Depois de uma chegada triunfante, com direito a estratégias agressivas de marketing, as montadoras chinesas têm agora que lidar com um novo cenário. As principais marcas a apostar no Brasil fecharam revendas nos últimos meses, atrasaram seus projetos de fábricas locais e lutam para recuperar espaço na preferência do consumidor. Apesar do preço baixo, hoje elas vendem menos do que marcas de luxo como BMW e Audi.
INFOGRÁFICO: Veja dados sobre as importações de carros da China
A euforia causada pela chegada dos carros chineses que prometiam modelos mais equipados mas com preços de entrada parece ter perdido o fôlego. O Brasil começou a deixar de ser um negócio da China quando o governo decidiu sobretaxar em 30 pontos porcentuais o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre as importações.
As importações de carros chineses despencaram de US$ 482,5 milhões para US$ 114,6 milhões entre 2011 e 2013. No acumulado do primeiro semestre desse ano, tiveram queda de 37%, para US$ 37,7 milhões, segundo dados da Secex, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Exterior (MDIC). Em volume, a queda foi de 39%, para 7,6 mil unidades nos primeiros seis meses desse ano.
Hoje os carros chineses respondem por 3% dos veículos importados no país, contra os 9% registrados há três anos. "A grande vantagem do carro chinês foi o preço. Com a sobretaxa, o valor se igualou ao das demais montadoras. Com isso o consumidor migrou para as outras marcas. E em um cenário de vendas em queda e muita concorrência, elas perderam mercado", afirma Luis Antonio Sebben, diretor geral da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) no Paraná.
Segundo levantamento nacional da entidade, as três marcas chinesas mais bem posicionadas no mercado brasileiro JAC Motors, Chery, Lifan e Hafei têm hoje juntas cerca de 1% das vendas. A JAC comercializou no país, nos primeiros sete meses do ano, 5,4 mil unidades, 46% menos do que no mesmo período do ano passado. A Chery vendeu 5 mil, 56% acima na mesma base de comparação, mas ainda assim abaixo do que a marca vendia em 2010. A Lifan vendeu 2,5 mil unidades.
As chinesas, mesmo com o preço baixo como principal chamariz, vendem menos do que veículos importados do segmento premium, cujos preços partem, em geral, de R$ 100 mil. A BMW, por exemplo, vendeu mais de 8 mil carros nos sete primeiros meses do ano, enquanto a Audi vendeu 6,9 mil e a Mercedes-Benz, 7,8 mil.
Maioria das fábricas não saiu do papel
Nos últimos anos, foram mais de dez anúncios de fábricas de montadoras chinesas no país de automóveis e caminhões, principalmente. Mas da safra de asiáticas interessadas no Brasil, a maioria nem sequer iniciou as obras. Estão nesse grupo a fabricante de caminhões Sinotruk e das montadoras Changan e Lifan. Essa última, que tinha planos de montar no Brasil o compacto 320, similar ao Mini Cooper, congelou seus planos de produzir no Brasil.
O novo regime automotivo Inovar Auto, que entrou em vigor em janeiro do ano passado, permite o abatimento da sobretaxa do IPI em troca da construção de fábricas no país. Mas as montadoras terão que desenvolver uma rede de fornecedores local que garanta um mínimo de 60% de nacionalização dos veículos, o que aumenta os custos dos investimentos.
Para Luis Antonio Sebben, diretor geral da Fenabrave no Paraná, a sobretaxa do IPI e a necessidade de investimentos mais elevados acabaram desestimulando algumas empresas. Na área de caminhões, por exemplo, as chinesas têm tido dificuldade porque dependem de índices de nacionalização para que os veículos possam se enquadrar no financiamento do Finame, que tem juros mais baixos.
De concreto, apenas a JAC Motors e a Chery se enquadraram ao novo regime e estão tocando com regularidade seus projetos, mas com atrasos. A JAC, que chegou a contratar a peso de ouro o apresentador Faustão como garoto-propaganda, fechou 15 concessionárias no país. No Paraná, a marca fechou uma das três concessionárias que mantinha.
A montadora, que não retornou o pedido de entrevista da reportagem, esperava inicialmente inaugurar já no fim deste ano sua fábrica em Camaçari, na Bahia, mas jogou para o fim de 2015 o prazo para início das obras. A ideia da empresa é montar 100 mil automóveis de passeio e 10 mil veículos comerciais por ano.