Antes que hovuesse Watson, houve Deep Blue. Em 1997, Deep Blue, outro computador construído pela IBM, derrotou o então campeão mundial de xadrez, Garry Kasparov, em uma série de seis partidas. Naquela época, a vitória foi considerada um feito espetacular e um passo importante no campo da inteligência artificial. Alguns chegaram a dizer que estávamos entrando em uma nova era, em que computadores fariam muitas tarefas como controlar o tráfego aéreo que aparentemente só humanos poderiam fazer. Mas essa era ainda não chegou.
Mesmo assim, 14 anos depois, qualquer programa de xadrez rodando em um desktop comum joga melhor que o Deep Blue; vitórias de computadores já não são tão improváveis. E, embora a pesquisa que tenha dado origem ao Deep Blue não tenha transformado a sociedade, as lições aprendidas projetando e construindo o enxadrista virtual tiveram aplicações práticas, explica Murray Campbell, um dos desenvolvedores do Deep Blue que ainda trabalha na IBM.
Jogar xadrez é um problema "profundamente computacional", define Campbell o tipo de problema que envolve processar e analisar grantes quantidades de dados. Baseado no que aprendeu com o Deep Blue, a IBM criou um instituto dedicado a analisar e resolver problemas complexos de computação como aqueles oriundos de transações com cartões de crédito, centrais telefônicas e previsão do tempo.
O que os pesquisadores que criaram o Deep Blue nem tentaram fazer era desenvolver um sistema que pudesse realmente identificar e imitar o comportamento humano. "Não sabíamos o que fazer com linguagem, expressão, visão, essas coisas. Era complicado demais", afirma Campbell.
Watson continuou de onde o Deep Blue parou. "Watson está finalmente enfrentando essas questões do mundo real. Está encarando de frente, sem tentar contornar as dificuldades", diz Campbell. Parte do que torna isso possível é o fato de Watson ser muito mais poderoso que o Deep Blue. Ele tem 2,8 mil microprocessadores, enquanto Deep Blue tinha 30 processadores para funções gerais e 480 customizados. Watson pode calcular ate 80 teraflops (80 trilhões de operações por segundo), cem vezes mais rápido que o Deep Blue.
Ainda assim, o que Watson faz não é tão diferente do que Deep Blue fazia, afirma Campbell. "Nós não estamos dizendo que Watson pensa do modo como as pessoas pensam. Ele está é trabalhando no mais profundo de um problema computacional". Quanto ao Deep Blue, ele nunca mais voltou ao tabuleiro. Parte dele está agora no museu Smithsonian. "Nós cumprimos a nossa missão", diz Campbell.