O comércio varejista do Paraná reúne segmentos com forte crescimento nas vendas, como informática, material de construção e veículos, mas a maior parte dos ramos comerciais como supermercados, vestuário e móveis cresceu abaixo da média nacional. Os dados referentes ao período entre janeiro e julho deste ano foram divulgados nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Na comparação com julho do ano passado, o comércio do estado vendeu 6,6% mais em volume (ante média nacional de 9,2%) e obteve receita 9,8% maior. No ano os valores acumulados são de 7,2% e 8,2%, respectivamente. Na comparação com junho e ajuste sazonal, o Paraná tem alta de 1%.
De acordo com um dos coordenadores do levantamento, o pesquisador Nilo Macedo, do IBGE, o fato de a maior parte dos setores do comércio do Paraná apresentar valores inferiores aos nacionais deve-se a razões variadas que incluem o forte crescimento do estado de São Paulo, que eleva a média nacional, e a lenta recuperação das exportações, que caíram nos últimos dois anos na esteira da crise do campo e demoram para recuperar o ritmo. "O Paraná sofreu muito com a perda de rentabilidade das vendas externas, mas sem dúvida se recupera, ainda que lentamente", diz Macedo.
O presidente do Sindicato de Exportação e Importação do Estado (Sindiexpar), Zulfiro Bósio, concorda que os setores mais expressivos, como agronegócio, veículos e bens de capital recuperaram parte do vigor e devem estimular uma alta no faturamento das exportações até o fim do ano entre 10% e 15%.
O principal vetor do crescimento agrícola é o aumento no preço das commodities, mas a rentabilidade continua baixa com o real valorizado. "Considerando a baixa cotação do dólar, não avançamos muito", pondera Bósio.
A recuperação do agronegócio também pode ser vista nos números do segmento de combustíveis. Na comparação de julho deste ano com julho de 2006, a receita do setor cresceu 9,5%, ante alta de 1,6% no país o que indica a recuperação do agricultor, que gastou mais com diesel para tratores e caminhões. Já no acumulado dos 12 meses, a receita caiu 3%. "O período de 12 meses anteriores a julho traz consigo as perdas da safra passada", explica Macedo.
Mais renda
Outra modificação importante no cenário estadual é o ganho de poder aquisitivo das famílias, que somado ao câmbio desvalorizado permitiu a muitos comprar o primeiro computador. De janeiro a julho, a alta é de 11,3% em relação ao mesmo período do ano passado, ante aumento de 6,7% no país. O setor poderia impactar mais no resultado da pesquisa, mas tem pouco peso em relação aos demais.
O comércio de veículos (ao lado de materiais de construção, é incluído na pesquisa de "varejo ampliado"), com alta de 21,5% no ano, também passa por expansão devido ao aumento de crédito e prazos alongados. A alta da renda se reflete no crescimento das vendas dos supermercados, superior a 9% na comparação de mês e ano.
Outro termômetro da renda é a alta no comércio de materiais de construção. Até julho o varejo paranaense vendeu 25% mais em relação ao ano passado, ante crescimento de 13% no país. "Mais da metade se refere a pequenas reformas habitacionais", diz o presidente do Sindicato da Indústria da Construção do estado (Sinduscon), Hamilton Franck.
A área liberada para construção no semestre foi de 847 mil metros quadrados, aumento de 32% na comparação com o mesmo período de 2006. Entre as novas obras, a maior demanda é por imóveis de até 75 metros quadrados ao preço de até R$ 100 mil.
Para o coordenador do curso de Ciências Econômicas da Unifae, Gilmar Mendes Lourenço, apesar da alta na renda e aumento de vendas em setores específicos, o resultado do comércio revela tendência pouco promissora para o Paraná. Mesmo considerando o impacto do reflexo tardio da crise do agronegócio de 2005 e 2006, outros fatores podem "emperrar" o comércio nos próximos meses, como a exaustão do endividamento da população.
Lourenço faz prognóstico pouco animador para os próximos meses devido à provável interrupção do ciclo de redução das taxas de juros e o atraso no plantio da safra 2007-2008, devido à estiagem. "Parece razoável supor um cenário menos animador para o comércio varejista regional no começo de 2008."