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Transferências

Dinheiro pelo WhatsApp: como vai funcionar a novidade autorizada pelo BC

WhatsApp Pay
WhatsApp Pay pode chegar ao aplicativo dos brasileiros ainda no primeiro semestre. (Foto: Pixabay)

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Temporariamente suspensa em 2020 por decisões do Banco Central e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a chegada do WhatsApp ao universo dos serviços financeiros do país pode ocorrer ainda no primeiro semestre de 2021.

O aplicativo de mensagens recebeu sinal verde da autoridade monetária brasileira para disponibilizar a opção de transferências diretas entre seus usuários. O WhatsApp informou à Gazeta do Povo estar "empenhado nos preparativos finais para disponibilizar a funcionalidade de pagamentos no aplicativo no Brasil assim que possível".

A promessa é de mais uma alternativa de conveniência para os usuários, que poderão enviar dinheiro para um contato sem a necessidade de abandonar a conversa para acessar outra ferramenta.

Mas, ao menos inicialmente, o recurso será restrito. Só poderão utilizar a solução aqueles que são também clientes das instituições parceiras já anunciadas: correntistas do Banco do Brasil, Nubank ou Sicredi que sejam, também, detentores de cartões das bandeiras Visa ou Mastercard emitidos pelos mesmos bancos. A perspectiva, no entanto, é pela ampliação do alcance da iniciativa por meio da entrada de novos integrantes (sejam eles bancos ou operadoras).

A autorização do Banco Central não abarca todas as funções originalmente anunciadas pelo dono do WhatsApp para o país em junho de 2020. Na ocasião, o Facebook afirmou que o WhatsApp Pay poderia ser usado para envios de dinheiro entre pessoas e também para operações de compra e venda. Porém, em sua manifestação recente sobre o caso, o BC informou que a solução relacionada ao WhatsApp estava liberada para transferências entre pessoas (P2P) na modalidade débito. Pagamentos (as transações entre pessoas e empresas) seguem sob análise e para eles deve haver ainda a participação da Cielo como intermediadora das operações.

Em que pé está?

O "ok" para a realização de transferências pessoa a pessoa dentro das conversas do aplicativo saiu no fim de março, nove meses após o BC ter trancado o caminho do WhatsApp. Em junho passado, o Banco Central barrou a novidade para avaliar eventuais riscos ao funcionamento do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), com possíveis danos irreparáveis à "competição, eficiência e privacidade de dados", segundo a autoridade monetária.

À época, a intenção da bigtech era que a solução de pagamentos do aplicativo fizesse sua estreia mundial no Brasil. No meio tempo, o WhatsApp Pay acabou chegando primeiro ao mercado indiano, onde foram realizadas as fases de teste.

Por aqui, a empresa de tecnologia está aprovada pela autoridade monetária como "iniciadora de pagamentos", modelo de instituição criado pelo BC em resolução de outubro de 2020. Esse tipo de operador "não pode armazenar fundos do usuário, apenas solicita do usuário, sob comando dele, a transferência de fundos de sua instituição para um lojista, por exemplo", explica o principal software architect da Connectcom, Fabio Covolo Mazzo. Ou seja, o WhatsApp poderá ordenar a transferência de valores, mas o dinheiro não passará "por dentro" do aplicativo.

E como funciona o WhatsApp para envio de dinheiro?

Na prática, o app de mensagens vai funcionar como o maestro de uma orquestra. A analogia é do CEO da Matera, Carlos Netto. "Ele vai mexer os pauzinhos dele e o dinheiro vai de um lugar para outro sob seu comando dele. Esse é o iniciador de pagamentos, uma empresa que você autoriza a tirar dinheiro do seu cartão para ir para um terceiro, para você pagar alguém. Então, você estará autorizando o WhatsApp a comandar uma transferência do seu cartão para alguém", completa.

Quando entrar em operação, a funcionalidade financeira vai aparecer na interface do aplicativo entre as ações oferecidas ao usuário dentro de uma conversa. Ao selecionar o ícone do clipe de papel (à direita do campo de digitação), surgirá o menu habitual acrescido da nova opção "Pagamentos". Por ali serão realizadas as transações, de maneira similar ao envio de uma foto, por exemplo: com apenas alguns toques na tela do smartphone. Mas, para isso, os dados do cartão de débito do usuário (ou cartões pré-pagos, também autorizados pelo BC) deverão estar cadastrados previamente junto ao WhatsApp.

Os usuários devem ganhar em agilidade, uma vez que não precisarão entrar no aplicativo do banco para fazer suas transações, agregando mais uma funcionalidade à plataforma já amplamente difundida entre os brasileiros, inclusive no uso comercial – e com mais força após a pandemia de Covid-19.

Expectativa de boa adesão brasileira ao WhatsApp Pay

É justamente a familiaridade do brasileiro com o "Zap" que traz contornos otimistas para a análise sobre a futura adesão local à funcionalidade. São mais de 120 milhões de usuários do WhatsApp no Brasil e quando do anúncio do WhatsApp Pay no país falava-se num potencial imediato para alcançar 51 milhões de consumidores – número que equivale à base de clientes dos primeiros parceiros. Além disso, a facilidade da operação deve ser atrativo importante, a exemplo do que ocorreu com o sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central, o Pix.

Segundo o diretor executivo de soluções da Visa do Brasil, Juliano Manrique, o processo de adoção de pagamentos instantâneos e transferências imediatas em todo o mundo dá um indicativo de como vai ser o cenário na chegada do WhatsApp Pay no Brasil. A avaliação foi feita pelo executivo ao comentar o resultado de uma pesquisa encomendada pela Visa e que revelou que 79% dos titulares de cartões Visa no Brasil têm interesse em utilizar o WhatsApp para a realização de transferências.

No levantamento, realizado em março pela empresa Morning Consult, o público com mais de 65 anos aparece como o mais interessado na solução: 83% afirmaram interesse em usar o WhatsApp para transferências de dinheiro. A relevância dessa faixa etária é percebida como muito positiva pelo executivo da Visa, que acredita no "empoderamento do cliente" como palavras-chave para o momento. "Como usuário, todo mundo tem um grupo da família, a minha avó está lá. Pela usabilidade do WhatsApp, isso ficará muito intuitivo, é um canal em que todo mundo já se sente seguro", completa.

No momento, a Visa não abre números sobre o cenário que é vislumbrado para a nova opção de pagamentos no Brasil que usará a plataforma Visa Direct de transferências rápidas, mas um paralelo de desempenho permite tatear o potencial da novidade. Segundo Manrique, os mercados de América Latina e Caribe em que o Visa Direct foi adotado registraram crescimento de 20 vezes nas transações na comparação com o ano anterior.

Segurança interna, riscos externos

A pesquisa realizada pelo Morning Consult aponta ainda a preocupação do brasileiro com segurança e privacidade de dados. Entre os ouvidos, 83% afirmaram que a segurança é muito importante e 80% destacaram a relevância da privacidade. Segundo a Visa, essas características são foco prioritário da empresa, com a utilização de ferramentas de segurança para toda a cadeia. Dentre os atributos de proteção, será empregada a ferramenta de criptografia Visa Cloud Token, que promove o embaralhamento das credenciais do usuário tornando-as inúteis mesmo se acessadas por fraudadores.

Independentemente das promessas de segurança contra fraudes, os usuários das tecnologias devem estar atentos aos riscos externos à operação, especialmente golpes ligados à chamada engenharia social. São aqueles casos em que criminosos se valem do amplo interesse por algum assunto para espalhar "iscas" na tentativa de capturar dados sigilosos. Movimentações desse tipo costumam ser registradas a partir do envio de links maliciosos nos quais os golpistas se fazem passar por prestadores de serviços contando com uma baixa de guarda do consumidor.

Na avaliação de Fabio Covolo Mazzo, da Connectcom, as fraudes sociais poderão aumentar consideravelmente. "A prática de "sequestrar" um número de WhatsApp e "pedir ajuda" financeira aos contatos poderá crescer devido a essa facilidade", acredita. A funcionalidade direta no aplicativo pode acabar por motivar mais ações por impulso e levar a mais sucesso de golpistas.

A pesquisa revelou ainda conveniência, usabilidade, velocidade, confiança e custo como atributos valorizados na realização de transferências. Para os usuários, as transferências serão gratuitas.

Com informações do Estadão Conteúdo

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