Mesmo sendo prevista nas pesquisas eleitorais, a vitória de Alberto Fernández e Cristina Kirchner na disputa pelo governo da Argentina não agradou muito aos investidores. Em Buenos Aires, a bolsa local encerrou o dia em queda de 3,9%. O dólar no paralelo começou o dia negociado a 82 pesos, fechando o dia a 74, segundo o jornal argentino Clarin. No Brasil, a Bolsa encerrou o dia acima dos 108 mil pontos, e o dólar cotado abaixo dos R$ 4,00.
O analista Daniel Kerner, do Eurasia Group, diz que o resultado eleitoral na Argentina é ruim para os investidores já que Fernández se sentirá mais pressionado para implementar políticas que impulsionem o crescimento e resista às pressões para realizar mais ajustes. "A equipe de transição pesará estes pontos."
Algo a ser esperado, de acordo com ele, é o aumento de tensões de Fernández com sua vice, Cristina Kirchner, e o governador eleito da província de Buenos Aires, Axel Kicilof. "Há um espaço limitado para o pragmatismo", destaca Kerner.
O mercado, agora, busca respostas para entender como será a política econômica do governo de Alberto Fernández. Um dos pontos-chave será a escolha do ministro da Economia da Argentina.
“Os investidores gostariam de saber se a Argentina pretende adotar medidas de nacionalização e se Fernández pretende conversar com o FMI. Isto pode fazer com que os investidores se tornem céticos a investir na América Latina”, diz Edward Moya, analista de câmbio da Oanda.
“O mercado já havia deteriorado a percepção de risco em relação a Argentina lá no começo de agosto, quando ficou bastante claro que Macri não iria se reeleger”, diz Fernando Bergallo, diretor de câmbio da FB Capital.
Principais temores na Argentina
Um dos principais temores é em relação à adoção de uma política expansionista e intervencionista no país, em uma tentativa de tirá-lo da crise. O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta que a economia do país vizinho encolherá 3,1% neste ano e 1,3% no próximo. A retomada da economia só ocorreria em 2021
O executivo explica que a eleição pode aprofundar a recessão no país e afetar o Brasil. “Isso em tese aprofundaria a recessão na Argentina, causa do impacto nos mercados globais e especificamente no Brasil, pelas fortes relações comerciais dos dois países”, diz Bergallo.
A recessão por lá já trouxe impactos negativos às exportações. Dados do Ministério da Economia mostram que as vendas à Argentina foram de US$ 7,48 bilhões nos nove primeiros meses do ano, uma queda de 39% em relação ao ano anterior. Os negócios estão no mesmo nível de 2005.
Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, acredita que um grande problema pode ser o choque entre Bolsonaro e Fernández, já que há uma divergência ideológica.
Bolsonaro declaradamente desaprova a eleição de Fernández e se recusa até mesmo a parabenizar o novo presidente”. Pelo lado argentino, o presidente eleito defende a libertação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado à prisão pela Justiça.
André Alírio, Economista da Nova Futura Investimentos, afirma que o mercado fica apreensivo com a vitória, já que algumas reformas no país podem ser congeladas. “A leitura do mercado é que com a vitória da chapa que une o kirchnerismo e o peronismo é de uma certa apreensão pelo fato de algumas reformas da Argentina não irem para a frente ou diminuir de intensidade”.