Toda vez que o executivo Lúcio Pinto pede passagens e reserva de hotel para sua secretária, ele aciona uma rede de negócios que movimentou US$ 32 bilhões no mercado brasileiro no ano passado. Diretor comercial de uma multinacional do setor automotivo, ele acumula 100 mil milhas por ano nas viagens que faz ao Japão, sede da companhia, Argentina, São Paulo e outros destinos corporativos. A rotina contribuiu para o crescimento de 13% entre 2011 e 2012 no segmento de viagens de negócios e eventos no país, que deve repetir o desempenho este ano.
Na conta das viagens corporativas entra tudo o que é pago por CNPJ. Essa despesa ocupa o terceiro lugar no orçamento empresarial, atrás dos recursos humanos e dos custos operacionais. Como receita, corresponde a 70% do movimento das companhias aéreas. "Sem as viagens corporativas, o aeroporto de Congonhas [o mais movimentado do país] fechava", exemplifica o economista Hildemar Brasil, responsável pelos Indicadores Econômicos das Viagens Corporativas (IEVC), divulgado anualmente pela Associação Latino-Americana de Gestores de Viagens Corporativas (Alagev).
Somente a unidade da Jtekt em São José dos Pinhais, onde Lúcio Pinto trabalha, gasta mais de R$ 1 milhão em viagens corporativas por ano, com mais de 20 deslocamentos mensais realizados pelos seus funcionários. O ritmo não diminui nem em tempos de economia mais lenta. "As empresas não cortam viagens, cortam custos. Hoje, viaja-se mais, gastando menos. Por isso o segmento é tão aquecido e promissor", explica o economista Brasil. A crise, nesse caso, é motor. "Quanto maior a crise, mais a empresa precisa prospectar clientes", explica Edmar Bull, presidente da Associação Brasileira das Agências de Viagens Corporativas (Abracorp).
As agências especializadas em gerenciamento de viagens corporativas (TMCs, na sigla em inglês para Travel Management Company) são exemplos da evolução do mercado em duas frentes: a criação de novos nichos e a preocupação das empresas com a gestão de suas políticas de viagem. Quando mal administrada, a área pode acumular prejuízos de até 15% do total investido em eventos e viagens. Além de prestar consultoria para elaborar as regras para uso otimizado dos recursos e dar suporte na realização de eventos corporativos, as TMCs podem trabalhar como administradoras. "Temos ferramentas próprias para pesquisa de preços e reservas e know-how para estabelecer convênios entre fornecedores e clientes, de acordo com o perfil da empresa", explica Flávia Freitas, da Starover Turismo, de Curitiba, especializada em viagens corporativas.
Curitiba na rota dos eventos corporativos
Um bate-e-volta entre Curitiba e São Paulo ou um jogo da Copa do Mundo fazem parte da cesta dos produtos de viagens corporativas. Reuniões empresariais, viagens de incentivo, congressos e exposições são as áreas que compõem a sigla MICE (Meetings, Incentives, Conferences and Exhibitions), que define o segmento. Das dez classificações de negócios em turismo, a das viagens de negócios é a mais expressiva. Mais da metade (52%) dos visitantes de Curitiba no ano passado foi empresarial ou ligado a eventos. A capital foi sede de 332 eventos técnico-científicos em 2012 e tem projeção para aumentar esse movimento em 15% durante 2013.
De acordo com os Indicadores Econômicos das Viagens Corporativas (IEVC), Curitiba está em quinto lugar no ranking nacional de viajantes do segmento, com 358 mil visitantes por ano, atrás de São Paulo (1,5 milhão), Rio de Janeiro (1,1 milhão), Brasília (478 mil) e Belo Horizonte (428 mil).
"O turismo corporativo é naturalmente comprado, mas não é vendido", explica do consultor Aldo Carvalho, coordenador estadual de Turismo do Sebrae. A entidade capitaneia um estudo que pretende diagnosticar oportunidades e gargalos em seis municípios paranaenses (Curitiba, Foz do Iguaçu, Maringá, Londrina, Cascavel e Ponta Grossa). Os primeiros resultados devem sair em maio.
A meta para Curitiba é ousada: estar em terceiro lugar no ranking nacional de visitantes corporativos em quatro anos. Para isso, os coordenadores do estudo (da Fecomércio, Sesc-Senac, Secretaria de Estado de Turismo e Federação dos Conventions & Visitors Bureaux) buscaram referências nas ações realizadas em Barcelona, Espanha, considerada modelo do segmento corporativo.
Outro estudo que vai nortear investimentos por aqui é o Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável (PDITS), do Ministério do Turismo. O diagnóstico detalhado levanta desde a situação dos estacionamentos em pontos turísticos até a condição de equipamentos como centros de eventos. "Curitiba não tem um lugar para grandes feiras e exposições. O Ippuc está estudando três locais onde a prefeitura poderá construir um recinto moderno, com um centro de convenções para 5 mil pessoas e espaços multiusos", diz Paulo Colnagui, presidente do Instituto Municipal de Turismo. A expectativa é entregar o equipamento até o fim da administração de Gustavo Fruet, em 2016. Colnagui cita ainda dois projetos da iniciativa privada, em fase de avaliação pelos investidores.