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Impacto

Vitória de Trump fortalece o dólar e amplia pressão sobre Lula para corte de gastos

Donald Trump
Vitória de Trump pressiona corte de gastos para conter dólar (Foto: Cristobal Herrera-Ulashkevich/EFE)

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A vitória do candidato Donald Trump à Casa Branca ampliou os holofotes em relação ao pacote de corte de gastos que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve divulgar ainda nesta semana para equilibrar as contas públicas. A medida é necessária para acalmar também o mercado fincanceiro e a alta do dolar.

As propostas do republicano para a economia prometem fortalecer a moeda americana munidalmente e impulsionar a desvalorização do real que já vem acontecendo devido à insatisfação do mercado financeiro com a situação fiscal.

O dólar chegou a beirar a casa dos R$ 5,90 na semana passada, por conta da demora do governo petista em apresentar as medidas para o corte de gastos.

Com a sinalização do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que as tratativas do pacote estavam avançadas, o mercado financeiro havia se acalmado e o dólar, recuado.

Nesta quarta-feira (6), após a vitória do republicano, a cotação abriu novamente perto da máxima histórica, aos R$ 5,86. Ao longo do dia, a moeda estabilizou e atingiu R$ 5,678 por volta das 16h30.

Haddad novamente contribuiu para a desaceleração, ao afirmar em Brasília que a rodada de reuniões entre ministros para tratar das medidas fiscais está concluída. "Os ministros todos estão muito conscientes da tarefa que temos pela frente", disse.

As incertezas no mercado financeiro, no entanto, permanecem. “A combinação da vitória de Trump com um pacote de gastos que não seja bem recebido pelo mercado é explosiva”, avalia Sílvio Campos Neto, economista da consultoria Tendências.

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Protecionismo vai impactar exportações

O programa anunciado pelo presidente eleito dos EUA é considerado inflacionário devido às tarifas externas e cortes de impostos.

Se for mesmo implementado, o Fed – o banco central norte-americano – será obrigado a manter os juros elevados por mais tempo para conter a disparada dos preços.

Com isso, os títulos da dívida pública dos EUA, Treasuries, ficarão ainda mais atrativos, provocando migração de recursos para lá e fortalecendo o dólar em relação às demais moedas.

Trump também se diz disposto a elevar tarifas de importação para proteger empresas norte-americanas da concorrência estrangeira e atrair investimentos no país.

O republicano sinalizou que cobraria tarifas de 60% sobre produtos chineses e de 10% sobre mercadorias dos demais países.

“Há ainda bastante incerteza sobre a viabilidade desse tipo de medida e se de fato serão implementadas pelo novo governo”, avaliou o Bradesco, em nota. “De toda forma, sua adoção teria efeitos altistas sobre a inflação global, menor eficiência alocativa e menor crescimento da economia mundial.”

Os EUA são o segundo parceiro comercial do Brasil. As exportações alcançaram US$ 36,9 bilhões em 2023, ou 10,9% do total exportado, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).

Os principais produtos brasileiros exportados para os EUA, candidatos a tarifas, são petróleo, ferro e aço, celulose, café e aeronaves. Todos com alíquota zero ou, no caso de petróleo, abaixo de 10%.

Se as vendas para lá diminuírem, o país receberá menos dólares, elevando ainda mais as cotações da moeda ante o real.

Aumenta pressão sobre panorama fiscal

Neste cenário, a expectativa do mercado financeiro em relação ao panorama fiscal interno fica mais evidenciada. “Esse ambiente de percepção de juros mais altos, caso se consolide, adiciona uma camada de incerteza à dinâmica da dívida pública local e, com dólar forte, também ao real", avaliou o banco Bradesco em nota. "Por isso, o pacote de ajuste fiscal ganha ainda mais importância”,

Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, concorda que as atenções agora estão voltadas à resposta do governo Lula. “Depois do resultado eleitoral nos Estados Unidos, a gente tem um governo no Brasil mais pressionado”, diz. “Portanto, alguma coisa vai ter que ser anunciada, rapidamente e com uma boa qualidade.”

Para José Alfaix, economista da Rio Bravo, a performance do dólar frente ao real tem refletido a descrença dos investidores em relação ao que virá do governo. “Há muito "ruído" derivado do ceticismo dos investidores por parte do comprometimento do governo [com o corte de gastos]”, diz.

Se o ajuste viesse robusto, destaca Alfaix, a apreciação do real frente ao dólar seria imediata. “Com um ajuste crível e disposto a analisar os problemas do crescimento crônico das despesas obrigatórias, certamente observaríamos uma apreciação relevante do real”, diz. “O problema é se esse ajuste realmente acontecerá, e se será compatível com as expectativas do mercado.”

Caso as medidas não sejam lidas pelo mercado como satisfatórias, economistas preveem arremetida da cotação do dólar.

“Se o governo brasileiro não melhorar essa situação fiscal, o dólar pode chegar a R$ 6”, diz Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike. “Para conter essa alta, é fundamental controlar gastos públicos e, se necessário, o Banco Central ser mais rigoroso em relação à alta dos juros para se ter uma compensação sobre as moedas.”

Sidney Lima, Analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, acredita em um agravamento da fuga de investimentos sem a resolução da questões das contas públicas no Brasil.“Entre janeiro e setembro, o país viu a saída de mais de US$ 52 bilhões, refletindo a preocupação dos investidores com a capacidade do governo de cumprir suas metas fiscais e controlar o crescente endividamento”, lembra.

Isso aconteceu apesar do ciclo de redução do juro americano, iniciado em setembro pelo Fed. Países emergentes, que têm juros maiores, geralmente se beneficiam da medida. Não foi o caso do Brasil, “por conta das incertezas fiscais e econômicas”.

Para Padovani, o mercado sabe que o governo não dará uma resposta insuficiente para aumentar a confiança na estabilidade de dívida pública.

“Ele deve dar uma sinalização de estabilidade do arcabouço fiscal suficiente apenas para acalmar o mercado. Ainda assim, muitas dúvidas vão continuar em relação à trajetória de dívida.”

Incrementada pelo ciclo de alta de juros, a dívida bruta do setor público deve atingir 84,3% do PIB em 2026 e 90% em 2032, segundo a mediana das projeções coletadas pelo boletim Focus, do Banco Central.

A estratégia do governo, destaca Padovani, é evitar um cenário de explosão do dólar, demonstrando alguma reação. “Mas, como as medidas são fracas, o que ele vai conseguir é postergar a tensão financeira mais para frente. As dúvidas e a tensão vão na medida em que você se aproximar do calendário eleitoral 2026”, afirma.

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