No Brasil, é pouco comum que o indivíduo prepare uma reserva para a aposentadoria comprando ações. Essa é a forma americana de poupança. Por aqui, mais frequentes são os planos de previdência privada, mas ainda imperam aqueles que não mantêm nenhuma reserva. Pesquisa feita pelo banco HSBC em 15 países mostra que 94% dos brasileiros não se sentem preparados para a aposentadoria um número superior à média mundial, que é de 87%. Mesmo assim, tem sido crescente o número de indivíduos que vai ao mercado para garantir uma velhice tranquila.
Uma das razões para a crescente procura pelas ações no planejamento da aposentadoria está no rendimento dos fundos de previdência. "A performance deles quase sempre é muito ruim", diz o consultor em planejamento financeiro Raul Pereira Ribas, da Diversinvest. Segundo dados da Associação nacional de Bancos de Investimento (Anbid), os fundos de melhor performance nessa categoria obtiveram rentabilidades entre 19% e 21% neste ano (até 1.º de setembro). Nesse mesmo período, o Ibovespa rendeu 40%.
Administrar uma carteira de ações para a aposentadoria, no entanto, requer muito mais disposição do investidor do que um fundo de previdência privada. Não se trata mais de, simplesmente, depositar o dinheiro. É preciso escolher as empresas onde será feito o investimento, acompanhar seu desempenho e, eventualmente, mudar de estratégia. Por isso normalmente quem segue essa opção o faz porque já tem algum conhecimento do mercado e se sente seguro para fazer as operações.
Acima de tudo, no entanto, é preciso ter persistência e disciplina. "Essa é a parte mais difícil, as pessoas não têm esse costume", observa Mário de Almeida, gestor da corretora Gradual Investimentos para a Região Sul.
Essa disciplina inclui não se assustar com os altos e baixos do mercado pelo contrário, é preciso usá-los a seu favor para obter melhores resultados no longo prazo. "Os movimentos do mercado podem tanto excitar quanto assustar o investidor", observa Raul Ribas. "Mas ele precisa manter o foco."
Dividendos
Mário de Almeida explica que uma carteira destinada a garantir recursos para a aposentadoria precisa mirar em empresas que paguem bons dividendos e que possam garantir bons resultados no futuro. Essa última exigência deve-se ao fato de que o investimento é planejado para dar frutos dentro de um horizonte de 20 ou 30 anos, por isso é melhor que essas companhias continuem no centro da atividade econômica até lá.
Um exemplo bem fácil de entender é o das companhias energéticas. "Energia é um setor perene na economia, o mundo sempre vai precisar dela", diz Almeida. "Não há risco de essas empresas perderem importância."
Já os dividendos são a parte dos lucros obtidos pela empresa que são distribuídos aos acionistas a cada ano. Por lei, elas precisam entregar pelo menos 20% do lucro aos acionistas, mas muitas fazem bem mais do que isso. "Há empresas que distribuem 95% ou mais", diz Almeida. Os dividendos vão garantir ao investidor uma renda adicional quando chegar a hora de deixar o dia a dia do trabalho. Além disso, ele ainda pode contar com a valorização dos papéis.
Alguns setores da economia se distinguem por terem empresas que costumam pagar bons dividendos. Um deles é o de energia. Outro é o das concessionárias de serviços públicos, que inclui empresas de saneamento (Copasa e Sabesp, por exemplo) e pedágio (CCR e OHL). Bens de capital e serviços financeiros em especial os bancos médios também compõem a lista.