O presidente da Volvo na América Latina, Carlos Morassutti, afirma que a fábrica com sede em Curitiba da montadora está com 400 funcionários ociosos desde o fim do ano passado, reflexo da pior crise que a empresa vive desde quando chegou ao Brasil, em 1977. Ele diz que as vendas de caminhões devem cair de 15% a 20% neste ano, mesmo após já terem sofrido uma baixa de 60% em 2015, levando a operação brasileira a apresentar prejuízo no ano passado.
“Passamos de 25 mil caminhões por ano para 10 mil, então você imagina o impacto disso na nossa produção”, disse Morassutti em entrevista à Gazeta do Povo. De acordo com o presidente da Volvo, a crise atingiu fortemente a montadora em 2015, que fez uma série de ajustes internos para otimizar a produção.
Mas, com a redução no número de vendas, que chegaram a 6,7 mil unidades em 2015, 64% abaixo dos 18,8 mil veículos comercializados no ano anterior, a redução no quadro de funcionários tornou-se inevitável. Em 2015, a indústria propôs um Plano de Demissão Voluntária (PDV) aos funcionários, que teve a adesão de cerca de 500 trabalhadores que vieram a ter seus contratos rescindidos em dezembro.
Segundo Morassutti, mesmo com o PDV, a montadora continuou com 400 trabalhadores ociosos na fábrica, que opera atualmente com um terço da capacidade instalada e apenas um turno de produção. A Volvo, nas palavras do presidente, propôs ao sindicato manter os empregos dos funcionários em troca de postergar o reajuste previsto para setembro, conforme data-base, e redução de R$ 5 mil na Participação dos Lucros e Resultados (PLR) a ser paga aos colaboradores no fim do ano.
Sindicato
O vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC), Nelson Silva de Souza, afirma, porém, que a Volvo não teria dado qualquer garantia de que manteria os 400 postos de trabalho. Por isso, segundo o SMC, a proposta foi recusada e os funcionários da montadora avisados dos planos de demissão.
Uma paralisação foi deflagrada nesta terça-feira (10) pelos trabalhadores da Volvo em protesto contra as possíveis demissões. Na quinta-feira (12), a Volvo propôs aos funcionários um novo Plano de Demissão Voluntária (PDV) com adesão até o fim deste mês e aceitou diminuir o número de demissões de 400 para 250 pessoas, todos do chão de fábrica.
A proposta foi recusada em uma assembleia realizada ontem, com 645 votos contra, 452 a favor e cinco em branco. O sindicato quer que a Volvo estenda o prazo de adesão do PDV até o fim do ano, para manter os empregos por, pelo menos, mais seis meses, ou que recorra a layoff ou ao Programa de Proteção ao Emprego (PPE) do governo federal.
O presidente da Volvo na América Latina afirma que não vai apresentar uma nova proposta, pois as duas que foram colocadas na mesa estão “mais do que razoáveis devido ao momento do país”. Segundo ele, cabe aos trabalhadores decidir se abrem mão de parte do PLR e do reajuste em troca da manutenção de todos os empregos ou se aceitam o PDV com previsão de demissão de até 250 pessoas.
Enquanto o impasse não se revolve, as atividades na fábrica da Volvo, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC) continuam paradas. A montadora tem 3,2 mil funcionários e produz caminhões, chassis de ônibus, cabines, caixas de câmbio e motores.
Crise econômica
Em entrevista à Gazeta do Povo, o presidente da Volvo na América Latina, Carlos Morassutti, disse que chegamos “ao fundo do poço como país”. A montadora vive a pior crise da sua história no Brasil, com redução de quase 30% nas vendas de caminhões só no primeiro trimestre deste ano. Mas, com o afastamento de Dilma Rousseff por até 180 dias e com Michel Temer assumindo a presidência interinamente, há uma otimismo no setor, diz Morassutti. “Estamos vendo de forma bastante positiva as medidas anunciadas pelo novo governo.” O presidente da Volvo acredita que a nova equipe econômica pode destravar a economia, medida fundamental para a retomada de investimentos. Ele diz que a adesão de uma política industrial com financiamento do BDNES, acesso ao crédito e estímulo à renovação de frota deve melhorar o setor – mas em médio e longo prazo. “Não acredito que vamos ver uma recuperação rápida nas vendas”, conclui.
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