Acredito que se eu entrar numa turma de graduação ou em uma empresa qualquer e perguntar a todos "quem aqui sabe falar inglês?", grande parte responderá que sim. Acredito também que a maioria destes ou estará mentindo ou realmente não sabe que "the book is on the table" não é o mesmo que dominar um idioma.
Esse "enrolation" de muitos profissionais é descrito no currículo como uma habilidade, na realidade, inexistente. Na verdade, se fossemos investigar e testar o inglês de todos que dizem ter conhecimento no idioma levaríamos um susto. Talvez uma das provas disso seja o ranking elaborado pela Education First (EF). Após consultarem o nível de inglês em 54 países, o Brasil ficou posicionado entre os dez países com pior nível no idioma. Ou seja, muitos brasileiros não falam inglês no nível que pensam falar, mesmo alegando o contrário.
Um velho amigo meu, Raul, resolveu adotar uma prática mais eficiente em sua empresa para evitar contratar profissionais que afirmam falar inglês, mas na realidade mal sabem o que é o verbo "to be". Ele me contou que certa vez contratou um profissional chamado Hélio para uma posição na área de marketing da sua empresa. Raul sempre foi ambicioso e, desde que o conheço, sonha que sua empresa realize cada vez mais negócios internacionais e expanda para outros países. Portanto, a partir de um determinado momento, quando sua empresa começava a conquistar novos territórios, decidiu que, para boa parte dos cargos, somente contrataria profissionais com domínio do idioma inglês.
Foi pensando assim que contratou Hélio: um rapaz de 28 anos, com boa experiência profissional e que havia morado três meses nos Estados Unidos, portanto o inglês parecia ser um ponto forte a seu favor e realmente foi (ao menos na hora da contratação).
Um dia Raul comunicou a Hélio que haveria um evento internacional em Curitiba e que a sua empresa iria recebê-los com um jantar de boas-vindas, com direito a belos pratos típicos brasileiros. Como a responsável pelos eventos da empresa não sabia falar inglês, Raul pediu a Hélio para participar do projeto, fazendo a ponte entre a coordenadora de eventos e os representantes estrangeiros. Algumas semanas passaram e a coordenadora entrou em contato com Raul reclamando do comportamento de Hélio, que até então não tinha dado um telefonema sequer. Intrigado, Raul pediu novamente a ele que telefonasse aos convidados estrangeiros, como havia sido combinado. E pediu que o fizesse imediatamente. O que aconteceu em seguida foi, no mínimo, embaraçoso para todos principalmente para Hélio. Ele telefonou e, após falar "hello", simplesmente travou. Começou a suar e a gaguejar. Falava frases sem sentido, misturando inglês e português, o que dava origem a um idioma alienígena e completamente vergonhoso.
Sem saber que ação tomar, após a ligação ter sido finalizada, Raul o chamou para conversar, sentindo-se enganado por ter acreditado que o rapaz realmente sabia falar inglês. Diferentemente do que havia dito na entrevista, confessou que não havia aproveitado como deveria os três meses nos Estados Unidos. Admitiu ter convivido apenas com outros brasileiros e ter trabalhado como camareiro em um hotel, logo, não tinha contato algum com anglófonos (aquele que fala inglês), e pediu desculpas pelo inconveniente internacional.
Raul não tomou nenhuma medida radical e apenas pediu a outra pessoa que assumisse o projeto do evento. Entretanto, desde então, sempre que contrata alguém que precisa ter fluência no idioma, aplica um teste formal de inglês oral e gramático -, para não ter dúvidas quanto ao exato nível de proficiência dos candidatos.
O que quero dizer, meus caros, é que de nada adianta mentir no currículo, pois, cedo ou tarde a verdade será descoberta. Se você quer colocar no currículo "inglês fluente", aprenda-o de maneira legítima primeiro. Quer saber mais sobre esse assunto e a importância de conhecer outros idiomas para a carreira? Então não deixe de conferir a coluna de terça-feira. See you then!
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