| Foto: Antonio More / Agência de Notícias Gazeta do Povo

Um levantamento do bureau de proteção ao crédito SPC, divulgado neste mês, mostra que muitos brasileiros optaram por ignorar a dívida nos próximos meses porque acreditam estar pagando juros altos. Dos cerca de 37% de devedores que afirmaram que não vão pagar dívidas nos próximos três meses, 45% reconheceram que nem tentaram negociar o valor com o credor, justamente por considerar a cobrança abusiva.

CARREGANDO :)

Confira as seis dicas para renegociar dívidas.

O porcentual dá uma amostra da dificuldade que o devedor tem para conversar com o credor no país. As razões podem ser muitas. Pode ser falta de acesso ao credor ou mesmo incerteza sobre como a negociação deve ser feita. Há ainda comodismo. É o caso de quem espera prescrever o prazo de cinco anos pelo qual serviços de proteção ao crédito podem manter um nome negativado, de acordo com o Código de Defesa do Consumidor.

Publicidade

Além de fazer crescer a dívida, a "estratégia" (ou falta dela) impede que o devedor passe por uma etapa essencial do processo de educação financeira: cair na real. "O acesso fácil ao crédito produz a falta impressão de que estamos prosperando, que temos um padrão de vida mais elevado que antes", avalia o educador financeiro Leandro Ávila, do blog Clube dos Poupadores. "O problema é que estas dívidas estão se acumulando. Conheço leitores que já comprometeram mais da metade da renda familiar com prestações".

Isso não significa, porém, que o consumidor precisa cair em armadilhas para quitar as dívidas. Veja abaixo dicas de especialistas para conseguir negociações boas para todos os lados.

Aprenda a negociar dívidas em 6 lições

- Em vez de parcelar a dívida a perder de vista, Leandro Ávila aconselha o consumidor a poupar o máximo possível, cortando todos os supérfluos, para juntar dinheiro e liquidar o débito de uma vez só. "Para bancos e cartões de crédito é vantajoso renegociar de forma que você fique endividado pelo maior prazo possível. Assim, eles lucram com juros e taxas por mais tempo. Este é o negócio deles: ganhar dinheiro com cobrança de juros", explica. Comunique o credor de que pretende priorizar outras dívidas se não houver espaço para negociação: costuma dar certo.

- O advogado Marcelo Segredo orienta o devedor a procurar saber o valor real da dívida informado ao Banco Central (BC). Esse dado precisa ser prestado ao BC por todas as instituições financeiras. "Geralmente o banco cobra um valor do consumidor e lança outro menor para o órgão", diz Segredo. Essa informação cria um argumento factível para se levar a uma mesa de negociação ou ao judiciário, em último caso. O consumidor precisa levar CPF e RG a um atendimento do BC e pedir nome de usuário e senha para acessar o Serviço de Crédito e Risco (SRC). Em Curitiba, o BC funciona das 9 às 16 horas e fica na avenida Cândido de Abreu, nº 344 (na foto).

Publicidade

- É importante ter uma proposta. Isso significa saber exatamente quanto se está devendo e quanto se pode pagar. Marcelo Segredo sugere que o consumidor suspenda os pagamentos e envie uma carta via correios com aviso de recebimento (AR) para o credor. No caso de banco, use os endereços da matriz e da central de cobrança. A carta precisa ter uma proposta de quitação ou de parcelamento que caiba no orçamento. "Desta forma o consumidor demonstra sua boa fé e idoneidade para o pagamento dessa dívida", diz o advogado, que ressalta que a atitude pode ser usada como prova no caso de processo no Procon ou judicial. Mas é tiro na culatra prometer o que não se pode cumprir. "Quanto mais tranquilo e sereno o consumidor conseguir se manter, falando de forma sincera e verdadeira o quanto pode pagar ou quando pode pagar, melhor será", diz Leandro Ávila.

- Se o credor se recusa a negociar, o jeito é pedir ajuda a órgãos de Defesa do Consumidor. Parte expressiva dos atendimentos do Procon-PR são de consumidores que querem sanar a dívida e não conseguem, diz a diretora do órgão, Cláudia Silvano. "O consumidor não consegue nem falar com o gerente da sua conta no banco. É pior ainda quando se fala de cartão de crédito, porque o único acesso são as centrais de atendimento, que usam texto-padrão", diz ela. O Procon ajuda a forçar uma conversa. Para isso, é preciso que o consumidor inicie o processo, fornecendo documentos que comprovem a dívida e oferecendo uma proposta. A solução é mais fácil no caso das empresas que fazem parte da Central de Resolução do Procon-PR, do qual fazem parte empresas que têm muitas reclamações, mas aceitaram cumprir metas de resolução. Fazem parte da central os bancos Bradesco, Itaú, BMG, Banco do Brasil e Santander. Outra opção é o Projeto Superendividamento, do Tribunal de Justiça do Paraná, para moradores da Região Metropolitana de Curitiba.

- Para evitar armadilhas, valem ainda dicas sobre o que nunca deve ser feito, de acordo com Marcelo Segredo. A primeira é não pagar faturas mínimas por período superior a três meses. Ele também tem opinião radical sobre a tradicional orientação de contrair uma dívida para pagar outra -- nem sempre os juros são o que parecem. "Não caia nessa de trocar uma dívida cara por uma mais barata. Isso é dica de economista que nunca ficou devendo na vida, e não tem ideia de como funciona o sistema bancário", diz ele. Segredo aconselha ainda a nunca renegociar com avalista ou oferecer bens como garantia e a não assumir parcelamentos que comprometem mais de 30% da renda.