Pirataria causa prejuízo bilionário a donos de marcas e licenciados
Parasita do mercado de licenciamento de marcas, a pirataria se aproveita do sucesso de personagens populares e cresce paralelamente, preocupando licenciados e detentores das marcas, além do governo e entidades que lutam contra a prática. Segundo o Fórum Nacional Contra a Pirataria (FNCP), em 2013, somando os dados de 13 dos 30 setores representados pela entidade, houve uma perda de R$ 24 bilhões em vendas devido à pirataria.
Esse montante não inclui setores como roupas, material esportivo e filmes, que estão entre os mais prejudicados. "É um dado alarmante e mostra como a falsificação não tem nada de inocente, existe uma estrutura comercial criminosa que se utiliza de meios sofisticados para ganhar dinheiro com uma concorrência desleal", diz Edson Vismona, presidente da FNCP.
Uma boneca original da Peppa Pig, por exemplo, custa R$ 80, enquanto uma imitação pirata custa R$ 25, já que não inclui impostos ou royalties e usa matéria-prima de má qualidade e mão de obra ilegal. "É importante acabar com a ideia de que se está levando vantagem por pagar menos da metade do preço, quando na verdade é um produto de baixa qualidade que pode prejudicar a saúde e a segurança de quem usa", alerta Vismona.
Segundo o executivo da Estrela Aires Fernandes, a alta tributação é a principal causa de o Brasil estar entre os países com os brinquedos mais caros do mundo, já que 50% do valor se deve a impostos. "O governo e a população não entendem que o brinquedo tem uma função pedagógica no desenvolvimento intelectual, cognitivo e motor da criança e deveria ser desonerado."
"O país precisa de uma reforma tributária urgente, mas nada é justificativa para alimentar a ação criminosa da pirataria, precisamos defender o mercado brasileiro", diz Vismona, que aponta a ação conjunta das empresas do governo e da sociedade civil como a melhor solução para o problema.
Fenômeno de popularidade entre as crianças, a personagem Peppa Pig deve ajudar o setor de produtos licenciados a driblar a queda no comércio no país e terminar 2014 com um crescimento de 4%, com previsão de faturamento de aproximadamente R$ 12,9 bilhões, segundo a Associação Brasileira de Licenciamento (Abral).
Mesmo com a Copa do Mundo, considerada vilã do varejo, o índice deste ano mantém o desempenho de 2013, também de 4%, quando os produtos licenciados renderam aproximadamente R$ 12,4 bilhões. Segundo a Abral, o Brasil está entre os seis países com maior faturamento em licenciamento de marcas do mundo, sendo EUA, Japão, Inglaterra, México e Canadá os mais expressivos.
"Os produtos licenciados são um grande aliado de indústrias e comerciantes em momentos de crise, pois garantem a venda mesmo em tempos difíceis, são uma ferramenta de marketing que pode arrecadar aproximadamente 20% a mais do que os produtos não associados a uma marca ou personagem", diz Marici Ferreira, presidente da associação.
O premiado desenho animado britânico Peppa Pig, sucesso em mais de 180 países, chegou à tevê brasileira em abril de 2013, exibido pelo canal Discovery Kids, e ajudou a alavancar a venda de licenciamentos no país. "É o grande fenômeno deste ano, um daqueles licenciamentos que acontece uma vez a cada dez anos", diz Aires Fernandes, diretor de marketing da Estrela.
Segundo ele, dez anos depois de seu lançamento, a personagem vende até 18 vezes mais que no início. Entre as líderes do mercado no setor de brinquedos, a Estrela prevê um crescimento de 10% em 2014, sendo os produtos licenciados responsáveis por 30% de seu faturamento.
Além da porquinha cor-de-rosa, Marici aponta como líderes de faturamento em licenças as marcas internacionais Disney, Warner, Hot Wheels e Barbie. "As nacionais representam entre 10% e 15% dos licenciamentos, mas estão crescendo muito com marcas como a Galinha Pintadinha, Patati Patatá, Turma da Mônica e Meu Amigãozão."
Avalanche
Apesar do crescimento, Fernandes lamenta a postura das donas das marcas, que por buscar lucro a curto prazo, acabam "leiloando" as licenças e fatiando entre várias empresas. "É uma avalanche tão grande de licenciados e produtos que confunde o consumidor e alguns fenômenos falecem após dois ou três anos em vez de manterem uma licença a longo prazo", diz.
Dados da Abral indicam que dentre 20 mil indústrias que poderiam investir em marcas licenciadas, apenas 800 o fazem. "Algumas indústrias nem sequer sabem o que é o licenciamento ou deduzem que tem um custo muito além de seu alcance", diz Marici, que tem entre suas missões informar os empresários sobre o potencial do setor.
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