Falar que alguém investe em imóveis hoje em dia é o mesmo que acusá-lo de conservador. A taxa de retorno com um aluguel raramente ultrapassa 1% ao mês, semelhante ao rendimento da caderneta de poupança. Mas o que muita gente não sabe é o quanto esses bens se valorizaram nos últimos anos. Em Curitiba, o preço de apartamentos, casas, terrenos e sobrados dobrou na última década.
Os apartamentos de três dormitórios, muito procurados hoje, ficaram em média 134% mais caros na cidade de 1998 para cá, de acordo com o Instituto Paranaense de Pesquisa e Desenvolvimento do Mercado Imobiliário e Condominial (Inpespar). Um exemplar de 100 metros quadrados passou da média de R$ 44 mil para R$ 102,5 mil. Já as casas de igual tamanho subiram um pouco menos, passando de R$ 42,4 mil para R$ 85,1 mil.
Os sobrados ganharam fama no período e também beiram os 130% de valorização (de R$ 41,8 mil para R$ 95,3 mil) e os terrenos ficaram quatro vezes mais caros, passando de R$ 8,4 mil para R$ 25,5 mil. Vale ressaltar que em bairros nobres o valor atinge níveis bem mais altos. O vice-presidente de relações com o mercado do Sinduscon, Erlon Rotta Ribeiro lembra que não foi só o imóvel novo que subiu. "O usado, se estiver em boas condições, está rendendo muito também."
A administradora Alessandra Kaniak ficou sabendo desse comportamento do mercado tarde demais. Em 2004, vendeu um apartamento no bairro Água Verde por R$ 65 mil, o que já era um bom negócio. Mas, um ano e meio depois, soube que o novo proprietário havia passado o imóvel para a frente, só que por R$ 85 mil. "Fiquei irada", conta.
A explicação, de acordo com o Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Paraná, é que as construtoras pararam de entregar obras novas. Desde 2003, Curitiba ganha 550 mil novos metros quadrados construídos por ano, enquanto nos três anos anteriores o número era de 1 milhão de metros quadrados. A menor oferta e a procura sempre crescente elevam os preços.
E como ganhar dinheiro com isso? Para os consultores da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio, sediada em São Paulo, o investidor em imóveis precisa dispor de tempo para esperar o capital inicial render, mas sai ganhando em outros aspectos. "O retorno de 100% do capital investido vem em média em 10 anos", diz o consultor Mauro Peixoto. Isso só com a renda obtida com o aluguel, que deve ser acrescida à valorização do imóvel.
Já no mercado financeiro, em que o investidor coloca o dinheiro em títulos, fundos ou compra ações, alguém sem intimidade com a área não sabe quanto do lucro obtido é ganho real e quanto foi reposição da inflação. "Minha avó, se aluga um imóvel e ganha aquele dinheiro todo mês, sabe que, fazendo as manutenções necessárias, o patrimônio continua intacto. Mas no mercado financeiro quem não entende muito de finanças sempre fica em dúvida: ao efetuar saques, não estará retirando dinheiro do bolo original aplicado e portanto diminuindo sua rentabilidade?", questiona Peixoto.
Um argumento sustentado com entusiasmo pelas imobiliárias, que comemoram a boa fase e proclamam que "imóveis jamais vão desvalorizar". É a opinião de Stefano Kudrek, gerente da Imobiliária Futurama. Já Arno Drehmer, da Imobiliária Hoje, lembra que a população perdeu poder aquisitivo e também diversificou seus investimentos.
Prós e contras
Os defensores do mercado financeiro destacam as complicações que investimentos "de quatro paredes" podem trazer. Além de não ser garantido que vá aparecer um inquilino na hora certa, a venda pode levar anos, o que significa baixa liquidez. Também há custos adicionais e de certa forma imprevisíveis, como os de manutenção.
A diretora do HSBC Premier, Rosaline Nunes, faz uma comparação de um investidor que colocou R$ 100 mil num imóvel para lucrar cobrando aluguel e outro que colocou tudo num fundo de renda fixa. O primeiro teria rentabilidade de até 0,8%, ou seja, retorno de R$ 7,3 mil ao ano. Num fundo conservador baseado no Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI) e na taxa de juros Selic, o ganho seria maior, de 10,19%, ou seja, R$ 10 mil por ano. Em nenhum dos casos a inflação foi considerada. Ela também destaca que, a partir de 1998, para se ater ao nosso período de comparação com os imóveis, o CDI rendeu 259%. Quem tiver dinheiro sobrando, que faça sua escolha: só não vale deixar parado.