Cristina Riosz O comércio poderia elevar em 40% o fluxo de consumidores caso fossem adotadas medidas para dar acessibilidade a portadores de deficiência, um universo de 25 milhões de pessoas, o que representa hoje 15% da população brasileira, segundo o IBGE. A projeção é do inspetor e coordenador do comitê temático de acessibilidade do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do Paraná (Crea-PR), Ricardo Tempel Mesquita, que participou, na última quinta-feira, do 1º Seminário de Acessibilidade nos Estabelecimentos Comerciais de Curitiba promovido pela Associação Comercial do Paraná (ACP).De acordo com ele, um estudo realizado nos Estados Unidos mostrou que cada US$ 1 investido em acessibilidade como rampas, elevadores, além de banheiros e pisos adaptados gera um retorno de US$ 10 para o caixa do estabelecimento. Não há estatísticas sobre o tema no Brasil, mas, segundo Mesquita, hoje um número mínimo de empresas está preparada para atender esse público, apesar das medidas estarem previstas em lei desde 2004. O decreto federal nº 5.296 estabeleceu normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade e prevê multas e até mesmo o fechamento do estabelecimento em caso de descumprimento da lei.Além de portadores de deficiências, pessoas idosas também sentem dificuldade de mobilidade nesses ambientes. "Há casos de pessoas que se sentem constrangidas e recorrem ao Ministério Público, mas de modo geral, é um número muito pequeno que toma alguma atitude", afirma o inspetor. De acordo com a gestora operacional do projeto Centro Vivo da ACP, Iroclê Wykrota, os bancos, as grandes redes de varejo e os pequenos shoppings do centro de Curitiba em geral já estão adequados, mas a maior parte dos restaurantes e do comércio de pequeno porte ainda não cumpre a lei. "Para as novas construções, contudo, a prefeitura só aprova projetos já adaptados", diz. Hoje existem cerca de 18 mil estabelecimentos comerciais na região central.CustoO alto custo para adaptar os estabelecimentos comerciais que pode chegar a 20% o valor do imóvel ainda é um dos motivos para a falta de investimentos em acessibilidade. Mas Mesquita destaca que essa conta vale apenas para os imóveis antigos. Nos novos estabelecimentos, o custo não chega a 1%. "Embora alto, é um investimento que vale a pena", diz Maria Cristina Coutinho, dona do Despachante Cristina, no centro de Curitiba. Ela investiu R$ 45 mil para adaptar a sua loja há dois anos, que passou a contar com rampas com barras de apoio, balcão ergométrico, poltronas elevadas (para atender pessoas que sofrem de nanismo), piso antiderrapante, banheiros adaptados e guia rebaixada. O resultado foi um expressivo aumento dos negócios. Dentre outros serviços, o escritório oferece operações de isenções de tributos para deficientes. "Antes da mudança, atendíamos em média seis pessoas com algum tipo de deficiência por mês, de um total de 100 atendimentos. Era um nicho pequeno. Agora são 60 e o volume total cresceu para 260", compara ela, que diz que o grande desafio das empresas é entender que esse público quer se sentir como os demais clientes. "Muitas vezes, o deficiente se isola, não vai aos lugares porque se sente contrangido. Poderíamos deixar todo mundo melhor respeitando as dificuldades dos outros", diz.
A rede de lojas Riachuelo vem adaptando suas lojas nos últimos dois anos, segundo Carlos Henrique Souza, gerente da unidade na praça Tiradentes. A loja passou por uma grande reforma em julho do ano passado. Para ele, parte do aumento de 20% no movimento pode ser creditada às mudanças para melhorar o acesso de pessoas com dificuldade de mobilidade. "Como temos quatro andares, muita gente nessas condições não conseguia ir aos outros pisos. Hoje, há mais circulação dentro da loja", diz. Segundo ele, as sete lojas da rede no Paraná a mais nova será inaugurada em Londrina, em novembro já foram ou estão sendo adequadas ao novo padrão. De acordo com Iroclê, da ACP, a intenção agora é fazer um levantamento do número de lojas que atendem às exigências da lei e iniciar treinamento de vendedores e lojistas.