Brasília - O resultado negativo do Brasil nas suas transações com o exterior cresceu em janeiro e atingiu seu pior nível desde dezembro de 2009. O déficit também foi o maior para meses de janeiro desde 1947, quando teve início a série histórica. Segundo dados do Banco Central, o resultado foi provocado pelo aumento nos gastos com viagens internacionais, remessas de lucros e despesas com serviços no exterior.
Também houve redução na quantidade de recursos para financiar esse resultado negativo. O investimento estrangeiro direto (IED), geralmente destinado ao setor produtivo, ficou em US$ 2,96 bilhões, cifra que, embora superior à de janeiro de 2010 (US$ 600 milhões) e às estimativas do BC (cerca de US$ 2 bilhões), foi a menor desde agosto do ano passado.
Os investimentos em ações negociadas no país caíram de US$ 1,3 bilhão em janeiro do ano passado para US$ 732 milhões. As aplicações em títulos de renda fixa, por sua vez, recuaram de um superávit de US$ 1,1 bilhão para um resultado negativo de US$ 470 milhões, na mesma comparação.
Gastos no exterior
Os gastos com viagens internacionais e compras com cartão de crédito em lojas no exterior bateram recorde pelo segundo mês seguido em janeiro. Segundo o BC, os brasileiros gastaram US$ 1,74 bilhão em outros países, contra US$ 1,22 bilhão em igual período de 2010. Em todo o ano passado, as despesas somaram US$ 16,4 bilhões fora do país, valor também recorde para a série iniciada em 1947 pelo BC.
O déficit na conta de viagens a diferença entre as despesas de brasileiros no exterior e os gastos de estrangeiros no país responde hoje por cerca de 20% do resultado negativo em todas as transações do Brasil com outros países.
Essa conta inclui despesas em outros países com negócios, tratamento de saúde, turismo, para fins educacionais, culturais ou esportivos, de funcionários do governo e ainda gastos com cartões de crédito no exterior ou pela internet em lojas fora do país.
As remessas de lucros e dividendos somaram US$ 1,88 bilhão em janeiro, de acordo com o BC. No primeiro mês de 2010, as remessas haviam somado US$ 821 milhões. O déficit com juros foi de US$ 1,83 bilhão no mês passado, um volume ligeiramente menor que o de US$ 1,9 bilhão do mesmo período do ano passado.
De acordo com o chefe adjunto do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, o crescimento da economia leva a um aumento natural das remessas de lucros e dividendos das empresas estrangeiras instaladas no Brasil para as suas matrizes no exterior.
Investimentos
O mês de fevereiro tem sido de forte ingresso de investimentos estrangeiros diretos. Segundo o BC, a entrada de IED em fevereiro até o dia 23 já soma US$ 6,7 bilhões e a previsão é de que a quantia alcance US$ 7 bilhões até o dia 28 o que seria um recorde para o mês, segundo Maciel.
Apesar da queda verificada em janeiro, em relação aos meses anteriores, o ingresso de IED em 12 meses até janeiro, que soma US$ 50,8 bilhões, é o maior da história. Para o chefe adjunto do Departamento Econômico do BC, esse tipo de investimento vem apresentando um movimento muito positivo. No entanto, ele admitiu que os recursos não serão suficientes para cobrir todo o déficit em transações correntes previsto para 2011 enquanto o BC espera déficit em conta corrente de US$ 64 bilhões, a projeção para o IED é de US$ 45 bilhões.
Maciel também previu que o déficit em conta corrente no mês de fevereiro deve ficar em US$ 3 bilhões. Ele aponta o número menor de dias úteis do mês e também a sazonalidade da balança comercial para justificar a melhora.