Facilidade
Coleta da mercadoria pelo consumidor ganha força nos EUA e Europa
Na Inglaterra, 5% das vendas de alimentos nos supermercados já são feitas pela internet, via drive-thru: o cliente compra na rede e retira a compra numa área de entrega do lado de fora da loja, onde dá o número da nota e, em menos de dois minutos, um funcionário coloca a compra no carro.
Nos EUA, a Amazon investe pesado no sistema de lockers, instalados em lojas ou condomínios. O cliente compra no site e escolhe o local, onde há um armário, para retirar. No prazo combinado e de posse de uma senha, ele vai ao local e pega a mercadoria. No Brasil, o Extra, uma das bandeiras de e-commerce do Pão de Açúcar, já testa esse sistema em quatro de suas lojas em São Paulo.
Estudo da Gouvêa de Souza&MD revela que 88% dos brasileiros moram em casas e apenas 12% em edifícios, onde os porteiros podem receber as encomendas. "Além do risco de o consumidor não estar em casa, em 12% da cidade de São Paulo, as transportadoras têm de ter escolta, por tratar-se de áreas de risco de roubo", diz Bruno Henrique Souza, do grupo Sequóia, responsável pela implantação do sistema de lockers no Extra.
A concorrência cada vez mais acirrada que empurra os preços para baixo, achata as margens e só faz aumentar com a chegada da Amazon ao país e a popularização de sites chineses levou o varejo eletrônico brasileiro a repensar seus sistemas de logística e entregas, em um movimento que pode romper com a comodidade dos brasileiros que compram pela internet e não pagam frete para receber os produtos. Hoje, 54% das vendas on-line têm frete grátis, segundo relatório da consultoria E-bit.
Se comprar pela rede exige apenas alguns cliques, o processo para colocar o produto na porta do cliente envolve mais de 15 pessoas que cuidam das diferentes etapas da logística e consome entre 10% e 15% das receitas das empresas. Se esses procedimentos forem multiplicados pelos 100 milhões de pedidos anuais processados pelos sites locais de comércio digital, é possível ter a medida da complexidade do processo.
"Essa cultura do frete grátis é muito forte aqui, mas isso pesa, e muito, nos resultados das empresas do varejo digital. E a dúvida entre elas agora é se essa conta vai ser absorvida ou repassada para o consumidor", diz Eduardo Terra, presidente do Instituto Brasileiro de Varejo e Consumo (IBVC).
A Mobly, de móveis e objetos de decoração, começou a vender com frete grátis no Nordeste. Mas, por causa dos custos de logística, já que seus centros de distribuição estão em São Paulo, passou a cobrar. Resultado: os compradores sumiram e a solução foi subsidiar o frete para produtos de maior valor, como sofás e camas. "É cultural e não acho que vai acabar. De cada cem pessoas que entram no site, cinco que compram com frete grátis nós capturamos, e voltam a comprar", afirma Fernando Sartori, diretor da Mobly.
Terra concorda que o frete grátis não vai acabar, mas tende a ser concedido a apenas parte dos produtos vendidos. "Está muito caro absorver esse custo, e o serviço nem sempre é bom", diz.
Alternativas
Terra vê três caminhos para as varejistas digitais. O primeiro é as empresas investirem em entregas intermediárias: o cliente compra pela rede e retira o produto na loja, ou em lockers, tipo de armário com lacre, como já acontece em mercados da Europa e nos EUA. Outro caminho é a cobrança do frete, de modo a remunerar melhor as transportadoras e exigir delas mais pontualidade e eficiência.
Pedro Guasti, diretor executivo do E-bit, lembra que o fato de pagarem muito pouco às transportadoras foi uma das causas dos problemas enfrentados por grandes varejistas digitais há alguns anos, e que fez disparar as queixas em órgãos de defesa do consumidor, sem contar o estrago na imagem dessas companhias.
Um terceiro caminho é as empresas buscarem soluções que baixem os custos do frete. É o que a gigante B2W, dona dos sites Submarino e Americanas.com, que responde por 25% das vendas no país, tenta fazer, com a aquisição de duas das principais transportadoras de mercadorias com menos de 30 quilos do país.
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