Black Friday anima comércio eletrônico
Com o bolso apertado, o consumidor brasileiro deverá ficar mais sensível a ofertas e promoções, o que eleva as perspectivas para uma Black Friday movimentada.
O evento, que tem maior força na internet, propõe descontos expressivos aos consumidores na última sexta-feira de novembro, dia 28. No entanto, Fabio Bentes, da CNC, avalia que a data não muda fundamentalmente a dinâmica do setor, que segue afetada pelo baixo crescimento econômico do país.
"Não tenho dúvidas que o evento vai crescer dois dígitos, é fenômeno novo. Mas o impacto disso é muito pequeno", afirmou.
A CNC estima que as vendas de Natal movimentarão R$ 31,7 bilhões. Com a Black Friday, o comércio eletrônico deve faturar cerca de 4% disso, ou R$ 1,2 bilhão, segundo projeção da empresa de pesquisas de mercado e-bit.
Crédito mais caro, inflação em alta, consumidor reticente. A combinação, que vigorou por todo o ano de 2014, não poderia entregar outro resultado que não um Natal historicamente fraco, na avaliação de especialistas e entidades que representam diferentes segmentos do setor varejista.
A expectativa é que a temporada de compras de fim de ano, a mais importante do ano, mostre um avanço de vendas menor que o apresentado em 2013, no que será, segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), o ritmo mais tímido da última década.
A entidade estima que haverá um aumento de 2,6% nas vendas de Natal sobre 2013, já descontada a inflação, abaixo do avanço de 5,1% no ano passado e na projeção mais modesta para o período desde 2004, quando iniciou a pesquisa.
"O comércio não consegue mais vislumbrar as taxas de crescimento com as condições de crédito que são diferentes hoje, e com o esgotamento da ascensão da classe C", disse o economista sênior da CNC, Fabio Bentes.
"O Brasil teria que estar crescendo muito para incorporar mais gente e sabemos que crescimento foi algo que não passou na agenda do país este ano", afirmou.
Cenário adverso
Economistas preveem uma expansão de apenas 0,2% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro este ano, segundo o último boletim Focus, após avanço de 2,3% no ano passado.
Tendo como pano de fundo um cenário macroeconômico desanimador, marcado por inflação e juros em alta, além de criação de empregos mais modesta e menor avanço no rendimento real dos trabalhadores, outras entidades também projetam um Natal sem brilho.
"Atualmente as lojas estão estocadas em menores quantidades que nos anos anteriores para que não haja encalhe", afirmou Luis Augusto Ildefonso da Silva, diretor de relações institucionais da Alshop, que reúne lojistas de shopping centers.
"Esse abastecimento foi menor até em vista do que aconteceu nas datas magnas do comércio este ano, que foram mais fracas", completou ele, em referência a eventos como Dia das Mães, Páscoa e Dia dos Namorados.
Enquanto a Abras, associação de supermercados, vê ligeira desaceleração nas vendas de fim de ano ante 2013, pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) aponta que 79,4% dos varejistas consultados preveem que o número de contratações temporárias em 2014 não deve crescer na comparação com o ano passado.
Décimo-terceiro
Na Saara, maior centro de comércio popular do Rio de Janeiro, os lojistas apostam em aumento das vendas de fim de ano em linha com 2013, mas com consumidores mais contidos que em anos anteriores.
"Com o 13º salário sempre tem um 'boom' de vendas", espera o gerente de uma loja de roupas na rua da Alfândega, José Guilherme Carvalho. Segundo ele, o movimento está bom, mas os clientes buscam itens mais baratos, abaixo de R$ 50.
A comerciante autônoma Luana Reis Cajueiro reclamou da inflação sobre sua margem de lucro na revenda de bolsas, que caiu para 10%. "Agora as coisas estão mais caras. Já cheguei a ganhar uns 20%", disse.
Enquanto isso, a algumas quadras da loja de Carvalho, a agente comunitária Andreza Batista afirmou que vai usar o 13º salário prioritariamente para pagar dívidas. "Está tudo absurdamente caro. Vou priorizar crianças, filho e afilhados, para presentear."
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast