Rio Quem não gosta de novela que atire a primeira pedra. A verdade é que o brasileiro é doido por ficção, ainda mais quando bem adocicada, à la Manoel Carlos. Os altos índices de audiência dos folhetins estão aí para provar. Até há pouco tempo, as emissoras criavam novelas e as veiculavam para a massa através da TV. De um ano para cá, a internet tem aparecido na jogada, principalmente ao resgatar episódios lendários da nossa televisão, como as crises de Heleninha Roitman e a morte de Odete em "Vale Tudo". A onda agora, todavia, é inverter o processo de criação: o brasileiro quer fazer (e estrelar) novelas. A ferramenta? Sites de veiculação de vídeos, como o YouTube, Google Video e Videolog.
O movimento, batizado de Blognovela (para alguns, WebNovela), é uma mistura de textos publicados em blogs com episódios diários, em vídeo, de obras caseiras, com pouca estrutura, baixo investimento e audiência razoável. Os folhetins internéticos contam com uma arma infalível: o marketing viral, seja através de e-mails ou blogs. Um exemplo é "A casa caiu" (www.acasacaiu.com.br). A "novela", com roteiro criado por Hélcio Brasileiro, jornalista carioca que mora em Fortaleza, custou R$ 500 e contou com uma equipe formada por amigos. O fio condutor da narrativa é um seqüestro.
"Decidi fazer sobre um seqüestro porque não ia ter dinheiro para pagar atores nem locação. E o seqüestro só exige como cenário o cativeiro", conta Helcio, que usou uma câmera profissional emprestada para filmar a obra de arte, produzida em um dia. A enorme verba de R$ 500, conta ele, foi gasta com motorista e com o almoço e o jantar dos "atores" e "assistentes", todos amigos do jornalista.
Na escola
As blognovelas têm em comum o amadorismo as de maior sucesso, até o momento, foram criadas em casa ou em locações como boates, cativeiros improvisados e escolas. É o caso do "Livro da Amizade", seriado produzido pelo fotógrafo João Godoy, de 23 anos (www.video log.tv/jaum), cuja primeira temporada, composta por 12 episódios de cerca de nove minutos cada, foi produzida com uma câmera fotográfica digital. Como foi filmada na escola onde João estudava, o enfoque passou a ser a amizade escolar e os grupos de amigos.
"O Livro da Amizade é um seriado sobre os graus de amizade na vida de um homem: amizade de escola, amizade no trabalho, amizade na vizinhança. Basicamente, as histórias falam de apegos, ciúmes, intrigas, paixões, racismo, desigualdade, e principalmente perdão e amizade", conta João, mais conhecido como Jaum. "O personagem João conhece pessoas muito diferentes em sua caminhada, e vai escrevendo as suas histórias no tal Livro da amizade, que é seu diário."
Cada episódio do seriado recebeu cerca de mil visitas. O sucesso foi tamanho, diz João, que a "galera" pediu uma nova temporada. Com elenco todo renovado, episódios de 15 minutos cada, vai ser lançado em dezembro "O Livro da Amizade 2", dessa vez ambientado em uma agência de publicidade, a E-Criar, onde João irá trabalhar, encontrar novos amigos, uma nova paixão e um vilão que irá atazanar sua vida. Ou seja, como toda novela, tem de haver um mocinho, uma mocinha e o vilão.