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de porta em porta

Venda direta mobiliza exército de mais de 4 milhões de vendedores no Brasil

Aposta acertada: Myrane Noronha trocou o emprego principal pela venda de produtos da empresa Mary Kay | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Aposta acertada: Myrane Noronha trocou o emprego principal pela venda de produtos da empresa Mary Kay (Foto: )

Uma das consequências do cenário de recessão econômica que o país atravessa é que os consumidores têm ido menos ao comércio. Dados do estudo Consumer Insights, elaborado pela Kantar Worldpanel, indicam que no ano passado houve, em média, quatro visitas a menos aos pontos de venda em comparação com 2014. Uma das alternativas das empresas para manter contato com os clientes é recorrer ao modelo de vendas diretas, que atualmente conta com 4,4 milhões de revendedores em todo país, cerca de 50 mil a mais que o registrado no primeiro trimestre do ano passado.

Em 2015, este exército de vendedores foi responsável por movimentar R$ 41,3 bilhões em volume de negócios. No primeiro trimestre deste ano, o segmento já vendeu R$ 9,1 bilhões, valor que representa uma retração de 2,7% em comparação com o mesmo período do ano passado.

Para a diretora-executiva da Associação Brasileira de Empresas de Venda Direta (ABEVD), Roberta Kuruzu, esta queda está relacionada à retração do PIB do país. “Apesar das incertezas em relação à situação macroeconômica, o volume de negócios no setor teve uma queda pequena nesse primeiro trimestre, o que representa um sinal positivo e reforça a importância das vendas diretas não apenas como renda complementar como até mesmo principal fonte de receita para as famílias brasileiras”, avalia.

No mundo

Com os resultados apresentados em 2015, o mercado de vendas diretas no Brasil terminou o ano como o sexto maior do mundo. Além disso, entre as 10 maiores empresas globais do segmento , a brasileira Natura está no oitavo lugar, com R$ 7,9 bilhões de receita líquida no ano passado.

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Esta modalidade de vendas tem atraído novas empresas para o segmento. Entre as companhias que decidiram aderir às vendas de porta em porta está a Cacau Show, que conta com 2.200 lojas em todo o Brasil.

Segundo Daniel Roque, gerente de novos canais da empresa, o atual cenário econômico, o potencial de faturamento do setor e oportunidade de se aproximar dos clientes foram os motivos que impeliram a Cacau Show a investir neste formato de venda.

“As lojas físicas estão em determinados pontos do país, são mais de mil cidades, mas o país tem mais de 5.500. Não conseguimos chegar com lojas em todos os municípios brasileiros, mas vamos chegar com os revendedores e com isso nós possibilitamos que as pessoas que vêm nossa propaganda na TV possam consumir nosso produto”, diz Roque.

Para este primeiro ano de funcionamento do novo canal de vendas, a meta da Cacau Show é chegar a 30 mil revendedores e faturar perto de R$ 70 milhões, o equivalente a 7% do faturamento total da companhia. Nos próximos três anos, o objetivo é contar com 200 mil revendedores que vão gerar de 25 a 30% do faturamento da empresa.

A empresa de maquiagem Contém 1G também voltou a apostar no modelo, que no passado já foi o canal exclusivo de vendas da companhia. Daniel Rubini, diretor de novas oportunidades da empresa, conta que o objetivo da companhia é chegar a 5 mil revendedores até o fim do ano.

“Nós queremos chegar a 10% do faturamento com o novo modelo e nosso plano de expansão contempla 1.500 municípios”, diz.

Modelo ainda é confundido com pirâmide financeira

O segmento de vendas diretas, principalmente quando funciona no modelo multinível – quando o revendedor recebe uma margem das vendas feitas por pessoas que ele indicou –, é visto como uma pirâmide financeira.

Esse esquema é proibido no Brasil e algumas empresas já foram proibidas de atuar no país por adotarem este modelo. O caso mais famoso é o da Telexfree, que vendia serviços de telefonia pela internet e teve as operações suspensas em 2013.

A diretora-executiva da ABEVD, Roberta Kuruzu, disse que para evitar entrar em um esquema de pirâmide é importante não acreditar em promessas milagrosas e fugir de modelos que dependam substancialmente da angariação de novos vendedores.

Fonte: Associação Brasileira de Empresas de Venda Direta. Infografia: Gazeta do Povo.

Venda direta é alternativa para complementar renda

Não são só as empresas que têm recorrido às vendas de porta em porta como forma de aumentar seu faturamento. Para os revendedores, o modelo também é uma oportunidade de manter o poder de compra ou garantir o orçamento doméstico depois de uma demissão.

Na Cacau Show, segundo conta o gerente de novos canais, Daniel Roque, a maioria dos revendedores já tem um emprego e usa as vendas para complementar a renda. “A nossa compra média mensal está em torno de R$ 700. Desta forma, os revendedores conseguem incrementar o salário com valores que variam entre R$ 300 e R$ 350”, relata.

Esse também é o valor que a esteticista Viviane de Oliveira costuma faturar vendendo cosméticos da marca Avon. Ela aproveita as clientes em quem faz procedimentos estéticos para vender os produtos e aumentar a renda mensal. “Falo bastante com as mulheres, além das minhas clientes de limpeza de pele eu vendo aqui na minha vizinhança”, diz. Ela conta que às vezes é possível faturar R$ 500 com as vendas. “O dinheiro das vendas eu gosto de usar para mim mesma. Normalmente é esse dinheiro que eu uso para ir ao salão de beleza”, conta.

Utilizar a rede de contatos do emprego formal parece ser uma boa forma de revender produtos. A fisioterapeuta Simone Abreu, que vende artigos da Natura, trabalha em dois hospitais de Curitiba e tem os outros funcionários como seus clientes fiéis. “Eu não posso fazer vendas dentro do hospital, então chego antes do horário de trabalho com os produtos todos no meu carro para atender aos pedidos. Eu vendo para todo mundo no hospital, dos médicos ao pessoal da limpeza. Sempre alguém precisa comprar um presentinho”, diz.

Segundo ela, o complemento de renda é quase equivalente ao valor de seu salário e em muitos momentos é o que garante o pagamento das contas.

Ocupação principal

Em alguns casos, a atividade que começou como forma de ganhar dinheiro extra acaba sobrepondo o emprego principal. Esse é o caso de Myrane Noronha, que durante quatro anos conciliou a venda de produtos da empresa americana Mary Kay com um emprego na PUC-PR.

“Chegou um momento que a Mary Kay cresceu tanto que eu tive que escolher. Pela flexibilidade de horário, pelos ganhos e reconhecimento eu acabei saindo do meu emprego formal”, conta Myrane, que agora é diretora de vendas independente da Mary Kay.

Atualmente, a Mary Kay, que chegou ao Brasil em 1963, tem mais 440 mil pessoas em sua equipe de vendas independente, 140 mil a mais que em 2014. Myrane conta que o trabalho exige disciplina.

“É uma carreira independente, a gente não tem chefe, os resultados são por merecimento, então precisa ser muito disciplinado”, relata. Segundo ela, foi a nova ocupação que trouxe estabilidade financeira e que permitiu também a conquista da casa própria.

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