Vista de fora, a fábrica da Whirlpool em Joinville, no Norte de Santa Catarina, pode não parecer tão impressionante assim. No entanto, basta o visitante esbarrar em algum funcionário para ser lembrado de que aquela é a maior planta industrial de refrigeração em todo o mundo – são 300 mil metros quadrados de área construída. O título é dito com orgulho e se soma a outros feitos que a multinacional faz questão de reforçar, como o fato de ter lançado, só no ano passado, 200 produtos diferentes. Dona das marcas Brastemp, Consul e KitchenAid, a Whirlpool se orgulha de ter colocado Joinville em uma posição privilegiada no mapa mundial do setor, recorrendo a um mantra estratégico: inovar de forma genuína e contínua.
Dados de fora da empresa mostram que não se trata de mero marketing. A Whirpool foi líder em pedidos de registros de patentes no Brasil em 2015, conforme levantamento do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi) – à frente das gigantes Petrobras e Vale e de universidades conceituadas, como Unicamp e USP. Em julho deste ano, a companhia ficou em quarto lugar no ranking das 100 empresas mais inovadoras do país, produzido pelo jornal Valor Econômico em parceria com a PwC, atrás apenas da Embraer, 3M e Natura.
Hoje, a Whirlpool classifica 23% de seu portfólio de produtos como inovador, conceito que, neste caso, reúne três critérios: é preciso que a inovação seja de fato percebida pelo consumidor final, que possa ser replicada em outras linhas e, obviamente, agregue valor financeiro para a empresa. Um tripé que é constantemente buscado não só nos 23 laboratórios de pesquisa da Whirlpool no Brasil e no mundo –a companhia é americana – mas em escritórios e linhas de produção, garante o diretor de relações institucionais e comunicação da empresa para a América Latina, Guilherme Marco de Lima.
“O ponto mais importante é que inovação não é um departamento, um pesquisador de jaleco branco. Inovação é um processo que tem que permear a empresa. Quando a empresa entende que todos são responsáveis por isso, você tem um processo de inovação fluído e dinâmico, não só em produtos, mas em modelos de negócio”, reforça Lima.
Parcerias
A disseminação dessa cultura inovadora é importante, mas um empurrão financeiro também é essencial, reconhece o executivo. A Whirlpool tem investido historicamente entre 3% e 4% de seu faturamento anual no Brasil em inovação, um patamar que tem sido respeitado mesmo no momento de crise. “Inovação não é uma atividade de curto prazo. O que estou investindo hoje, não vou colher o fruto amanhã. É um processo de dois, três anos, são ciclos. Então, é fundamental esse investimento contínuo e estável, independente do cenário econômico”, afirma.
Em outra frente, a empresa mantém um relacionamento duradouro com dez instituições de ensino no Brasil e no mundo – com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), são 35 anos de parceria ininterrupta, que incluiu a construção de um laboratório de refrigeração e termodinâmica. A ideia é buscar processos e tecnologias inovadoras que sirvam tanto para a companhia quanto para as universidades. E, no meio do caminho, formar profissionais que podem “mudar de lado” após terem o diploma na mão – atualmente, 40% dos pesquisadores da Whirlpool são egressos dessas parcerias.
Refinamento para linha branca
Além planta de Joinville, a Whirlpool possui mais duas fábricas no país, em Rio Claro (SP) e Manaus (AM), que concentram a produção de outros aparelhos como lavadoras, fogões, microondas e ar-condicionados. O complexo de Joinville fica no Distrito Industrial da cidade e, no total, tem 1 milhão de metros quadrados, reunindo cerca de 5 mil funcionários.
Na última semana, a companhia anunciou a “revitalização” da linha de frigobares Brastemp Retrô, lançada inicialmente em 2007 e fabricada exclusivamente na cidade catarinense. Os pequenos refrigeradores inspirados em produtos das décadas de 50 e 60, batizados de “retrôzinhos”, ganharam novas cores, com texturas metalizadas.
Os frigobares estão entre as principais apostas da companhia para chamar a atenção de consumidores da classe A e exemplificam a estratégia da marca para lançar produtos mais refinados, mesmo que estejam restritos a nichos. “Com a linha retrô conseguimos fugir do aspecto tradicional da linha branca. Esses produtos são desejados não somente pela funcionalidade, mas para serem usados como objetos de decoração. Mais do que pensar em vendas, vemos eles como essenciais para agregar esse refinamento à imagem da marca”, destaca o diretor de Marketing da Whirlpool para a América Latina, Renato Firmiano.
A empresa também tem buscado novos mercados com outros produtos fora da linha de refrigeração. Recentemente, lançou a B.blend, máquinas de bebidas em cápsulas e, em uma estratégia fora do usual para o setor, passou a fornecer purificadores de água em um modelo de assinatura mensal, em que o consumidor contrata a prestação do serviço, em vez de adquirir o produto em si.