A redução das sanções ao Irã anunciada no fim de semana deve jogar a cotação do petróleo ainda mais para baixo, surtindo um duplo efeito sobre a Petrobras. No curto prazo, a receita da empresa com a venda de gasolina e diesel deve ser favorecida, uma vez que os preços de ambos os combustíveis no mercado doméstico estão bem acima da média internacional, e o valor do insumo para produzi-los só faz cair. No médio e longo prazos, porém, o impacto é negativo, na avaliação de especialistas, pois o preço baixo do petróleo compromete a viabilidade de projetos no pré-sal e a sustentabilidade dos negócios da companhia. O tombo na cotação diminui ainda a atratividade dos ativos que a empresa quer vender.
No sábado, Estados Unidos (EUA) e União Europeia (UE) suspenderam o embargo econômico ao Irã, após a Agência Internacional de Energia Atômica ter atestado que o país cumpriu as obrigações relativas a seu programa nuclear. Os EUA, no entanto, mantiveram algumas sanções ao país, devido à continuidade do programa de mísseis e à violação de direitos humanos.
“Se o petróleo cair mais e o dólar se mantiver no patamar atual, a diferença do preço dos combustíveis que a Petrobras cobra hoje no Brasil em relação ao que é cobrado lá fora vai crescer. Ela vai ganhar com isso. Por outro lado, o preço baixo compromete os projetos do pré-sal. O que foi feito foi feito, mas o que vem por aí deve ser reavaliado”, avalia Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura.
Na semana passada, nos cálculos de Pires, a gasolina estava 30% mais cara no Brasil que no mercado internacional e o diesel, 60%. Para ele, a tendência, é que o governo não mexa nos preços, para que a Petrobras recomponha a perda de receita relativa ao período em que a situação era inversa: o valor cobrado pelos derivados aqui estava abaixo dos preços internacionais.
“O governo não pode mexer na gasolina e no diesel agora. A Petrobras precisa de um fôlego para atravessar a tempestade que está enfrentando”, diz Edmar Almeida, do Instituto de Economia da UFRJ. Para ele, os efeitos negativos do petróleo baixo sobre a empresa superam o ganho imediato. “O preço baixo pode desmotivar potenciais compradores dos ativos que a Petrobras quer vender num momento que é crucial para ela levantar recursos. Definitivamente, as vantagens (da cotação do petróleo em queda) não superam as desvantagens.”
É consenso entre analistas que o acordo entre Irã e as grandes potências continuará a pressionar o preço do barril para baixo. A nação islâmica diz que pode colocar no mercado, imediatamente, mais 500 mil barris de petróleo por dia. Hoje, o Irã produz cerca de 3 milhões de barris diários, o que lhe confere a quinta posição entre os maiores produtores do mundo, mas as sanções limitavam as vendas externas.
Além do petróleo adicional iraniano, a Arábia Saudita, que lidera a produção mundial e rivaliza com o Irã, tende a aprofundar a estratégia de irrigar o mercado com petróleo, para forçar o preço para baixo e inibir investimentos na indústria iraniana.
Comércio
Há poucos dias, o Standard Chartered Bank afirmou em relatório que os preços podiam cair ao patamar de US$ 10. Na semana passada, o petróleo tipo Brent foi negociado abaixo de US$ 30 pela primeira vez em 12 anos, devido ao excesso de oferta.
Do ponto de vista do comércio, se as relações entre Brasil e Irã hoje são muito pequenas, o potencial é grande, aponta o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. São quase 80 milhões de habitantes, com renda elevada e PIB per capita de US$ 7.120 em 2013, segundo o Banco Mundial.
“O Irã tem população grande e poder aquisitivo elevado. Hoje, o comércio é pequeno porque há receio de retaliações por parte dos EUA. Mas o novo acordo deve permitir que o Brasil negocie de forma mais clara, sem receio’, aponta Castro.
A corrente de comércio entre Brasil e Irã foi de US$ 1,669 bilhão em 2015, menos de 1% do intercâmbio do Brasil com o mundo. O milho responde por quase metade das exportações para o Irã.