A conturbada saída do Reino Unido da União Europeia, também conhecida como Brexit, não deve trazer benefícios para o Brasil no curto prazo, mas poderá facilitar no longo com uma intensificação de relações comerciais entre os dois países. “Uma das principais oportunidades será no agronegócio”, destaca Celso de Grisi, professor de administração da Universidade de São Paulo (USP) e da Sustentare Escola de Negócios.
Segundo ele, o Reino Unido precisará reconstruir a cadeia de fornecedores. “Só que dependerá do estabelecimento de um acordo comercial.”
Os britânicos são o 12º principal destino das exportações brasileiras. No ano passado, elas foram de US$ 2,99 bilhões, segundo o Ministério da Economia. Foi o melhor resultado em quatro anos. Os principais produtos comercializados foram ouro, preparações e conservas de carne, hidrogênio, soja triturada e minérios de ferro.
Mas as vendas para lá já foram melhores. O pico aconteceu em 2011, quando o Brasil embarcou U$ 5,2 bilhões em mercadorias. Uma série de fatores explicam essa queda, aponta Lia Valls, pesquisadora associada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV): o baixo crescimento da economia europeia e a facilidade que o Reino Unido tem em obter commodities agrícolas de outros parceiros comerciais, principalmente da Europa.
No primeiro bimestre, o relacionamento comercial com o Reino Unido teve uma melhora. Brasil exportou US$ 633,5 milhões em mercadorias para o Reino Unido, um crescimento de 11,81% em relação a igual período de 2018.
Prioridade
A prioridade imediata do Reino Unido após o Brexit será o restabelecimento de acordos comerciais com seus principais parceiros comerciais. “Eles terão de montar um novo arcabouço do comércio exterior”, explica Lia. O objetivo é minimizar os impactos negativos da saída do bloco econômico. O FMI projeta que a economia britânica irá crescer, em média, 1,5% ao ano entre 2019 e 2023.
Mas antes mesmo, o país terá que estruturar o processo de saída. O Parlamento britânico negou a saída da União Europeia sem a existência de um acordo, enfraquecendo a posição da primeira-ministra Theresa May. A negativa acontece faltando 16 dias para a data marcada pela União Europeia para a saída do Reino Unido do bloco. O principal problema está na fronteira entre a Irlanda e a Irlanda do Norte.
Interesse
“Um acordo entre Brasil e Reino Unido vai depender muito do interesse dos britânicos”, diz a especialista. E as negociações podem não ser simples, mesmo não tendo problemas com o agronegócio, um segmento que, de acordo com a The Economist, representa 1,1% do PIB britânico.
De acordo com Grisi, o estabelecimento de um acordo deverá ser um processo lento, no qual o Reino Unido vai exigir reciprocidade, com abertura de mercados para produtos e serviços britânicos. As negociações do Mercosul com a União Europeia, por exemplo, estão acontecendo há 20 anos. E esse acordo poderá nortear uma futura parceria entre brasileiros e britânicos.
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