San Francisco - Depois de meses de uma especulação febril, Steve Jobs apresentou na quarta-feira aquilo que a Apple espera ser o dispositivo eletrônico mais bacana do planeta: um esbelto tablet PC batizado de iPad. Por trás de todo o oba-oba que o cerca, no entanto, a questão é se o iPad será capaz de alcançar algo próximo ao sucesso do iPhone, que transformou o mercado de celulares e colocou todo o setor em uma corrida para apanhá-lo.
Com menos de 1,5 centímetro de espessura e peso de 720 gramas, o aparelho apresenta de forma vívida livros, jornais, sites da internet e vídeos em uma tela de vidro sensível ao toque, de 9,7 polegadas. A Apple está posicionando o iPad, que terá algumas versões no mercado americano em março, como pioneiro em um novo gênero de computação, algo entre o laptop e o smartphone. "O objetivo é bem alto", reconheceu Jobs. "Ele precisa ser muito bom ao desempenhar algumas funções chave."
A Apple marca um ponto ao dar às empresas de mídia uma nova plataforma para vender seu conteúdo elas esperam com isso entrar em uma nova era, em especial no que se refere à indústria editorial. Mas o iPad, cujos preços variam de US$ 499 a US$ 829, carece de algumas qualidades comuns em laptops e telefones, e os entusiastas por tecnologia foram rápidos em apontá-las. Para os primeiros críticos, ele não é nada além de um iPod Touch muito grande. Ele não tem câmera e nem mesmo entrada USB. O Flash, o onipresente programa que apresenta vídeo e animação na web, simplesmente não funciona no aparelho.
O evento de lançamento, no estilo típico da Apple, teve um roteiro rígido e altamente teatral. Jobs, um verdadeiro showman, apresentou o iPad a uma multidão entusiasmada de perto de 800 pessoas, entre funcionários, parceiros e jornalistas. Foi a sua segunda aparição pública desde uma licença, no ano passado, por razões de saúde. Jobs partiu do pressuposto de que o iPad é o melhor aparelho para alguns tipos de atividades, como navegar pela web, ler livros eletrônicos e tocar vídeos. "Com essa tela maravilhosa, ele é muito mais íntimo do que um laptop, é muito mais inteligente que um smartphone", disse. "É fenomenal ter a internet assim, em suas mãos."
Uma questão que a Apple enfrenta é se há espaço suficiente para outro equipamento eletrônico na vida atulhada dos consumidores. "Creio que o iPad terá apelo para os seguidores da Apple, mas é essencialmente um iPod Touch grande", disse Charles Golvin, analista da Forrester Research, que disse esperar que a máquina acabe canibalizando as vendas de outros produtos da empresa. Colvin acha que os amantes de livros continuarão a optar por leitores de e-books mais leves e mais baratos, como o Amazon Kindle. E pessoas procurando por computadores pequenos e prontos para a web irão gravitar em torno dos netbooks.
Outros analistas dizem que já ouviram críticas semelhantes, dirigidas ao iPhone, que até hoje já foi comprado por mais de 42 milhões de pessoas. Estes acreditam que o julgamento da Apple é quase infalível. "O público-alvo é praticamente qualquer pessoa", afirmou Michael Gartenberg, vice-presidente de Estratégia e Análises na Interpret, uma empresa de pesquisas de mercado. "A Apple não faz seus produtos apenas para entusiastas. Ela não produz para dezenas de milhares, ela o faz para dezenas de milhões."