A disputa pelo mercado brasileiro de carros novos acirrou-se em agosto, com a Volkswagen encostando na líder Fiat. Com o novo Gol, lançado em julho, a marca de origem alemã vem recuperando terreno, sete anos após perder o posto de número um na lista de maior montadora em vendas no País. O que tem feito a diferença, porém, são os chamados carros de entrada, os mais baratos de cada marca.
Ao mesmo tempo em que lançou a nova geração, a Volks oferece bônus para o Gol antigo, vendido a R$ 25,2 mil. No fim do ano, a montadora vai baixar ainda mais esse preço, informam lojistas. A Fiat, que oferecia o Mille a R$ 23,7 mil, lançou na semana passada uma versão com sistema que permite maior economia de combustível, a um preço R$ 500 mais baixo que o anterior.
Além disso, após quase 10 anos fora da mídia, a Fiat estreou ontem campanha publicitária do modelo - que voltou a ser chamado de Uno Mille - em TVs e mídia impressa, feita pela agência Giovanni+DraftFCB, contratada especialmente para cuidar desse produto.
Até quinta-feira, faltando portanto um dia útil para encerrar o mês, foram licenciados 44.047 automóveis Fiat no País, apenas 52 unidades à frente dos números da Volks. Somando os comerciais leves, a diferença era de 2,9 mil unidades. O Gol, sozinho, vendeu 25,3 mil unidades, enquanto o Palio ficou bem atrás, com 14,5 mil.
No cômputo geral, incluindo caminhões e ônibus, a marca alemã batia a italiana com 53.355 unidades a 52.040 até o dia 28. Apesar de não atuar no segmento de veículos pesados, a Fiat vinha liderando as vendas até mesmo nesse comparativo. Com a inclusão dos licenciamentos de sexta-feira, o quadro pode ter mudado, pois normalmente as empresas despejam promoções no último dia do mês para garantir posição no ranking nacional.
Antigos
Fiat e Volks disputam o mercado de populares com modelos antigos, embora o Gol, em seus 28 anos, tenha passado por profundas reformulações e tenha vendido, até agora, 4,8 milhões de unidades. O Uno, aos 24 anos, teve poucas mudanças estéticas e vendeu 2,4 milhões de unidades nesse período, a terceira melhor marca para um modelo brasileiro, atrás do Gol e do Fusca, com 3,2 milhões de unidades enquanto esteve em produção. O modelo tem se garantido entre os cinco mais vendidos no País.
Segundo Cledorvino Belini, presidente da Fiat, a mudança no Mille foi para "deixá-lo mais atual e para manter sua atratividade no mercado". A intenção também é afastar rumores de que o modelo deixará de ser fabricado, o que deve ocorrer somente em 2012, de acordo com fontes do mercado.
Manter carros antigos em linha, mesmo após o lançamento de versões renovadas, tem sido estratégia da indústria brasileira. Segundo o sócio da consultoria Creating Value, Corrado Capellano, o retorno do investimento no desenvolvimento de um carro novo costuma ocorrer num período de três a cinco anos. Após esse tempo, teoricamente, toda a margem de venda da montadora se transforma em lucro. "Modelos antigos, porém, têm custo maior de produção, pois os mais novos são projetados com conceitos modernos e utilizam materiais alternativos e mais baratos", diz.
Para o diretor da consultoria ADK, Paulo Roberto Garbossa, o que garante maior ganho às empresas em modelos mais baratos é a escala de produção. Mesmo sem alterações significativas no visual, os carros precisam receber atualizações, como novas motorizações, o que exige algum investimento, em geral não revelado.
No segmento de carros mais caros, a disputa entre as montadoras nesses últimos meses do ano também promete. A Fiat vai lançar o Linea em meados do mês, sedã médio que será o carro mais caro da marca - acima de R$ 55 mil. Já a Volks lançará em outubro o Voyage, versão sedã compacta do Gol com preços a partir de R$ 35 mil.