A disparada do dólar em relação ao real, que subiu só em maio 7 24%, mais que o dobro da alta acumulada no ano até o mês passado (4,99%), acendeu o sinal de alerta para empresas com dívidas em moeda estrangeira e até para o consumidor que sonha com as férias de julho no exterior.
Um levantamento feito, a pedido do Estado, pela empresa de informações financeiras Economática com 195 companhias com capital aberto na BM&FBovespa e que especificaram a dívida em moeda estrangeira nos balanços do 1º trimestre, mostra que, em dois meses, abril e maio, a dívida em dólar pode ter aumentado R$ 3,36 bilhões, só por causa da desvalorização cambial.
Se a lucratividade dessas companhias, que atingiu R$ 20 bilhões no 1.º trimestre, for mantida neste trimestre, a despesa financeira provocada pela variação cambial representaria uma corrosão de 16,4% do lucro, calcula o gerente de relacionamento institucional e comercial da Economática e responsável pelo levantamento, Einar Rivero.
"É uma cifra razoável. Neste ano nós já tivemos queda da lucratividade no 1.º trimestre em relação a 2012. Com certeza teremos uma queda do lucro no 2.º trimestre em relação ao ano anterior e alavancada até mesmo pela alta do dólar, caso ele se mantenha no patamar de R$ 2,1319 (valor do dólar Ptax venda registrado na sexta-feira)", observa Rivero.
Em 31 de março, quando essas empresas publicaram seus balanços, a dívida em moeda estrangeira que correspondia a 44% do endividamento total somava R$ 251,9 bilhões, com o dólar cotado a R$ 2,0138. No dia 31 de maio, essa cifra teria alcançado R$ 255,31 bilhões, com o dólar a R$ 2,1319.
Rivero destaca que várias hipóteses foram feitas para chegar a esses valores. A primeira delas é que essas empresas não mudaram suas posições de endividamento. Isto é, não ampliaram a dívida em moeda estrangeira nem quitaram parte dela.
A segunda hipótese é que essas empresas não tenham feito hedge, isto é, o seguro para se defender de possíveis variações cambiais. "A desvalorização do real em relação ao dólar deve afetar os resultados das empresas, se todas as hipóteses tiverem sido confirmadas."
Petrobras. Segundo Rivero, o levantamento considerou somente as companhias que publicaram balanços e especificaram a dívida em moeda estrangeira. Por isso, grandes empresas, como Vale e Gerdau, ficaram de fora dessa lista porque não especificaram em seus balanços a dívida em moeda estrangeira. Isso significa que o impacto da desvalorização nos resultados das empresas pode ser ainda maior do que o projetado pela Economática.
De acordo com o levantamento, a Petrobrás, que encabeça o ranking das 195 empresas com maior dívida em moeda estrangeira, responde sozinha por quase a metade (46%) da despesa da desvalorização cambial acumulada em dois meses. Nesse período, a dívida da empresa em moeda estrangeira teve um acréscimo de R$ 1 581 bilhão.
"A Petrobras estaria perdendo 20,5% do seu lucro por causa da desvalorização cambial", observa Rivero. No 1º trimestre de 2013 o lucro da companhia foi de R$ 7,7 bilhões. Depois da Petrobras estão Oi, Eletrobrás, Fibria, BRF Foods, JBS e Suzano Papel, entre as empresas mais endividadas em moeda estrangeira.
Dados dos balanços do 1º trimestre mostram que a dívida em moeda estrangeira representou 44% do endividamento total dessas empresas. Essa proporção foi de 75% no passado, e o risco poderia ser maior. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.