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10 indignados
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A venda de mais de US$ 30 bilhões das reservas internacionais, na tentativa de acalmar o mercado de câmbio, ajudou a reduzir a dívida pública no último mês de 2024. Ao ceder dólares ao mercado em troca de reais, o Banco Central reduziu o estoque das chamadas "operações compromissadas", que são usadas para controlar o volume de dinheiro em circulação e entram na contabilidade da dívida.
Segundo relatório publicado pelo BC nesta sexta-feira (31), a dívida bruta do setor público – que inclui governos e estatais de todas as esferas – encerrou o ano em 76,1% do Produto Interno Bruto (PIB), com queda de 1,6 ponto porcentual (pp) em relação a novembro. E a principal razão foi a venda de dólares e a consequente redução de operações compromissadas.
De acordo com o BC, os resgates líquidos de dívida – em especial, das compromissadas – tiveram impacto de 1,7 pp na redução da dívida pública em dezembro. Outro fator que contribuiu para a queda da relação dívida/PIB foi o aumento do PIB nominal, com efeito de 0,7 pp.
Enquanto isso, a incorporação de juros (+0,7 pp) e a desvalorização do câmbio (+0,1 pp) atuaram em sentido oposto, pressionando a dívida para cima.
Dívida pública cresceu ao longo de 2024, e alívio de dezembro tende a ser passageiro
Apesar da redução na reta final do ano, a dívida pública fechou 2024 acima dos níveis de 2023 (73,8% do PIB) e 2022 (71,7% do PIB). De acordo com o Banco Central, os principais fatores que puxaram o endividamento para cima ao longo do ano foram a incorporação de juros e a desvalorização do câmbio.
As perspectivas para este ano e os próximos são de novos aumentos na dívida. O alívio observado no último mês de 2024, portanto, tende a ser passageiro.
Parte do efeito favorável dos leilões de dólares será revertida em algum momento. Do total vendido, cerca de US$ 11 bilhões foram repassados com compromisso de recompra por parte do Banco Central. Quando esse dinheiro "retornar", o Banco Central fará operações compromissadas para enxugar a liquidez da economia – o que vai elevar a dívida, conforme explicou o chefe-adjunto do Departamento de Estatísticas Fiscais do Banco Central, Renato Baldini.
À parte o efeito das operações compromissadas, que é limitado, dois fatores devem ser preponderantes para a dinâmica da dívida pública: a taxa básica de juros e as finanças do governo. A Selic vem sendo elevada pelo Banco Central, e o juro mais alto tende a elevar o endividamento público. Em paralelo, o mercado financeiro acredita que o governo federal terá novo déficit primário em suas contas, e esse saldo negativo também empurra a dívida para cima.