é de, nos primeiros dois anos da proximidade da saturação, os preços subirem em torno de 5% além da inflação. Nos períodos seguintes, isso já ultrapassaria os 10% ao ano. O teto vai depender, entre outros fatores, do crescimento econômico do país, podendo alcançar a margem de 20% anuais", afirma Diogo Canteras, presidente da HotelInvest.
Segundo ele, o crescimento de preços deve durar até seis anos, quando a alta capitalização dos hotéis levaria à possibilidade de novos empreendimentos na cidade, aumentando a oferta de vagas e, consequentemente, relaxando o valor cobrado pelas diárias.
Canteras vê o movimento com bons olhos, "para um setor que sofreu tanto nos últimos anos, como em Curitiba", fazendo referência ao fim da década de 1990, quando o lançamento de novos hotéis fez com que a oferta de quartos da cidade quase dobrasse, ficando muito acima da demanda e resultando em altos índices de ociosidade.
No entanto, a alta de preços também traz riscos para o setor. Um deles seria uma menor atratividade de eventos. "Com certeza isso vai acabar pesando, mas pode não representar um prejuízo, visto que teria chances de resultar na vinda de eventos com investimentos maiores e voltados a um público que vai gastar mais na cidade", diz o presidente da HotelInvest.
Pontos de vista
Para o presidente da regional paranaense da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-PR), Henrique Lenz César Filho, as altas de preços não devem ser tão significativas. De qualquer forma, ele acredita que Curitiba ainda tem preços "muito em conta", o que daria certa margem para aumentos nos próximos anos. "[A tarifa] deve subir, mas algo em torno de 3% a 4% acima da inflação por ano. E isso é pouco motivado pela demanda, seria mais pelo aumento dos custos", diz.
A presidente do Instituto Municipal de Turismo de Curitiba, Juliana Vosnika, não descarta um aumento nos níveis esperados pelo presidente da HotelInvest, mas não vê o movimento como sendo negativo. Para ela, pode até resultar em um turismo mais "sustentado", com menor variação sazonal, visitantes dispostos a permanecer mais tempo na cidade e com gastos mais elevados.
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"O movimento comum é de, nos primeiros dois anos da proximidade da saturação, os preços subirem em torno de 5% além da inflação. Nos períodos seguintes, isso já ultrapassaria os 10% ao ano. O teto vai depender, entre outros fatores, do crescimento econômico do país, podendo alcançar a margem de 20% anuais."
Diogo Canteras, presidente da consultoria HotelInvest.
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