Os aumentos no preço da gasolina devolveram a competitividade ao etanol, que vem ganhando a preferência dos motoristas. Em abril, as vendas de etanol hidratado chegaram a 1,5 milhão de metros cúbicos, maior volume mensal desde o final de 2009, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). No acumulado do primeiro quadrimestre, as vendas de hidratado subiram 32,5% em relação ao mesmo período de 2014, enquanto a gasolina comum teve queda de 3,5%.
Em junho, enquanto o preço do litro da gasolina é de R$ 3,30 na média nacional, o do etanol hidratado é de R$ 2,12, equivalente a 64,3% do derivado do petróleo – abaixo, portanto, da marca de 70% habitualmente usada para definir até que ponto o álcool é competitivo.
Além da reação do etanol, a queda de 14% do preço internacional do açúcar contribui para a previsão de uma safra mais alcooleira em 2015. A União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) prevê que na safra recém-iniciada 42% da cana será direcionada para o açúcar e 58%, para o etanol, cuja produção deve atingir 27,28 bilhões de litros – 10,95 bilhões de anidro (misturado à gasolina) e 16,33 bilhões de hidratado. Para segurar a oferta e manter a rentabilidade na entressafra, as unidades devem trabalhar com amplos estoques de álcool.
Outros dois fatores contribuem para a ascensão do etanol. Primeiro, a queda do ICMS em alguns estados e o aumento da tributação sobre a gasolina em R$ 0,22 por litro via retomada da Cide e PIS/Cofins. Em segundo lugar, o aumento da mistura de anidro na gasolina, que em março passou de 25% para 27%, após meses de negociações com o setor sucroenergético e a indústria automobilística, também deve gerar uma demanda extra, estimada em 1,36 bilhão de litros em um ano.
A consultoria Datagro espera que ao longo de 2015 o consumo de etanol para uso combustível ultrapasse o volume de gasolina A (pura), repetindo o fenômeno ocorrido entre 2009 e 2010. “Se o preço do etanol cair ainda mais em relação à gasolina, devemos assistir a um aumento do consumo do etanol ainda maior, pois a frota atual de carros flex é muito maior do que em 2009”, diz o presidente da Datagro, Plínio Nastari.
No entanto, os especialistas consideram prematuro dizer que o cenário atual é o bastante para uma retomada de investimentos nas usinas, principalmente devido à falta de regulamentação para fixação do preço da gasolina, o que daria segurança aos investidores. “Temos um ânimo positivo, o etanol pode compensar o preço do açúcar. Mas o valor do etanol está na média dos últimos 13 anos e os custos de produção aumentaram, prejudicando a rentabilidade. Vai haver uma reestruturação, as unidades mais eficientes devem cobrir os custos e adquirir as que estão em dificuldades, mas precisamos de empenho do governo”, diz Mirian Bacchi, pesquisadora do Cepea e professora da Esalq/USP.
Segundo a Unica, o setor encerrou 2014 com um total de 80 usinas paradas ou em processo de recuperação judicial, e a previsão é de mais dez neste ano. “No curtíssimo prazo, temos que voltar para o azul. Pra isso, precisamos de medidas políticas estáveis, regulação de preço e estímulos pra melhorar eficiência do etanol no carro flex, fatores que podem aumentar a confiança no investidor”, diz Elizabeth Farina, presidente da entidade.