O comércio começa a dar sinais de reação. Em agosto, o movimento de vendas das lojas foi 1,1% maior em relação ao mesmo mês do ano passado. Uma variação positiva anual não acontecia desde abril de 2015.
Também na comparação com julho houve crescimento no volume de negócios, de 1,5%, apontam os dados da Boa Vista SCPC, que acompanha o desempenho do varejo com base nas consultas feitas pelas empresas varejistas para dar sinal verde ao fechamento dos negócios.
“Ainda é cedo para saber se é uma tendência”, diz o economista da Boa Vista SCPC, Flávio Calife. Diante dos resultados, ele prefere tratar essa melhora como um “suspiro”, já que no acumulado de 12 meses até agosto, a variação não é tão animadora: queda de 4,7%.
Um dado que chama atenção é que o segmento de móveis e eletrodomésticos, tradicionalmente muito dependente de crédito, está puxando a recuperação das vendas. Na comparação com agosto do ano passado, o movimento do varejo nesse segmento aumentou 5,7% e, em relação a julho, feito o ajuste sazonal, o acréscimo foi de 4,4%. “Não tenho uma explicação para o resultado positivo nesse segmento, pode ser um caso isolado”, diz Calife.
No entanto, ele diz que há alguns meses vem ocorrendo uma reversão gradual. A questão é a sustentabilidade dessa retomada. “O maior problema para a recuperação do varejo é o mercado de trabalho”, diz o economista.
“Menos pior”
Essa também é a avaliação da economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Marianne Hanson. “O cenário está menos pior”, diz. Ela pondera que, normalmente, no segundo semestre do ano, o ritmo de atividade melhora por questões sazonais de proximidade do fim de ano. Mas, na sua opinião, ainda existem grandes entraves à sustentabilidade da recuperação, que é o desemprego em alta e os juros elevados.
Apesar desse quadro ainda negativo, a economista aponta dois fatores que estariam ajudando a reverter o panorama das vendas. Um deles é a melhora da expectativa, já captada pelos índices de confiança tanto do consumidor como dos empresários. O segundo fator é a desaceleração da inflação.
Esses dois fatores combinados levaram a CNC a revisar para cima as projeções de vendas do comércio para este ano. Para o varejo restrito, que não inclui materiais de construção e veículos, a expectativa que, até meados do ano, era de uma queda de 5,4%, agora está em 5,2%. No caso do varejo ampliado, que inclui os dois segmentos, o recuo anteriormente projetado em 9,8% foi revisto para uma queda de 9,4%.
Mesmo com as revisões, Marianne ressalta que o cenário para o varejo ainda é crítico e que 2016 será um dos piores anos para o comércio nacional. “Caso se confirme a projeção para a variação das vendas do varejo restrito (-5,2%) e do varejo ampliado de (-9,4%), os volumes de vendas alcançarão o menor patamar desde, respectivamente, 2011 e 2009”, afirmou a economista.