Gazeta do Povo Vários planos foram adotados ao longo dos últimos anos, até o Real, em 1994. Qual a lição que o senhor tirou e que está aplicando hoje?
Gerson Alberti Três anos antes do Cruzado, o Brasil fez a sua primeira desvalorização cambial, que afetou as empresas que trabalhavam com moedas diferentes. Na época eu trabalhava numa empresa que tinha um passivo dolarizado, e que foi duramente afetada. Esta foi a primeira moratória oficial do Brasil. As reservas eram controladas. As empresas por mais que tivessem saúde financeira para fazer frente às suas obrigações, acabavam se deparando com problemas técnicos. As empresas fechavam o câmbio com os bancos e entregavam o dinheiro para a compra dos dólares e remessa posterior, mas os seus recursos ficavam presos e administrados pelo Banco Central, até que os níveis de reserva se enquadrassem dentro de uma disponibilidade de liquidez. Para mim, esse foi um grande ensinamento, pois aprendi que não se deve olhar uma empresa apenas sobre o ponto de vista financeiro.
O que deve fazer um executivo financeiro para que a sua empresa tenha sucesso?
O executivo financeiro deixou de ser aquele profissional de trazer dados para a diretoria, para que eles tracem a estratégia da empresa. É fundamental a participação do executivo nesse processo. Existe hoje uma série de ferramentas de informação.
As empresas hoje estão mais auto-suficientes e não se deixam influenciar por crises políticas?
Antigamente existia muita decisão de "corredor". Alguém de determinado segmento poderia pressionar os políticos e algumas decisões eram tomadas mais sobre o ponto de vista político do que técnico. O negócio de varejo atravessa um momento importante e o seu crescimento nos últimos anos tem ficado muito acima da média da economia brasileira.
A que o senhor atribui o crescimento do varejo?
Ao maior número de empregos, a uma maior renda per capita da população e à mudança de comportamento do consumidor. Há algum tempo demorava-se anos para se trocar um refrigerador ou um fogão. Hoje, as facilidades do crediário permitem que os consumidores substituam os eletrodomésticos com mais regularidade. Não importa quanto pagará de juro, mas sim se o valor da prestação cabe no seu orçamento.
O câmbio atual está trazendo prejuízos para a Electrolux?
As unidades da Electrolux no Brasil, uma em Curitiba e outra em São Carlos, têm como objetivo fornecer para o Brasil, mas também para a América Latina. As exportações da Electrolux do Brasil já foram maiores. Hoje são menores em função de alguns fatores, como por exemplo o câmbio desfavorável. Nós também concorremos com nossas fábricas. Unidades da Electrolux da Europa estão exportando muito bem para a Argentina. Hoje fica difícil precificar com o dólar a R$ 2,25. Acabamos perdendo competitividade e mercado. Para amenizar o problema, nos utilizamos de algumas ferramentas, como operações de hedge.
Em quanto a Electrolux reduziu suas exportações este ano?
Se levarmos em conta que vamos crescer no mercado interno em 2005 sobre 2004, entre 25% e 30% ou até mais, reduzimos nossas exportações também nestes patamares. Nós compensamos a redução das exportações com o mercado interno.
Na sua opinião, o governo deveria mexer no câmbio?
Eu acho que não. Deve deixar o mercado se regular, mas deve ter muito cuidado. Se o câmbio chegar a R$ 2, o que particularmente não du-vido, teremos problemas e será necessário então uma intervenção, ou voltar a adotar o sistema de bandas cambiais.
Ao mesmo tempo em que presenciamos a valorização das ações negociadas nas bolsas de valores, a Electrolux fecha o seu capital. Por que esta decisão foi tomada?
Nós fechamos o capital no Brasil por uma questão de estratégia, mas a Electrolux é listada na Bolsa de Nova Iorque e na Bolsa de Estocolmo. No momento em que fechamos o capital no Brasil, as ações da empresa se valorizaram em função dessa decisão. Nós deixamos de operar na Bovespa, mas nossas ações podem ser compradas em outras bolsas.
O projeto da fábrica em Fazenda Rio Grande será retomado?
No momento não. Estamos agora mais focados na Europa. No Brasil temos alguns problemas, como a alta tributação, que inviabiliza o negócio. Outro problema no Brasil é a energia. Será que teremos energia elétrica suficiente em 2008? E também não podemos esquecer do governo. Os catarinenses estão dizendo que o melhor governador que eles já tiveram foi o Requião. Isso na questão dos portos. Nós tivemos sérios problemas com porto.
Vocês mudaram de porto, mesmo não exportando transgênicos?
Hoje nós estamos utilizando os portos do Espírito Santo e São Francisco. Fazemos alguma coisa por Paranaguá, mas somente o trivial.



