As vendas de veículos automotores como carros, caminhões e máquinas agrícolas fecharam o ano de 2022 com 2,1 milhões de unidades comercializadas pelas montadoras e concessionárias brasileiras, de acordo com balanço da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) divulgado nesta sexta (6).
O volume é 0,7% menor do que em 2021 e foi provocado principalmente pelos juros cobrados nos financiamentos, que chegam a somar ao valor final praticamente o mesmo do próprio veículo. A Copa do Mundo em dezembro também fez diminuir as vendas em uma época que normalmente é de negócios mais aquecidos, segundo a entidade.
Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, explica que o aumento da taxa básica de juros, a Selic, ao longo do último ano a 13,75% ao ano afetou diretamente os encargos de financiamentos. E isso fez segurar as vendas não apenas pela lenta recuperação da economia no pós-pandemia.
“Se quisermos ter um mercado que ultrapasse a venda de dois milhões de unidades, precisamos repensar o crédito. O consumidor precisa contar com um crédito acessível, que hoje é da ordem de 30% ao ano, sendo quase 100% de custo financeiro em três anos”, diz ressaltando que o Brasil tem potencial para elevar a venda de veículos a mais de três milhões de unidades, chegando a até mesmo cinco milhões de acordo com estudos feitos pelas 57 montadoras que atuam no país e que estão com capacidade ociosa de produção.
Na comparação com 2019, ano de referência de normalidade para o mercado, as vendas de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus tiveram uma queda de 24% Por outro lado, a produção já soma uma queda menor, de 19% no período, o que aponta uma recuperação mesmo com a recente crise da falta de semicondutores que afetou as montadoras de todo o mundo principalmente no primeiro semestre de 2022.
Lima Leite explica que o Brasil deixou de fabricar em torno de 250 mil veículos por falta de semicondutores no ano passado. Na comparação de 2022 com 2021, as montadoras instaladas no país produziram 2,37 milhões de unidades, um aumento de 5,4% que teria sido maior se não fosse a falta do componente.
Desempenho do agro tem sido melhor, e exportação surpreendeu
Por outro lado, as vendas de veículos pesados principalmente voltados ao agronegócio, como colheitadeiras e grandes equipamentos, tiveram um desempenho melhor, com uma alta de 16,5% em 2022 na comparação com 2021. Foram 61,4 mil unidades contra 52,7 mil.
Alexandre Bernardes, vice-presidente da Anfavea na área de agronegócio, explica que a produção de colheitadeiras foi duplicada no Brasil em 2022, passando de oito mil unidades. Ao todo, a exportação de veículos aumentou 27,8% em 2022 na comparação com 2021, mas também poderia ter sido maior se não fossem fatores externos.
“O setor como um todo vem sofrendo com as restrições da Argentina, e temos também a dificuldade logística com problemas com navios nos últimos meses, que está sendo equacionado”, diz sendo complementado por Lima Leite de que foi ligado o sinal de alerta na indústria brasileira por conta da crise no país vizinho.
De acordo com ele, não só as máquinas agrícolas, mas todos os tipos de veículos foram afetados pela crise econômica argentina. “Isso é uma agenda prioritária para o governo brasileiro, nós precisamos da Argentina e a Argentina precisa do Brasil. Nossos investimentos são para a região, os investimentos são para os dois países, como um mercado só. Esse desbalanceamento acende uma luz amarela preocupante”, diz.
A Argentina teve uma queda de 6 pontos percentuais na participação das vendas brasileiras de veículos ao exterior, passando de 35% para 29% do montante exportado. Parte disso foi compensado pelo México, Colômbia, Chile, Uruguai e Peru.
Setor não espera grandes vendas em 2023, mas há a expectativa de novas políticas públicas
A Anfavea projeta que as vendas de veículos automotores cresçam 3% em 2023, impulsionadas pela comercialização de veículos leves e a expectativa de políticas públicas de incentivo à renovação da frota, eletrificação e descarbonização.
Há, ainda, a expectativa para o andamento da reforma tributária, que pode ajudar a diminuir os juros cobrados nos financiamentos, principalmente após alguns estados brasileiros elevarem as alíquotas de referência do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Embora o tributo não impacte diretamente no valor dos automóveis – que conta com um regime diferenciado –, a alíquota maior atinge a venda de peças e outros serviços.
“Doze estados aumentaram a alíquota de ICMS, a alíquota referencial. Isso impacta nas peças, no custo para o consumidor. Não podemos trabalhar com aumento de impostos neste momento”, disse o presidente da Anfavea.
A entidade também vem mantendo conversas com o novo governo, desde a transição, para retomar a plena capacidade de produção e de vendas de veículos automotores no Brasil com uma ampla agenda de demandas que inclui a reindustrialização e o fortalecimento da cadeia de suplementos; a melhoria na logística; a redução dos custos de produção, comercialização e tributário; a promoção às exportações e novos acordos comerciais bilaterais com a participação do setor para conter o avanço de países como o México e a China no fornecimento de veículos para o mundo.
"É uma agenda que vai nos permitir retomar a marca de três milhões de veículos produzidos”, arremata Márcio de Lima Leite.
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