Não adianta sonhar com uma velhice tranqüila sem se preparar financeiramente para o futuro desde a juventude. O alerta é de Renato Follador, um especialista com 20 anos de experiência em previdência. "Num futuro muito próximo, a previdência oficial brasileira não vai conseguir pagar mais de cinco salários mínimos de aposentadoria. Em 15 anos, a idade mínima para se aposentar será de 65 anos. Quem não pretende sofrer uma grande queda de poder aquisitivo ao se aposentar, tem de recorrer à previdência privada", destaca.

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A partir desta quarta-feira, Follador ensina em cinco fascículos, encartados semanalmente na Gazeta do Povo, o que é previdência, sua importância e como se preparar para o futuro. O objetivo da série é mostrar ao público conceitos, exemplos e cálculos sobre diferentes tipos de aposentadoria. "Pelo fato de o governo não informar nem dar publicidade para este tipo de tema, as pessoas confundem muito as informações que recebem sobre previdência", afirma Follador.

No primeiro fascículo da série, o especialista apresenta a Origem, História e Conceitos de Previdência. As publicações seguintes tratam, respectivamente, de INSS, Previdência Complementar Fechada, Previdência Complementar Aberta e Previdência Funcional no Setor Público. "Nossa intenção foi apresentar de forma sistêmica a previdência social, quais as alternativas existentes e que precauções a pessoa deve tomar na hora de contratar uma previdência privada", propõe Follador.

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Engenheiro civil, Follador foi um dos criadores, na década de 80, do fundo de previdência da Itaipu Binacional e presidiu a Paraná Previdência. Atualmente é presidente da J.Malucelli Previdência e professor de pós-graduação em diversas faculdades. Na entrevista abaixo, ele adianta alguns assuntos tratados na série.

Com que idade a pessoa deve começar a se preocupar com a aposentadoria?Quando sai da escola. Existem dois fatores fundamentais em previdência no mundo todo: tempo e dinheiro. Quanto mais você tem um, menos precisa do outro. Se eu começo a contribuir muito cedo, o que eu vou pagar é muito menos do que se eu deixar para depois. Previdência é algo que deveria ser ensinado nas escolas, principalmente no último ano das escolas técnicas e universidades, para aquele jovem que está entrando no mercado de trabalho saber que contribuir com R$ 30 ou R$ 40 por mês, desde cedo, é muito importante para o futuro dele.

Por que contar apenas com a previdência oficial não basta?O brasileiro continua acreditando que o governo tudo pode. Ele não entende que o governo é um simples administrador dos recursos finitos de impostos e que gasta muito mal esse imposto. Além disso, o brasileiro está vivendo muito mais. A população brasileira está envelhecendo no dobro da velocidade que a população dos Estados Unidos envelheceu. Isso significa que não temos controle sobre o fato de no futuro próximo existirem muitos idosos aposentados na população brasileira. O governo brasileiro não se preparou para isso e não há como reverter essa situação, porque o governo perdeu a capacidade de investimento. Os Estados Unidos, dez anos atrás, descobriram que em 2023 estariam gastando mais na previdência do que arrecadavam. Então, começaram gradativamente a aumentar a idade para aposentadoria. Isso não acontece no Brasil. Aqui não há cultura de planejamento, de formação de poupança. O governo perdeu a capacidade de socorrer o aposentado brasileiro. No futuro, haverá mais idosos recebendo e menos jovens trabalhando para pagar a conta, e vai faltar cada vez mais dinheiro.

O senhor prevê que nos próximos anos aumente gradativamente a idade mínima para aposentadoria no Brasil. A solução para os problemas de financiamento da previdência oficial passam necessariamente pela mudança de idade?Não há alternativa. Hoje a idade média de aposentaria é de 55 anos. No ano que vem, obrigatoriamente vai se equiparar à regra do setor público: 60 para os homens e 55 para as mulheres. Só que existe uma proposta de que, em 15 anos, a idade mínima de aposentadoria passe a ser 65 anos, para ambos os sexos. Quando o sistema previdenciário está em desequilíbrio você só tem três alternativas: aumenta a contribuição, diminui a aposentadoria, ou um pouco dos dois. Aumentar a contribuição não dá mais, porque a do Brasil é a maior do mundo. Só resta reduzir o benefício. Há diferentes formas de fazer isso: uma é não repassar a inflação para as aposentadorias – hoje se usa dar aumento maior para as aposentadorias do que para o salário mínimo. A outra é aumentar a idade. A pessoa tem de trabalhar mais tempo, enquanto isso contribui e fica menos tempo aposentado.

Por que com a previdência privada não existe previsão de financiamento?Na previdência oficial, ninguém contribui para pagar a própria aposentadoria. Quem trabalha hoje contribui para pagar aquele que já está aposentado, na esperança de que quando chegar a sua vez de se aposentar exista alguém trabalhando para pagar o benefício. Na previdência privada, esse problema da falta de dinheiro para pagar a previdência não acontece. O dinheiro pago é investido e fica se capitalizando. A pessoa está pagando para ela e não para outra usar.

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