O Banco Central voltou a subir nesta quarta-feira (28), durante reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da instituição, os juros básicos da economia brasileira. A taxa avançou 0,75 ponto percentual, passando de 8,75% ao ano, a menor já registrada até o momento, para 9,5% ao ano. É a primeira elevação dos juros em 19 meses.
Veja a repercussão da decisão entre analistas e entidades:
Samy Dana, professor da Fundação Getúlio Vargas
"A expectativa era exatamente essa. O Brasil passa por um crescimento forte e a inflação é uma preocupação. As projeções estão por volta de 5,41%. Então eu acho que era o esperado, como todo mundo já previa desde a última reunião. Acho que não vai pegar ninguém de surpresa. Nas negociações do mercado futuro, já estava incorporado esse 0,75 [ponto percentual de alta]. Pelo menos hoje o mercado já tinha fechado a aposta de 0,75 [ponto percentual]. Se viesse 0,50 [ponto percentual], poderia haver um ajuste amanhã."
Roberto Troster, economista do Conselho Regional de Economia de São Paulo
"Eu achei que ia ser um aumento de um ponto percentual, mas eu era o ponto fora da curva. A percepção era essa mesma, de que o BC estava atrasado, deveria ter aumentado em 0,75 ponto percentual na reunião anterior. Agora ele recupera o espaço perdido. Mas um aumento um pouco mais forte poderia ter sido mais efetivo."
Miguel Daoud, consultor do Global Financial Advisor
"Veio dentro do esperado. O importante foi a unanimidade do BC. Agora eu tenho a impressão que o BC vai aguardar durante esse intervalo até a próxima reunião como fica a expectativa do mercado em relação à inflação. A gente tem aí o início de mais um ciclo de elevação de juros. Eu acho que o desejo do mercado era 0,50 [ponto percentual], mas a necessidade não. Acho que o BC teria espaço até para aumentar um ponto percentual. A expectativa de inflação vinha crescendo por 14 semanas consecutivas. O BC como gestor, se não age com uma mão pesada agora, pode perder o controle da inflação."
Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
"Não há necessidade de subir a taxa de juros, pois existe capacidade instalada na indústria para atender à demanda sem que aconteça pressão sobre os preços. Lamentamos, profundamente, que a produção, o crescimento e o emprego, mais uma vez, sejam os perdedores."
Orlando Diniz, presidente da Fecomércio-RJ
"A alta da Selic vai atingir em cheio o crédito, combustível fundamental para a superação da crise, que tem irrigado a atividade empresarial, o consumo das famílias e, desse modo, o avanço da renda e do emprego formal no Brasil. A elevação da taxa básica de juros será imediatamente repassada à ponta pelos bancos, diferente do que acontece com as reduções, e mais uma vez empresário e consumidor pagarão a conta."
Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústrias de Base
"O caso brasileiro mostra um paradoxo. Enquanto alguns países importantes da Europa passam por uma onda de descrédito e outras nações desenvolvidas lutam para encontrar instrumentos que tragam estabilidade e crescimento econômico, o Brasil, que vive uma fase de expansão da economia, decide adotar medidas de contenção dessa expansão com aumento dos juros como forma de conter o crescimento e assim controlar a inflação. Até quando?"
Artur Henrique, presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores
"Não havia nenhuma razão objetiva para a elevação da taxa básica de juros, a não ser a de aumentar os ganhos dos especuladores em geral, detentores de aplicações em títulos da dívida pública. O preço será pago pelos trabalhadores em geral, seja pela diminuição dos investimentos de parte do setor produtivo, atraído pela especulação, seja pela elevação do custo dos empréstimos ou do endividamento já existente. A taxa do crédito pessoal, hoje superior a 83% ao ano, e a do cheque especial, de 175% ao ano, tendem a subir junto com a Selic."
Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da Força Sindical
"A decisão do Copom é equivocada e perversa para com o setor produtivo, que gera emprego e renda. É lamentável que estejamos virando um paraíso para os especuladores do mundo inteiro, diante da elevada lucratividade paga pela exorbitante taxa de juros do Brasil. O Copom frustra os trabalhadores, que ansiavam por uma queda na taxa básica."