As vendas de Natal no comércio paranaense cresceram 9% em relação ao mesmo período do ano passado, índice que superou a expectativa de um aumento entre 6% e 8% da Associação Comercial do Paraná (ACP). Em todo o país, a Serasa (que centraliza informações de crédito) informou que, de 12 a 24 de dezembro, a elevação média nas vendas foi de 5,4%. Apesar disso, não é difícil encontrar lojistas que reclamam do resultado deste ano e também do horário estendido, que permitiu ao comércio de rua manter as portas abertas até as 22 horas e levou alguns shopping centers a permanecerem abertos até as 2 horas da madrugada.
O crescimento no Paraná foi detectado a partir dos dados do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), indicador de compra a prazo, e do VideoCheque, que sinaliza negócios à vista, ambos oferecidos pela ACP. A entidade divulgou ontem que em dezembro foram feitas 55.718 consultas frente às 51.118 de dezembro de 2005. Os dados das organizações do comércio não incluem a massa de operações com cartão de crédito e de débito. Tampouco contabilizam a venda com dinheiro.
De acordo com o vice-presidente de serviços da ACP, Élcio Ribeiro, a demanda foi maior do que se esperava porque o trabalhador utilizou a primeira parcela do 13.º salário paga até 30 de novembro para antecipar as compras de Natal, quando, normalmente, esse dinheiro é destinado para quitar dívidas, como pregam os consultores em finanças pessoais. Segundo técnicos do Serasa, o aumento nos índices de emprego formal, as facilidades de crédito, a queda na taxa de juros e a recuperação na renda dos trabalhadores também ajudaram nos resultados. Ribeiro diz que isso tomou até o comércio de surpresa, que esperava um aquecimento nas vendas somente com a liberação da segunda parcela do 13.º que, pela legislação, deve ser obrigatoriamente paga até o dia 20 de dezembro.
"Foi um Natal muito bom, tanto que o comércio teve que fazer pedidos de última hora para a indústria, o que gerou até sobra de mercadoria", explica. Por causa disso, o período pós-Natal deve ser bom para o consumidor que ainda tiver algum dinheiro e quiser aproveitar preços baixos nas já tradicionais liqüidações de fim e começo de ano.
Um comerciante que sentiu aumento nas vendas foi Rafael da Conceição, proprietário da loja Misma Fitness, do ParkShopping Barigüi, em Curitiba. "Tive um crescimento nas vendas em torno de 15%, principalmente nos 15 dias antes do Natal", conta. De acordo com ele, o horário estendido que o centro comercial adotou foi um dos grandes responsáveis pelo bom resultado. "Foi muito melhor do que no ano passado, quando o shopping ficou aberto 32 horas seguidas. Ninguém compra nada depois das 2 horas." Neste ano, o Barigüi optou por estender para as 2 horas o horário de fechar as portas, do dia 20 ao dia 23. Por outro lado, alguns lojistas não foram tão beneficiados pelo horário diferenciado.
Ana Paula Claumann, gerente da Be Art Fashion, localizada na Rua XV de Novembro, centro da cidade, diz que as vendas da loja de vestuário devem ter caído cerca de 30% neste Natal. "Abrimos até as 22 horas só na última semana, porque não houve venda no horário estendido. Foi muito abaixo da expectativa", lamenta. Segundo o vendedor Luiz Antonio da Cunha, da loja de móveis e utensílios domésticos Moda Casa, na rua Marechal Deodoro, também no centro, este Natal foi um dos mais fracos dos últimos 10 anos. "O horário estendido não surtiu efeito. Tenho colegas em outras lojas que também estão reclamando", conta. A vendedora Cléia Tieppu, da Casa dos Cosméticos, na praça Carlos Gomes, ainda no centro, reforça o coro. "Vendemos a mesma coisa que no ano passado, se não caiu o volume", compara. Quanto ao horário estendido, Cléia diz que não adiantava manter a loja aberta até as 22 horas. "Essa rua tem pouco movimento."