Sinônimo de inovação, pioneirismo e refinamento, a Apple enfrenta um dos maiores desafios de sua história: convencer os usuários (e, por tabela, os investidores) de que vale a pena seguir apostando na empresa e correr para a loja mais próxima assim que um novo iPhone surge no horizonte.
Divulgado há uma semana, o balanço do primeiro trimestre da empresa mostrou que há motivos de sobra para os sucessores de Steve Jobs esquentarem a cabeça. Pela primeira vez na história da marca, houve queda nas vendas de celulares, de 16% – o que também fez com que a Apple registrasse seu primeiro declínio na receita trimestral em 13 anos.
INFOGRÁFICO: As contas e as vendas da Apple
Vale lembrar que, mesmo assim, a empresa segue faturando (e muito): a receita fechou em US$ 50,5 bilhões no primeiro trimestre.
O problema é que, hoje, as vendas de iPhones respondem por 65% do total dessa cifra. E a queda nas vendas de smartphones foi maior justamente na China, segundo maior mercado da empresa (depois dos Estados Unidos) e essencial para a companhia seguir lucrando internacionalmente.
A Apple faturou 26% menos com os chineses do que no ano anterior e a aposta, dizem analistas, é de que o boom de vendas no país mais populoso do mundo tenha ficado para trás.
A visão é corroborada por um relatório da consultoria IDC divulgado na semana passada. Em 2015, as vendas de celulares de todas as marcas na China cresceram apenas 2,5%, depois de um pico de 62% em 2013. “Com o mercado da China amadurecendo, o apetite por smartphones tem baixado drasticamente”, resume a empresa.
E, enquanto gigantes como Apple, Samsung e Lenovo perdem espaço por lá, marcas menores, mas com celulares potentes e preços mais em conta, ganham mercado: as novatas OPPO e Vivo, praticamente desconhecidas fora da Ásia, viram as vendas de seus celulares aumentarem 153% e 123% no primeiro trimestre de 2016, respectivamente.
Não bastasse a desaceleração do mercado, a Apple também precisa sair de uma armadilha criada por ela mesma. Seja por falta de inspiração ou limitação tecnológica, os últimos modelos de iPhones lançados pela marca (no caso, o 6S e o 6S Plus) trazem poucas novidades que compensam a troca das versões anteriores, o que faz com que os atuais consumidores estendam a vida útil dos aparelhos que já têm em mãos. O iPhone 7, que deve ser lançado entre setembro e outubro, pode padecer da mesma sina.
“Todo mundo deseja uma super novidade, mas, ao mesmo tempo, não dá para esperar uma grande ruptura. Com certeza o iPhone 7 trará algo novo, mas, no geral, será mais do mesmo”, prevê a especialista em tecnologia e inclusão mobile Marília Guimarães, criadora do projeto Entendendo iPhone.
“O próprio lançamento do SE (novo celular da Apple, com tela menor e mais barato, anunciado em março) mostra a estratégia da empresa de tentar aumentar a quantidade de usuários ao buscar um novo perfil de público”, completa.
Relógio inteligente é uma das principais apostas da empresa
A queda nas vendas da Apple no primeiro trimestre, em comparação com o mesmo período do ano passado, não se restringiu ao iPhone, o que complica ainda mais a vida dos executivos da empresa. O número de iPads comercializados caiu 19% e o de computadores Mac, 12%.
Por outro lado, mesmo com uma recepção morna do público e da mídia especializada, a marca conseguiu incrementar sua receita com as vendas do Apple Watch, o relógio inteligente lançado há um ano. A companhia não divulga o número de unidades vendidas, mas a receita com outros produtos, que inclui o relógio, a Apple TV, iPods e acessórios, subiu 30%, somando US$ 2,1 bilhões – valor ainda pequeno se comparado com os US$ 32,8 bilhões que os iPhones renderam no mesmo período.
A estimativa da consultoria Strategy Analytics é que 2,2 milhões de Apple Watchs foram vendidos no primeiro trimestre deste ano em todo o mundo, marca que dá à empresa uma participação de mercado de 52%, seguida pela Samsung, com 14% das vendas globais.
Os números da consultoria, junto do balanço da empresa, dão força aos rumores de que a nova versão do Apple Watch, que pode ser lançada junto com o iPhone 7, poderá funcionar de forma independente dos smartphones, podendo se conectar diretamente à internet e rodando aplicativos nativos, com um processador mais potente. Uma das principais críticas ao modelo atual é justamente o fato de ele ser um acessório do iPhone e não ter vida própria.
Em poucos anos, iremos olhar pra trás e as pessoas irão se perguntar como foi possível que elas não pensaram antes em usar este relógio. Então ele será visto como um grande sucesso, assim como ocorre hoje com o iPhone e o iPod.”
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